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Alta do mínimo não interfere na redução da desigualdade
DA SUCURSAL DO RIO
O aumento do salário mínimo deixou de ser um fator de
redução da desigualdade e da
pobreza, segundo o estudo "Redistribuição à brasileira: ingredientes trabalhistas", divulgado ontem pelo Centro de Pesquisas Sociais da FGV.
A pesquisa mostra que houve
uma queda significativa da desigualdade nos últimos anos.
Em março de 2002, os 50%
mais pobres da população nas
seis maiores regiões metropolitanas do país representavam
10,11% da renda. Esse percentual subiu para 12,20% em junho deste ano. Entre os 10%
mais ricos, a apropriação da
renda caiu de 49,12% para
46,89% em igual período.
A queda da desigualdade foi
ainda mais intensa em 2004,
período de forte expansão da
economia nacional e mundial.
De março a julho daquele ano, a
renda média mensal dos 50%
mais pobres passou de R$ 55
para R$ 75. Apesar da redução
das diferenças entre os mais ricos e os mais pobres, o salário
mínimo não teve aumento real
naquele ano: foi reajustado de
R$ 240 para R$ 260 e corrigiu
apenas as perdas da inflação.
O impacto da redução da desigualdade pode ser verificado
pelo comportamento do índice
de Gini, um instrumento criado
para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo, que aponta a diferença entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos.
Ele varia de 0 a 1. Quanto mais
próximo de 1, maior a desigualdade. Em 2004, o indicador
caiu de 0,626 para 0,609 de
abril a julho. A queda mais intensa é atribuída ao aumento
da renda do trabalho. No período, a proporção dos que viviam
abaixo da linha de pobreza caiu
de 23,88% para 19,45%.
"Em 2005 e 2006 verificamos fortes reajustes do salário
mínimo, mas os resultados foram um pouco decepcionantes.
Os indicadores de pobreza e desigualdade baseados em renda
do trabalho não sofreram as reduções verificadas no passado",
afirmou Marcelo Néri, autor do
estudo. O índice de Gini recuou
para 0,6 em junho deste ano.
O salário mínimo foi reajustado em 9% em termos reais
em 2005 e em 13% em 2006. De
acordo com o pesquisador, os
efeitos positivos do aumento
do salário mínimo foram compensados pelo aumento do desemprego e da informalidade
decorrentes dos reajustes.
"O salário mínimo perdeu o
impacto trabalhista na redução
da pobreza. Talvez porque tenha aumentado 100% nos últimos dez anos e agora esteja alto
para produzir os efeitos benéficos que produzia anteriormente, ou seja, os empregadores
talvez demitam com mais freqüência do que no passado."
A pesquisa mostra que os trabalhadores afetados pelo mínimo têm mais chances de perder
o emprego. Essa possibilidade
chegou a 19,13% entre abril e
julho de 2006. Para os demais
trabalhadores, a chance de serem demitidos era de 13,17%.
Para Néri, a redução da desigualdade nos últimos anos está
associada ao crescimento dos
programas de transferência de
renda, como o Bolsa-Família.
"O problema é que o salário mínimo ocupa no imaginário do
brasileiro a idéia de uma grande política social, o que não é
verdade", disse.
(JL)
A pesquisa completa está disponível no endereço
www.fgv.br/cps/pesquisas/pp2/
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