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"Governo confunde interesses públicos com privados", diz especialista em Fed
DE WASHINGTON
Um nome lidera o coro dos
descontentes com as mudanças
pelas quais o Fed (Federal Reserve), movido pela premência
do mercado, vem passando. É
Allan Meltzer, 80, professor de
política econômica da universidade Carnegie Mellon, em
Pittsburgh (Pensilvânia), considerado o maior estudioso do
BC americano, autor da frase
"capitalismo sem quebra é como religião sem pecado -simplesmente não funciona".
Logo que detalhes do plano
do governo vieram à tona, ele
definiu a proposta como "social-democracia piorada". Desde então, o veterano economista vem soltando petardos em
direção à equipe econômica de
George W. Bush. A Folha entrevistou Meltzer sobre a crise
em troca de e-mails ao longo do
fim de semana. Leia suas respostas.
(SÉRGIO DÁVILA)
FOLHA - O sr. disse que as ações recentes do Fed são "inéditas, o banco
nunca fez isso". O sr. vê o Fed assumindo um novo papel, mais interventor?
ALLAN MELTZER - Sim, o Fed já assumiu um novo papel. No passado, cabia ao Congresso e ao
Departamento do Tesouro tomar as ações necessárias. O Fed
nunca foi um ator importante
nessas situações. Agora, o banco sacrificou uma grande parte
de sua independência. E eu não
vejo a instituição pensando em
sobre como fará para voltar ao
papel tradicional que deve ter
na economia nem em como vai
sanar suas próprias finanças.
FOLHA - O sr. acompanha crises
econômicas há mais de meio século.
Essa é mesmo a pior, em sua opinião?
MELTZER - Não. Essa crise não é
a crise de 1929 revisitada. Em
1932, a economia tinha um
crescimento negativo profundo e 25% de desemprego. Agora, nós estamos num momento
de crescimento positivo e desemprego de 6,1%. Na Grande
Depressão, havia poucas salvaguardas ao mercado financeiro.
Agora, existem várias. E ninguém espera de verdade uma
queda importante do crescimento da economia norte-americana no futuro.
Essa bobagem sobre depressão econômica vem dos bancos
e das instituições financeiras
de Wall Street que estão tendo
grandes perdas. Eles gritam e
gritam até alguém cair na conversa e os escutar. Eu já vi esse
processo ocorrer várias vezes
nos últimos 50 anos. Em poucas delas os gritos resultaram
em desastres. Na maioria, nada
mais grave aconteceu.
Em 1970, na crise da Penn
Central [empresa ferroviária
que protagonizou a então
maior concordata da história
dos EUA], o Fed não fez nenhuma operação resgate ao sistema. Nada aconteceu. Em 1987,
na queda das Bolsas, o banco
abriu sua janela de redesconto,
mas não resgatou ninguém. Na
semana passada, o Lehman
Brothers quebrou. Em poucos
dias, os principais ativos tinham sido vendidos.
O governo e o Fed estão confundindo interesses privados
com interesses públicos. E isso
é um grande erro.
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