São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

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Novo Mercado ainda é imaturo, diz presidente da Sadia

Walter Fontana, dirigente da companhia, afirma que é precisoa perfeiçoar regras do segmento, ao qual a Perdigão pertence

Executivo diz que não cogita compra de outras empresas e avalia que fundos de pensão e Weg agiram como bloco de controle na rival

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A tentativa de comprar a Perdigão foi válida, mas esbarrou no fato de os fundos de pensão terem se comportado como se a companhia estivesse fora do Novo Mercado. A opinião é do presidente da Sadia, Walter Fontana. "Eles atuaram como um bloco de controle", disse ele à Folha, em entrevista concedida na última sexta-feira. Para Fontana, o episódio põe em xeque as regras do Novo Mercado, que tendem a ser reavaliadas e aperfeiçoadas. A seguir, trechos da entrevista do presidente da Sadia.  

FOLHA - Por que a Sadia retirou a oferta pela Perdigão?
WALTER FONTANA
- Devido às reiteradas manifestações de que um grupo de sócios não discutiria a proposta. A oferta, conforme aconteceu, foi de vanguarda, mas dentro dos princípios do Novo Mercado. Isso surpreendeu. Houve emoção em excesso da parte deles.

FOLHA - A Perdigão analisou devidamente a proposta?
FONTANA
- Não. Eles [o grupo de sete fundos de pensão e a Weg, que rejeitaram a oferta] não deram chance ao conjunto dos acionistas para analisá-la. Atuaram como um bloco de controle e reviveram o modelo antigo de gestão da companhia. Foi tudo muito rápido. Não se faz assim, recusar uma oferta em horas e outra em minutos.

FOLHA - O sr. está dizendo que, na prática, a Perdigão não aderiu ao Novo Mercado?
FONTANA
- Os fundos de pensão demonstraram que continuam controlando a Perdigão por meio do acordo de voto. Talvez tivessem a expectativa de um prêmio de controle. Mas a regra estabelecida era a de um prêmio para todos os acionistas.

FOLHA - Na sua avaliação, era válido invocar o acordo de voto?
FONTANA
- Ele é um instrumento de transição para o novo mercado, só que vale por cinco anos. Então, são cinco anos de transição. Da forma como foi usado, não é uma prática preconizada pelo Novo Mercado porque, na verdade, configura um bloco de controle.

FOLHA - A Sadia pretende recorrer, então, à Comissão de Valores Mobiliários?
FONTANA
- Não. Nem cogitamos fazer outra proposta. Eles não querem vender de acordo com o Novo Mercado. Novas ofertas significariam desrespeito aos acionistas da Sadia. E o valor econômico da Perdigão está muito próximo da oferta.

FOLHA - As normas de mercado precisam de aperfeiçoamento?
FONTANA
- Elas precisam ser reanalisadas e, o mais importante, efetivamente praticadas. O aprendizado está na prática. Atualmente há a sensação imediata de que uma empresa que vai ao Novo Mercado tem boa governança. Não é isso que ficou demonstrado. Acionistas precisam saber que falar da boa governança não basta para estar no Novo Mercado. Nesse sentido, demos uma tremenda contribuição para a maturidade do mercado de capitais e para algumas questões que têm sido colocadas como dogmas. A imagem do Novo Mercado deverá passar por muitos questionamentos.

FOLHA - O sr. está frustrado?
FONTANA
- Não. A Sadia tem muitos planos. Estudamos a possibilidade de irmos para o Nível 2 [da Bovespa]. Pode levar meses, ou talvez anos, mas o mais importante já fizemos: firmar o "tag along" das ações ordinárias aos preferencialistas. Nada temos a lamentar. Quem perdeu foi o país, que poderia ter uma grande empresa em um setor estratégico, como a Gerdau na siderurgia, ou a Braskem na petroquímica. Independentemente de quem controlaria essa empresa. Aliás, sempre abrimos a hipótese de gestão compartilhada.

FOLHA - Mas os fundos quiseram entrar no Conselho da Sadia e não conseguiram.
FONTANA
- A Previ [fundo de pensão do Banco do Brasil] e a Petros [da Petrobras] são importantes acionistas da Perdigão e detêm mais de 12% do capital da Sadia. Conforme as regras da nossa empresa, qualquer acionista detentor de ações preferenciais com, no mínimo, 10% do capital podia reivindicar um cargo no Conselho de Administração. Portanto, a Previ era uma candidata. Só que apareceram os fundos estrangeiros, donos de percentual maior do que a Previ, e apresentaram candidato deles, que foi eleito.

FOLHA - A Sadia pensa em comprar outra companhia?
FONTANA
- Não. Vou para a Rússia na próxima semana, para lançar a pedra fundamental do nosso projeto lá em Kaliningrado. É um investimento de US$ 30 milhões, com um sócio local. Também temos projeto bastante grande no Centro-Oeste. Neste ano investiremos R$ 800 milhões e metade disso será destinada a essa região.

FOLHA - Há possibilidade de outras parcerias parecidas com a da Rússia em outros países?
FONTANA
- Sim. Uma empresa que queira ser um "player" global não pode deixar de atuar em parcerias e de ter operação no exterior. Pensamos, evidentemente, que a Argentina é importante, assim como a Europa. Há também o Oriente Médio, onde temos algum expertise.

FOLHA - Existem poucos investidores de longo prazo capitalizados no Brasil e eles são, na maioria, fundos de pensão. Qual é a saída para mudar esse cenário e tornar a economia mais robusta?
FONTANA
- Permitir mais investimentos externos. É uma questão de pano de fundo: menos pirataria, menos fraude, política macroeconômica mais estável.


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