São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Extensão da crise ainda é incerta, diz ex-número 2 do FMI

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A economista Anne Krueger, ex-número 2 do FMI (Fundo Monetário Internacional) de 2001 a 2006, afirma que ainda é cedo para saber se a crise financeira que varreu os mercados na semana passada terminou. Segundo ela, serão necessárias mais algumas semanas sem notícias ruins para chegar a essa conclusão. "O ponto principal, por enquanto, é que ninguém sabe exatamente a extensão dos problemas", afirma.
Em sua passagem pelo FMI, a economista foi uma das responsáveis pela aprovação do empréstimo recorde de US$ 30 bilhões ao Brasil na crise de 2002, que elevou o valor do dólar a quase R$ 4.
Krueger, que atualmente leciona na Johns Hopkins School of Advanced International Studies, em Washington, chegou ontem ao Brasil para participar de um encontro em Campos do Jordão promovido pela BM&F. A seguir, os principais trechos da entrevista à Folha.
 

FOLHA - A recente instabilidade financeira foi forte o suficiente para afetar o melhor cenário econômico mundial dos últimos 30 anos?
ANNE KRUEGER
- A economia mundial de fato vem crescendo muito rápido nos últimos anos e até agora não há nenhuma evidência de que esta crise tenha contaminado os setores produtivos e a economia real como um todo. Nesse ambiente econômico saudável, creio que os bancos centrais estão tomando todas as medidas certas, garantindo a liquidez. Mas o ponto principal, por ora, é que ninguém sabe exatamente a extensão dos problemas. Acho que ainda vai levar uma ou duas semanas para sabermos.

FOLHA - Como a sra. vê o Brasil no meio dessa turbulência? O país está mais preparado para uma crise?
KRUEGER
- Acabo de chegar e ainda não tive tempo de analisar os detalhes. Mas os mercados emergentes e o Brasil estão se mantendo firmes, com fundamentos bem mais sólidos do que das outras vezes em que passamos por dificuldades na economia global. O Brasil está com uma performance muito boa e tem sido bastante beneficiado pelos preços das commodities, que continuam elevados.

FOLHA - Na semana passada, houve uma redução nos preços. A sra. acredita que essa tendência de alta vá continuar?
KRUEGER
- Vai depender da intensidade de uma eventual desaceleração da economia mundial. O aumento dos preços tem sido provocado pela demanda adicional trazida por mercados como China e Índia. A recente queda nos preços [das commodities] pode ser explicada no momento pela volatilidade no mercado, mas ainda é cedo para avaliar de que maneira isso vai afetar o crescimento de forma geral. Mesmo que haja uma diminuição nas previsões atuais, o mundo deve crescer acima de 4%, o que é muito bom.

FOLHA - Em alguns dias, o Banco Central tomará uma decisão sobre prosseguir cortando os juros em meio ponto percentual ou diminuir a intensidade da redução. O que a sra. recomendaria ao Banco Central?
KRUEGER
- O Brasil tem um histórico de inflação elevada e o BC tem sido muito bem-sucedido nos últimos três anos em controlar os preços. O país agora poderá crescer cerca de 5% neste ano, como resultado dessa política. Creio que o BC continuará muito cuidadoso.

FOLHA - Como a sra. avalia, de forma geral, a inserção do Brasil no atual cenário econômico mundial?
KRUEGER
- Tenho certeza de que o Brasil ainda tem um caminho a seguir na abertura de seu comércio. Ainda há muitas barreiras [comerciais] por aqui.

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.