São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

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Bolsa chama corretoras para discutir risco

Reunião aconteceu após o fundo GWI FIA ter tido problema para cumprir pagamento de garantias na Bolsa paulista

Fundos e corretoras tomaram prejuízo duplo ao apostar na queda da Bolsa e na recuperação do preço de ações de empresas médias


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A BM&FBovespa chamou algumas entidades do mercado para discutir o risco crescente assumido por alguns fundos de investimento e por corretoras independentes, não ligadas a grandes bancos, em meio à forte volatilidade na última semana. Vários desses fundos e corretoras estavam fazendo posições muito alavancadas, seja com dinheiro emprestado, seja com a possibilidade de que eventuais perdas pudessem superar seu patrimônio.
A estratégia desses investidores contrastava com a opção conservadora da maioria dos gestores dos fundos de hedge brasileiros -os multimercados-, que desde agosto priorizam o investimento em títulos pós-fixados e adotaram estratégias para travar perdas.
A reunião aconteceu na quinta-feira, após as perdas de fundos como o GWI FIA, entre outros, que chegou a levar um tombo de mais de 30% em sua cota na véspera. Até a sexta-feira, o fundo tinha perdas acumuladas de 41,18% no mês e de 50,12% no ano.
Esses fundos e suas corretoras teriam tomado prejuízos por conta de duas apostas corriqueiras nos últimos meses, mas que na semana passada se mostraram equivocadas.
Uma das apostas era que as ações de pequenas e médias empresas tinham atingido um preço tão baixo que poderiam ter alguma recuperação nos próximos dias. Por outro lado, como havia uma grande chance dessa hipótese de recuperação não se comprovar, esses mesmos fundos também apostavam na queda da Bolsa.
Por essa estratégia, o equilíbrio entre os dois cenários -recuperação ou aprofundamento da crise- possibilitaria algum ganho, mas limitaria perdas potenciais desses fundos.
Só que a recuperação do mercado na quinta, com a perspectiva de resgate do governo dos EUA aos títulos podres, teve um efeito surpresa: elevou o Ibovespa, rapidamente, mas não recuperou o valor das ações das empresas médias e pequenas.
O resultado foi o pior cenário para esses fundos: perderam tanto na aposta de alta das ações quanto na possibilidade de queda da Bolsa -por isso, as perdas ficaram acima do mercado. Gerido pela GWI Asset, uma gestora independente com sócios sul-coreanos, o fundo GWI FIA teria tido problemas até para depositar margens de garantia que evitam perdas maiores e para emprestar dinheiro de bancos para liquidar suas posições na Bolsa.
Para solucionar o problema, o fundo teve de vender um grande lote de ações da Usiminas, entre outros papéis, que tinha em carteira. O problema foi solucionado na sexta, quando o fundo registrou um ganho de 47,34% -o Ibovespa subiu 9,57% no mesmo dia.
O fundo tem capital de R$ 160,09 milhões e só admite investidores qualificados, com capital mínimo de R$ 250 mil e que estejam dispostos a esperar por um período de dois anos para fazer saques.
Procurados pela Folha, a BMF Bovespa afirmou que não comenta assuntos ligados à liquidação de contratos. A GWI Asset e o Mellon BNY, administrador do fundo GWI, preferiram não se manifestar sobre o problema na Bolsa.


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