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Novo Mercado ainda é imaturo, diz presidente da Sadia
Walter Fontana, dirigente da companhia, afirma que é precisoa perfeiçoar regras do segmento, ao qual a Perdigão pertence
Executivo diz que não cogita compra de outras empresas e avalia que fundos de pensão e Weg agiram como bloco de controle na rival
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A tentativa de comprar a Perdigão foi válida, mas esbarrou
no fato de os fundos de pensão
terem se comportado como se a
companhia estivesse fora do
Novo Mercado. A opinião é do
presidente da Sadia, Walter
Fontana. "Eles atuaram como
um bloco de controle", disse ele
à Folha, em entrevista concedida na última sexta-feira.
Para Fontana, o episódio põe
em xeque as regras do Novo
Mercado, que tendem a ser
reavaliadas e aperfeiçoadas.
A seguir, trechos da entrevista do presidente da Sadia.
FOLHA - Por que a Sadia retirou a
oferta pela Perdigão?
WALTER FONTANA - Devido às reiteradas manifestações de que
um grupo de sócios não discutiria a proposta. A oferta, conforme aconteceu, foi de vanguarda, mas dentro dos princípios
do Novo Mercado. Isso surpreendeu. Houve emoção em
excesso da parte deles.
FOLHA - A Perdigão analisou devidamente a proposta?
FONTANA - Não. Eles [o grupo
de sete fundos de pensão e a
Weg, que rejeitaram a oferta]
não deram chance ao conjunto
dos acionistas para analisá-la.
Atuaram como um bloco de
controle e reviveram o modelo
antigo de gestão da companhia.
Foi tudo muito rápido. Não se
faz assim, recusar uma oferta
em horas e outra em minutos.
FOLHA - O sr. está dizendo que, na
prática, a Perdigão não aderiu ao
Novo Mercado?
FONTANA - Os fundos de pensão
demonstraram que continuam
controlando a Perdigão por
meio do acordo de voto. Talvez
tivessem a expectativa de um
prêmio de controle. Mas a regra
estabelecida era a de um prêmio para todos os acionistas.
FOLHA - Na sua avaliação, era válido invocar o acordo de voto?
FONTANA - Ele é um instrumento de transição para o novo
mercado, só que vale por cinco
anos. Então, são cinco anos de
transição. Da forma como foi
usado, não é uma prática preconizada pelo Novo Mercado porque, na verdade, configura um
bloco de controle.
FOLHA - A Sadia pretende recorrer,
então, à Comissão de Valores Mobiliários?
FONTANA - Não. Nem cogitamos fazer outra proposta. Eles
não querem vender de acordo
com o Novo Mercado. Novas
ofertas significariam desrespeito aos acionistas da Sadia. E
o valor econômico da Perdigão
está muito próximo da oferta.
FOLHA - As normas de mercado
precisam de aperfeiçoamento?
FONTANA - Elas precisam ser
reanalisadas e, o mais importante, efetivamente praticadas.
O aprendizado está na prática.
Atualmente há a sensação imediata de que uma empresa que
vai ao Novo Mercado tem boa
governança. Não é isso que ficou demonstrado. Acionistas
precisam saber que falar da boa
governança não basta para estar no Novo Mercado.
Nesse sentido, demos uma
tremenda contribuição para a
maturidade do mercado de capitais e para algumas questões
que têm sido colocadas como
dogmas. A imagem do Novo
Mercado deverá passar por
muitos questionamentos.
FOLHA - O sr. está frustrado?
FONTANA - Não. A Sadia tem
muitos planos. Estudamos a
possibilidade de irmos para o
Nível 2 [da Bovespa]. Pode levar meses, ou talvez anos, mas
o mais importante já fizemos:
firmar o "tag along" das ações
ordinárias aos preferencialistas. Nada temos a lamentar.
Quem perdeu foi o país, que
poderia ter uma grande empresa em um setor estratégico, como a Gerdau na siderurgia, ou a
Braskem na petroquímica. Independentemente de quem
controlaria essa empresa.
Aliás, sempre abrimos a hipótese de gestão compartilhada.
FOLHA - Mas os fundos quiseram
entrar no Conselho da Sadia e não
conseguiram.
FONTANA - A Previ [fundo de
pensão do Banco do Brasil] e a
Petros [da Petrobras] são importantes acionistas da Perdigão e detêm mais de 12% do capital da Sadia. Conforme as regras da nossa empresa, qualquer acionista detentor de
ações preferenciais com, no mínimo, 10% do capital podia reivindicar um cargo no Conselho
de Administração. Portanto, a
Previ era uma candidata. Só
que apareceram os fundos estrangeiros, donos de percentual maior do que a Previ, e apresentaram candidato deles,
que foi eleito.
FOLHA - A Sadia pensa em comprar
outra companhia?
FONTANA - Não. Vou para a
Rússia na próxima semana, para lançar a pedra fundamental
do nosso projeto lá em Kaliningrado. É um investimento de
US$ 30 milhões, com um sócio
local. Também temos projeto
bastante grande no Centro-Oeste. Neste ano investiremos
R$ 800 milhões e metade disso
será destinada a essa região.
FOLHA - Há possibilidade de outras
parcerias parecidas com a da Rússia
em outros países?
FONTANA - Sim. Uma empresa
que queira ser um "player" global não pode deixar de atuar em
parcerias e de ter operação no
exterior. Pensamos, evidentemente, que a Argentina é importante, assim como a Europa.
Há também o Oriente Médio,
onde temos algum expertise.
FOLHA - Existem poucos investidores de longo prazo capitalizados no
Brasil e eles são, na maioria, fundos
de pensão. Qual é a saída para mudar esse cenário e tornar a economia
mais robusta?
FONTANA - Permitir mais investimentos externos. É uma
questão de pano de fundo: menos pirataria, menos fraude,
política macroeconômica mais
estável.
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