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IPOs levam à formalização de empresas
Construção civil e agronegócio lideram processo de "limpar a casa" para lançar ações em Bolsa; arrecadação e emprego formal crescem
Nos últimos três anos, salto
é de R$ 3,6 bi para R$ 23,6 bi
na captação com ações; IPOs
crescem de 7 a 46, a maioria
na construção e agronegócio
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A onda de abertura de capital
e lançamento de ações vem trazendo rapidamente para a formalidade setores tradicionalmente menos organizados do
ponto de vista tributário e na
contratação de mão-de-obra.
As áreas de construção civil e
agronegócio e pecuária lideram
essa tendência. Até agosto, os
dois setores somados foram
responsáveis pela maioria
(52,2%) dos IPOs (oferta pública inicial de ações, na sigla em
inglês) registrados na Bovespa.
Dos 46 IPOs do ano (até julho), 17 foram feitos pelo setor
de construção e incorporação
imobiliária e 7 por empresas do
agronegócio.
Empresários dessas áreas admitem que há uma corrida para
"fazer uma faxina na casa". Para realizar um IPO, que visa
vender ações no mercado e captar dinheiro a custo baixo, as
empresas têm de apresentar
balanços em ordem dos três
anos anteriores à realização da
oferta de seus papéis na Bolsa.
A formalização atinge não só
quem já fez o IPO, mas os que
se preparam para isso. Nos últimos anos, houve um salto de R$
3,6 bilhões (2004) para R$ 23,6
bilhões (até agosto de 2007) na
captação de dinheiro com lançamentos iniciais de ações. Já o
número de IPOs cresceu de 7
para 46 no mesmo período.
Na construção, a formalização ocorre não apenas por conta dos IPOs, mas pela reabertura em massa do crédito para
empresas do setor, que exige
mais formalização. O ano deve
fechar com salto de 73% no volume de financiamentos com
recursos da poupança -de R$
9,3 bilhões para R$ 16 bilhões.
O setor de construção é um
dos que vêm apresentando
maiores taxas de crescimento
do emprego formal, com alta de
7,2% nos últimos 12 meses.
Cerca de 124 mil empregos
formais foram criados no período. Quase 60% dos mais de 5
milhões na construção, porém,
ainda seguem informais.
A construção e o agronegócio, principalmente na área de
abate de bovinos, também vêm
registrando aumentos significativos na arrecadação tributária, acima do crescimento do
PIB setorial, o que indicaria aumento da formalização.
Enquanto o PIB da construção civil vem crescendo em torno de 6% no acumulado de 12
meses, a arrecadação tributária
com a edificação de novos prédios cresceu 33,5% entre 2005
e 2006. Mantida a tendência de
janeiro a agosto de 2007, o aumento pode atingir 80% neste
ano sobre o ano passado.
A arrecadação da Receita
com o abate e fabricação de
produtos de carne aumentou
26% em 2006 e mantém projeção de crescimento na casa dos
dois dígitos neste ano.
Cesário Ramalho da Silva,
presidente da SRB (Sociedade
Rural Brasileira), afirma que o
setor do qual participa sempre
foi "extremamente e historicamente informal" e que há "forte
profissionalização" em curso
por conta dos IPOs.
O processo também tem ajudado a resolver disputas familiares em um setor pouco profissionalizado e confuso do
ponto de vista societário. Em
2007, três dos maiores frigoríficos (JBS-Friboi, Marfrig e Minerva) realizaram IPOs.
"As exigências não são poucas, e as empresas estão dançando miúdo para pôr as contas
em ordem. A verdade é que ninguém quer ser informal", diz
Eduardo Zaidan, diretor de
Economia do SindusCon-SP
(reúne o setor da construção).
Ricardo Becker, sócio e advogado da área tributária do escritório Pinheiro Neto, afirma
que, além da construção e do
agronegócio, a "faxina" nas empresas começa a atingir também o setor educacional.
"Há muita gente pensando
no futuro e começando o processo de limpeza agora", diz.
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