São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

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Telecom Italia contrata banco para vender participação na BrT

Depois de um mês de negociações, JP Morgan foi a instituição escolhida para cuidar da operação; para analistas, italianos não desistiram de operadora

DA REPORTAGEM LOCAL

A Telecom Italia contratou o banco JP Morgan para cuidar da venda de sua participação na BrT (Brasil Telecom), operadora de telefonia fixa que atende três regiões do país: Sul, Centro-Oeste e Norte.
Depois de passar o último mês em negociação com os demais sócios da BrT, os italianos se convenceram de que o imbróglio envolvendo a concessionária tornou-se grande demais diante dos resultados atuais da empresa.
Segundo a Folha apurou com fontes próximas às conversações, o comando da operadora decidiu que, no Brasil, é melhor concentrar as fichas no segmento de celulares. A Telecom Italia é dona da TIM, segunda maior operadora de telefonia móvel do país.
Oficialmente, a Telecom Italia recusou-se a fazer qualquer manifestação. Por meio de sua assessoria, disse que "não comenta rumores de mercado".
Apesar da contratação do JP Morgan, analistas do setor de telecomunicações ouvidos pela Folha estão longe de ficar convencidos de que a Telecom Italia desistiu realmente da BrT. Para eles, os italianos fazem jogo de cena -mais uma vez.
No ano passado, o então presidente da Telecom Italia na América Latina, Paolo Dal Pino, avisou que não queria mais a Brasil Telecom. A Telecom Italia, contudo, manteve os diálogos para comprar a empresa brasileira.
Na última sexta-feira, depois de ser comandada por Georgio della Setta, a divisão latino-americana da Telecom Italia ganhou novo presidente, Gian Carlo Rocco di Torrepadula, homem de confiança do presidente mundial da companhia, Marco Tronchetti Provera.

Arestas
Caso seja confirmada a desistência da Telecom Italia, a guerra pelo comando da BrT viverá uma guinada -mais uma, aliás, dentre as várias ocorridas desde 2000, quando foi deflagrada a disputa societária tida como a maior na história recente do Brasil.
A BrT foi criada em 1998. Naquele ano, o sistema Telebrás foi fatiado pelo governo tucano e colocado à venda.
O grupo que levou a BrT contava, entre outros, com quatro grandes sócios: fundos de pensão nacionais, Citigroup, Telecom Italia e Opportunity, então responsável por gerir os investimentos do grupo.
Desde o começo da parceria houve arestas entre os sócios. Há seis anos, eles se dividiram. De um lado, fundos de pensão e italianos. De outro, Opportunity e Citi. Em 2003, houve realinhamento dos sócios. Citi e fundos de pensão se tornaram aliados contra Telecom Italia e Opportunity.
Hoje, a BrT é comandada pelas entidades de previdência complementar e pelo Citi.
No entanto, a dança de cadeiras não garantiu a ninguém o controle da BrT. Para tanto, seria preciso formar um bloco com três sócios.

Diferença
As últimas conversas eram uma tentativa de encontrar uma solução para o imbróglio, que resultou em vários processos judiciais no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa.
A idéia era que a Telecom Italia comprasse a parte dos fundos de pensão, do Citi e do Opportunity. Os italianos pretendiam pagar parte em dinheiro e parte em ações de uma empresa resultante da BrT e da TIM.
O que atravancou as conversas? O de sempre: preço. Fundos e Citi pediram um prêmio de controle considerado alto pelos italianos, caso tivessem de estender a oferta aos acionistas donos de ações preferenciais (sem direito a voto).
Os executivos da Telecom Italia concluíram que tinham duas alternativas. A primeira era pagar o que os sócios controladores queriam e arcar, mais tarde, com nova briga judicial -desta vez com os acionistas minoritários. Tendo em vista que há grandes fundos estrangeiros no rol dos preferencialistas, a possibilidade não agradou.
A outra possibilidade era oferecer menos para os controladores. Fizeram isso, mas foram malsucedidos. Fundos e Citi reiteraram que só venderão sua fatia na BrT por um preço avaliado como justo.
Diante do quadro dadaísta, as opções que aparentemente restaram: 1) fundos de pensão compram a parte dos sócios, ficam no comando da BrT, apesar da ordem do governo de diminuir a exposição em renda variável, e mais tarde pulverizam o capital da empresa; 2) Citi adquire a parcela dos demais, contrariando seu discurso vendedor, e pulveriza o capital; 3) Telecom Italia volta atrás da desistência e, a despeito da baixa de suas ações no mercado externo, paga o que seus companheiros querem; 4) todos os sócios colocam suas ações à venda, por meio de uma pulverização ou de um leilão internacional. A conferir.
(JANAÍNA LEITE)


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