São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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IPOs levam à formalização de empresas

Construção civil e agronegócio lideram processo de "limpar a casa" para lançar ações em Bolsa; arrecadação e emprego formal crescem

Nos últimos três anos, salto é de R$ 3,6 bi para R$ 23,6 bi na captação com ações; IPOs crescem de 7 a 46, a maioria na construção e agronegócio

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A onda de abertura de capital e lançamento de ações vem trazendo rapidamente para a formalidade setores tradicionalmente menos organizados do ponto de vista tributário e na contratação de mão-de-obra.
As áreas de construção civil e agronegócio e pecuária lideram essa tendência. Até agosto, os dois setores somados foram responsáveis pela maioria (52,2%) dos IPOs (oferta pública inicial de ações, na sigla em inglês) registrados na Bovespa.
Dos 46 IPOs do ano (até julho), 17 foram feitos pelo setor de construção e incorporação imobiliária e 7 por empresas do agronegócio.
Empresários dessas áreas admitem que há uma corrida para "fazer uma faxina na casa". Para realizar um IPO, que visa vender ações no mercado e captar dinheiro a custo baixo, as empresas têm de apresentar balanços em ordem dos três anos anteriores à realização da oferta de seus papéis na Bolsa.
A formalização atinge não só quem já fez o IPO, mas os que se preparam para isso. Nos últimos anos, houve um salto de R$ 3,6 bilhões (2004) para R$ 23,6 bilhões (até agosto de 2007) na captação de dinheiro com lançamentos iniciais de ações. Já o número de IPOs cresceu de 7 para 46 no mesmo período.
Na construção, a formalização ocorre não apenas por conta dos IPOs, mas pela reabertura em massa do crédito para empresas do setor, que exige mais formalização. O ano deve fechar com salto de 73% no volume de financiamentos com recursos da poupança -de R$ 9,3 bilhões para R$ 16 bilhões.
O setor de construção é um dos que vêm apresentando maiores taxas de crescimento do emprego formal, com alta de 7,2% nos últimos 12 meses.
Cerca de 124 mil empregos formais foram criados no período. Quase 60% dos mais de 5 milhões na construção, porém, ainda seguem informais.
A construção e o agronegócio, principalmente na área de abate de bovinos, também vêm registrando aumentos significativos na arrecadação tributária, acima do crescimento do PIB setorial, o que indicaria aumento da formalização.
Enquanto o PIB da construção civil vem crescendo em torno de 6% no acumulado de 12 meses, a arrecadação tributária com a edificação de novos prédios cresceu 33,5% entre 2005 e 2006. Mantida a tendência de janeiro a agosto de 2007, o aumento pode atingir 80% neste ano sobre o ano passado.
A arrecadação da Receita com o abate e fabricação de produtos de carne aumentou 26% em 2006 e mantém projeção de crescimento na casa dos dois dígitos neste ano.
Cesário Ramalho da Silva, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), afirma que o setor do qual participa sempre foi "extremamente e historicamente informal" e que há "forte profissionalização" em curso por conta dos IPOs.
O processo também tem ajudado a resolver disputas familiares em um setor pouco profissionalizado e confuso do ponto de vista societário. Em 2007, três dos maiores frigoríficos (JBS-Friboi, Marfrig e Minerva) realizaram IPOs.
"As exigências não são poucas, e as empresas estão dançando miúdo para pôr as contas em ordem. A verdade é que ninguém quer ser informal", diz Eduardo Zaidan, diretor de Economia do SindusCon-SP (reúne o setor da construção).
Ricardo Becker, sócio e advogado da área tributária do escritório Pinheiro Neto, afirma que, além da construção e do agronegócio, a "faxina" nas empresas começa a atingir também o setor educacional.
"Há muita gente pensando no futuro e começando o processo de limpeza agora", diz.

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