|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Só metade dos pacotes já entrou em vigor
Das 18 medidas em vários setores anunciadas pelo governo nos últimos dois meses e meio, apenas 8 saíram do papel
Demora na regulamentação das mudanças faz com
que o ganho maior dos
anúncios até agora seja
mais político que econômico
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Guido Mantega
(Fazenda) ocupou boa parte de
seu tempo nos últimos dois
meses e meio com a preparação
e o anúncio de pacotes para estimular a economia. Somadas,
foram 18 medidas distribuídas
em três pacotes nos últimos 49
dias. Mas, apesar do empenho
em demonstrar uma alta produção, a realidade é que a equipe econômica ainda não conseguiu tirar do papel as principais
medidas anunciadas.
Das 18 novidades que integraram os últimos pacotes,
apenas oito entraram em vigor.
As outras dez não passam até
agora de promessas. Entre as
mudanças que estão na gaveta,
há assuntos importantes como
a permissão para que as empresas exportadoras deixem até
30% de sua receita em contas
no exterior e a definição da taxa
de juros dos empréstimos habitacionais prefixados.
Essa demora na regulamentação dos pacotes faz com que o
ganho maior desses anúncios
até agora seja mais político do
que econômico. O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, por
exemplo, não perdeu o anúncio
do último pacote, direcionado à
habitação. Seu programa no
horário eleitoral gratuito no
mesmo dia também tratou da
questão da moradia.
Enquanto isso, os exportadores aguardam que a Receita Federal divulgue as regras para a
declaração da conta e do uso do
dinheiro que ficará no exterior.
Além disso, querem saber com
detalhes o grau de acesso que o
fisco terá às movimentações
feitas fora do país.
Compasso de espera
"A orientação que estamos
dando aos nossos clientes é para que esperem até a regulamentação completa", diz o advogado Luiz Assis, do escritório
Levy & Salomão.
Os bancos estão ainda mais
conservadores. O Unibanco
continua fazendo o registro das
operações de câmbio segundo
as regras da legislação anterior.
O Itaú informa que nenhum
cliente usou a prerrogativa de
deixar os dólares fora do país.
O Banco do Brasil, líder no
mercado de câmbio voltado a
exportações, diz que as empresas estão em compasso de espera. "Há interesse das empresas
em usar as novas regras. Mas
estão aguardando", explica o
diretor de Comércio Exterior
do BB, Nilo Panazzolo.
Das seis medidas do chamado pacote cambial, as únicas em
vigor são a compra em reais nos
free-shops dos aeroportos e a
eliminação dos contratos de
câmbio nas compras de moeda
estrangeira de até US$ 3.000.
Basta olhar os números do
BC para ver que o pacote até
agora teve impacto nulo. Os dados do câmbio de agosto, mês
em que a medida entrou em vigor, mostram que os exportadores, em vez de reduzir o volume de dólares entrando no país,
aumentaram. Eles trouxeram
US$ 12,379 bilhões para o país,
4,6% a mais do que em julho.
Não há uma só palavra do governo sobre o que devem fazer
as empresas que transformaram empréstimos em moeda
estrangeira em investimentos,
mas não contabilizaram esses
recursos. "Já tivemos consultas
sobre a regularização do chamado capital contaminado, e a
única resposta que pudemos
dar foi que ninguém sabe ainda
o que vai acontecer", diz o advogado Carlos Mamanna, do
escritório Braga & Marafon.
Insegurança jurídica
A falta de regulamentação
dos pacotes atinge também as
medidas para reduzir os juros
nos empréstimos bancários e
para o setor de habitação. No
primeiro caso, apenas a redução das contribuições dos bancos ao Fundo Garantidor de
Crédito já está em vigor.
A outra medida que o governo aposta para estimular a concorrência e a queda do juro, que
é a facilidade para que o trabalhador mude de banco, só entra
em vigor em 2007. Além disso,
deixa de fora os funcionários de
empresas que tenham convênios com bancos pagadores de
suas folhas de pagamento.
Já no pacote habitacional, o
governo editou uma medida
provisória que muda os principais pontos da legislação. O
problema é que ficou para depois a definição do juro a ser
usado nos empréstimos com
prestação fixa. Na prática, isso
inviabiliza as novas operações.
Um outro ponto de dúvida
nos pacotes é o uso de MPs para
dar validade imediata aos poucos pontos que já foram regulamentados. Isso quer dizer que o
governo terá que negociar com
os parlamentares a aprovação
das mudanças. Além disso, se
não forem votadas em até 120
dias, as MPs perdem a validade.
É pouco provável que os parlamentares derrubem as medidas, mas isso não quer dizer
que o governo, com sua base
política desorganizada, não tenha que aceitar mudanças para
viabilizar a aprovação.
Colaborou NEY HAYASHI DA CRUZ,
da Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Gesner Oliveira: Poder e corrupção Próximo Texto: Equipe econômica promete acelerar regulamentações na próxima semana Índice
|