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Solidez na crise traz nova chancela ao país
Agência americana Moody's é última entre as 3 grandes classificadoras de risco a conceder grau de investimento ao Brasil
Melhora da nota é creditada à resistência à crise, mas situação fiscal do país continua exigindo cuidados, avaliam especialistas
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Submetido a um último
grande teste -a maior crise internacional em 80 anos-, o
Brasil mostrou que, de fato, a
sua economia mudou de nível.
Foi esse entendimento que
levou a agência de classificação
de risco americana Moody's a
conceder ao país, ontem, o chamado grau de investimento.
Nações que possuem tal selo
são consideradas destino seguro para investimentos, pois têm
boas condições de honrar suas
dívidas. "As turbulências deixaram claro quão resiliente é a
economia brasileira e evidenciaram a sua capacidade de absorver choques significativos",
afirmou Mauro Leos, analista-chefe de crédito da Moody's para a América Latina. "É notável,
ainda, o fato de que o seu desempenho tenha sido melhor
do que o das outras nações."
A decisão da Moody's vem
um ano e quatro meses depois
das primeiras elevações da nota
do país para esse patamar mais
alto da escala, que significa
grande confiabilidade, feitas
pelas agências Standard &
Poor's e Fitch Ratings. Naquele
momento, o pior da crise ainda
estava por acontecer.
O fato de a última das grandes classificadoras ter resolvido tomar uma atitude não quer
dizer, entretanto, que a razão
pela qual não acompanhou os
seus pares em maio do ano passado tenha sido deixada de lado. A Moody's e as demais
agências continuam assinalando que a situação fiscal do país
-a arrecadação e os gastos do
governo federal- preocupa.
"As contas públicas têm dois
lados: o tamanho da dívida em
relação ao PIB [Produto Interno Bruto] e a sua estrutura, ou
seja, qual é a parcela de débitos
em moeda estrangeira, em
quanto tempo os compromissos expiram. No passado, como
a parte em dólar e a de vencimento no curto prazo eram
maiores, o país era mais vulnerável. Os dois aspectos são importantes, porém é o segundo
que representa o maior risco
em tempos de uma crise global
como a que vivemos", afirmou
Leos.
Sobreviver à tempestade é
uma coisa. Progredir é outra,
frisam os especialistas.
Em meados de 2008, em entrevista à Folha, o professor
Aldo Musacchio, da Harvard
Business School, disse não estar convencido de que a situação do país era tão positiva
quanto as recentes elevações
para grau de investimento faziam crer.
Agora, ele admite ter se surpreendido com a pujança do
mercado interno brasileiro,
que ajudou a sustentar a atividade econômica quando a demanda externa estava fraca,
mas ressalva que as reformas
tributária, trabalhista e fiscal
são essenciais para o país avançar: "Em matéria de administração dos seus gastos, a nota
do governo Luiz Inácio Lula da
Silva não é boa. Esse ponto diz
respeito ao planejamento da
nação para o futuro e segue
sendo um problema que deve
atrapalhar o seu progresso".
Risco fiscal
A Moody's colocou ainda a
nota do país em perspectiva positiva: pode ser mais uma vez
aumentada. "Não ocorrerá nenhuma modificação pelo menos até 2011. Até lá, queremos
acompanhar com muita atenção o que o governo vai fazer
quanto à situação fiscal. A elevação da nota não deve ser, portanto, uma desculpa para que
relaxe", disse Leos.
Devido à medida da Moody's,
anunciada no final da tarde, a
Bolsa de São Paulo, que vinha
em alta, chegou a superar os 62
mil pontos. O expediente no
mercado de câmbio já estava
encerrado -o dólar havia fechado abaixo de R$ 1,80 pela
primeira vez em 12 meses. Os
analistas, apesar de julgarem
importante a notícia, avaliam
que o mercado financeiro não
deve comemorar demais porque já a esperava.
No entanto, os especialistas
preveem que a moeda brasileira sofrerá valorizações adicionais por conta da nova classificação, pois os investidores internacionais devem trazer mais
recursos para o país.
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, afirmou que o grau de investimento confirma o que o governo
vem dizendo em relação à resistência do Brasil.
Ele também comentou o pedido da agência de mais cuidados no lado fiscal. "O que a
Moody's diz com isso é que espera que a trajetória de superavit do país seja retomada, o que,
aliás, já foi anunciado pelo governo", afirmou.
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