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Extensão da crise ainda é incerta, diz ex-número 2 do FMI
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A economista Anne Krueger,
ex-número 2 do FMI (Fundo
Monetário Internacional) de
2001 a 2006, afirma que ainda é
cedo para saber se a crise financeira que varreu os mercados
na semana passada terminou.
Segundo ela, serão necessárias mais algumas semanas sem
notícias ruins para chegar a essa conclusão. "O ponto principal, por enquanto, é que ninguém sabe exatamente a extensão dos problemas", afirma.
Em sua passagem pelo FMI,
a economista foi uma das responsáveis pela aprovação do
empréstimo recorde de US$ 30
bilhões ao Brasil na crise de
2002, que elevou o valor do dólar a quase R$ 4.
Krueger, que atualmente leciona na Johns Hopkins School
of Advanced International Studies, em Washington, chegou
ontem ao Brasil para participar
de um encontro em Campos do
Jordão promovido pela BM&F.
A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha.
FOLHA - A recente instabilidade financeira foi forte o suficiente para
afetar o melhor cenário econômico
mundial dos últimos 30 anos?
ANNE KRUEGER
- A economia
mundial de fato vem crescendo
muito rápido nos últimos anos
e até agora não há nenhuma
evidência de que esta crise tenha contaminado os setores
produtivos e a economia real
como um todo. Nesse ambiente
econômico saudável, creio que
os bancos centrais estão tomando todas as medidas certas,
garantindo a liquidez. Mas o
ponto principal, por ora, é que
ninguém sabe exatamente a extensão dos problemas. Acho
que ainda vai levar uma ou duas
semanas para sabermos.
FOLHA - Como a sra. vê o Brasil no
meio dessa turbulência? O país está
mais preparado para uma crise?
KRUEGER - Acabo de chegar e
ainda não tive tempo de analisar os detalhes. Mas os mercados emergentes e o Brasil estão
se mantendo firmes, com fundamentos bem mais sólidos do
que das outras vezes em que
passamos por dificuldades na
economia global. O Brasil está
com uma performance muito
boa e tem sido bastante beneficiado pelos preços das commodities, que continuam elevados.
FOLHA - Na semana passada, houve uma redução nos preços. A sra.
acredita que essa tendência de alta
vá continuar?
KRUEGER - Vai depender da intensidade de uma eventual desaceleração da economia mundial. O aumento dos preços tem
sido provocado pela demanda
adicional trazida por mercados
como China e Índia. A recente
queda nos preços [das commodities] pode ser explicada no
momento pela volatilidade no
mercado, mas ainda é cedo para
avaliar de que maneira isso vai
afetar o crescimento de forma
geral. Mesmo que haja uma diminuição nas previsões atuais,
o mundo deve crescer acima de
4%, o que é muito bom.
FOLHA - Em alguns dias, o Banco
Central tomará uma decisão sobre
prosseguir cortando os juros em
meio ponto percentual ou diminuir
a intensidade da redução. O que a
sra. recomendaria ao Banco Central?
KRUEGER - O Brasil tem um histórico de inflação elevada e o
BC tem sido muito bem-sucedido nos últimos três anos em
controlar os preços. O país agora poderá crescer cerca de 5%
neste ano, como resultado dessa política. Creio que o BC continuará muito cuidadoso.
FOLHA - Como a sra. avalia, de forma geral, a inserção do Brasil no
atual cenário econômico mundial?
KRUEGER - Tenho certeza de
que o Brasil ainda tem um caminho a seguir na abertura de
seu comércio. Ainda há muitas
barreiras [comerciais] por aqui.
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