São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2008

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Açúcar deve puxar preço do álcool nos próximos meses

Consultoria prevê produção menor de cana neste ano com demanda em alta

No mercado doméstico, venda de carros flex chega a 87,5% do total; exportações devem quebrar recorde, com 4,8 bilhões de litros

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O consumidor pode preparar o bolso para um aumento nos preços do álcool a partir dos próximos meses. Essa alta deverá ocorrer pela conjugação de uma série de fatores.
Do lado da oferta, apenas 13 das 35 novas usinas programadas para entrar em operação neste ano já iniciaram a moagem da cana. Com isso, a moagem do centro-sul, prevista em 495 milhões de toneladas, em maio, deve recuar para 480 milhões neste ano, segundo a consultoria Datagro.
Do lado da demanda, o consumo interno é crescente, com a venda cada vez maior de carros flex, que já atinge 87,5% do total. A demanda externa por álcool também está aquecida, devido às altas do petróleo e do milho, e as exportações brasileiras na safra podem subir para 4,8 bilhões de litros.
O litro do álcool nos postos de São Paulo é vendido em média a R$ 1,315, segundo pesquisa da Folha, o que representa 54% do preço da gasolina (R$ 2,435). Em geral, considera-se vantajosa a utilização do álcool quando o preço não ultrapassa 70% do da gasolina.
A oferta mundial de açúcar, após superávit de 7,9 milhões de toneladas na safra 2007/8, deve registrar déficit de 1,7 milhão na safra 2008/9, segundo a OIC (Organização Internacional do Açúcar).
Além disso, internamente, os custos desses produtos ficam ainda mais caros devido a sérios problemas de logística. Os fretes subiram 24% nesta safra, em reais, em relação à anterior. Em dólares, a alta é de 44%.
Isso tudo tem impacto no mercado e o ajuste entre oferta e demanda vai ser feito pelos preços, afirma Plinio Nastari, presidente da Datagro. Ele acrescenta que o aumento da capacidade de estocar álcool pelas usinas também pode dar um suporte maior aos preços.
O álcool sobe, mas não de forma acentuada. Se subir muito, as usinas elevam a produção, segundo ele.
O Brasil, maior fornecedor mundial, passa a ser referência para os preços externos. No início da semana, os preços do açúcar negociado no mercado interno superavam em 14,5% os do primeiro contrato da Bolsa de commodities de Nova York. Álcool anidro e hidratado superavam em 35% e 17,1% os do açúcar, respectivamente.
Diante desse cenário, o açúcar tem fôlego para subir de 15% a 17% em Nova York. O preço sobe porque não há tanto açúcar no mercado mundial como se previa, afirma Nastari. Os dados sobre o déficit mundial estimados pela OIC podem ser revistos para cima.
Apesar da boa evolução do setor no Brasil, o açúcar não tem sido muito o foco dos produtores. A previsão é de 30 milhões de toneladas neste ano, volume semelhante aos das safras 2007/8 e 2006/7.
A estabilidade na produção de açúcar pode limitar as exportações nacionais. Para Nastari, o Brasil deve colocar 18,8 milhões de toneladas no mercado externo, abaixo dos 19,9 milhões de 2006/7 e dos 19,1 milhões de 2007/8.
Já a produção de álcool segue caminho contrário. Após ter registrado 17,9 bilhões de litros em 2006/7, deve atingir 26,7 bilhões nesta safra 2008/9.
Em busca dos consumidores interno e externo, as usinas do centro-sul do país já estão destinando 61,1% da cana moída para a produção de álcool. Na safra passada, eram 56%. Em 2006/7, apenas 50,5%.

Cana em pé
Das 35 empresas programadas para iniciar operação neste ano, 4 iniciarão moagem apenas no próximo ano. As outras 18, que ainda entram em operação até outubro, terão participação menor na moagem de cana, que se iniciou em abril.
Com isso, Nastari prevê que 32 milhões de toneladas de cana não serão moídas neste ano. "Meio Nordeste", afirmou, uma vez que a moagem das usinas do Nordeste devem somar 62 milhões de toneladas. A previsão inicial era de 17 milhões de toneladas em pé.


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