São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

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GLOBALIZAÇÃO

Estudo da Fiesp com 43 países mostra que economia nacional ainda está entre as últimas colocadas; EUA lideram

Brasil não evolui em competitividade

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A competitividade brasileira continua baixa, mostra estudo divulgado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A pesquisa analisou os dados de 43 países que, juntos, representam 95% da economia mundial. O Brasil ficou quase na lanterninha, na 39ª posição do ranking elaborado pela Fiesp.
Os 43 países foram divididos em quatro grupos. O de produtividade elevada é liderado por EUA, o primeiro do ranking. A Dinamarca, no 12º lugar, lidera o grupo considerado de competitividade satisfatória. Países como Itália, China, Portugal, Rússia e Argentina têm competitividade média. Por fim, o grupo do qual faz parte o Brasil inclui países como Chile (34º lugar) e México (36º).
Atrapalham o desempenho brasileiro, mostra o estudo, a política fiscal e o alto custo do capital brasileiros. O Brasil fica atrás dos demais países em uma série de quesitos, mas, sugerem os dados, os juros nas alturas e a carga tributária são os dois maiores problemas que dificultam a melhora da competitividade do país.

Juros altos
Os juros básicos no Brasil devem ficar em 18,70% neste ano. Mesmo quando comparado ao dos países de baixa competitividade, ele é muito alto. Na média, os juros do grupo de países com mais baixa competitividade ficam em 11,1%. A média, claro, ainda é influenciada pelos altos juros brasileiros. Nos países com elevada competitividade, os juros giram em torno de 1,28%.
"Com esse custo de capital, é impossível crescer", diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor da Fiesp. O ranking, lembra ele, é elaborado considerando-se 83 variáveis. A pesquisa permite simular o quanto a melhora nos indicadores brasileiros poderia ajudar o país a crescer mais.
A simulação também sugere o quanto o Brasil ainda está para trás, mesmo comparado a outros países emergentes. Se os indicadores brasileiros se aproximassem daqueles observados nesses países, o Brasil conseguiria, até 2020, chegar a uma renda per capita de US$ 14,9 mil por ano. Se não houver mudança, o país chega lá com renda de US$ 11,7 mil.
Não seriam reformas radicais, diz Coelho. A simulação considera inflação mais baixa, juros médios e disponibilidade de crédito em níveis próximos aos do mundo em desenvolvimento, redução de gastos públicos. Em geral, todas as variáveis foram ajustadas para níveis já existentes em países com nível de desenvolvimento parecido com o brasileiro. "Sem atacar de frente esses problemas, dificilmente cresceremos de forma sustentável", completa o diretor da Fiesp.
O ranking elaborado pela Fiesp começou a ser calculado para o ano de 1997. Desde lá, o país apenas oscilou entre a 38ª e a 41ª posições. Desde 2001 o país ocupa o 39º lugar no ranking. O que, na avaliação de Coelho, pode ser um problema. "É um alerta. Parece que tivemos dois anos excepcionais. Parece que nós estamos andando rápido. Mas os outros países estão indo ainda mais rápido."
A melhora da competitividade necessariamente levaria a uma melhora nas condições de vida dos brasileiros, sugere o estudo. O índice de competitividade tem correlação forte com indicadores como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), a renda per capita e a taxa de crescimento.
Assim, quanto mais elevada a competitividade, maiores tendem a ser o IDH, a renda per capita e as taxas de crescimento de um país. Afinal, o índice é justamente composto por variáveis que, quando melhoram, aumentam o potencial de crescimento de um país. São variáveis como o nível educacional, o investimento, o grau de abertura externa do país, as condições macroeconômicas.
O estudo da Fiesp não é comparável com o do Fórum Econômico Mundial, divulgado todos os anos. Em 2003, divulgou o Fórum no ano passado, o Brasil havia passado da 54ª posição para a 57ª.
O estudo do Fórum sempre inclui mais países, enquanto o da Fiesp considera apenas as mesmas 43 economias. A Fiesp só considera dados quantitativos, ao passo que o ranking do Fórum utiliza pesquisas qualitativas, como entrevistas a respeito da percepção de investidores locais e estrangeiros sobre o país.


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