São Paulo, quarta-feira, 23 de setembro de 2009

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Solidez na crise traz nova chancela ao país

Agência americana Moody's é última entre as 3 grandes classificadoras de risco a conceder grau de investimento ao Brasil

Melhora da nota é creditada à resistência à crise, mas situação fiscal do país continua exigindo cuidados, avaliam especialistas


DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Submetido a um último grande teste -a maior crise internacional em 80 anos-, o Brasil mostrou que, de fato, a sua economia mudou de nível.
Foi esse entendimento que levou a agência de classificação de risco americana Moody's a conceder ao país, ontem, o chamado grau de investimento.
Nações que possuem tal selo são consideradas destino seguro para investimentos, pois têm boas condições de honrar suas dívidas. "As turbulências deixaram claro quão resiliente é a economia brasileira e evidenciaram a sua capacidade de absorver choques significativos", afirmou Mauro Leos, analista-chefe de crédito da Moody's para a América Latina. "É notável, ainda, o fato de que o seu desempenho tenha sido melhor do que o das outras nações."
A decisão da Moody's vem um ano e quatro meses depois das primeiras elevações da nota do país para esse patamar mais alto da escala, que significa grande confiabilidade, feitas pelas agências Standard & Poor's e Fitch Ratings. Naquele momento, o pior da crise ainda estava por acontecer.
O fato de a última das grandes classificadoras ter resolvido tomar uma atitude não quer dizer, entretanto, que a razão pela qual não acompanhou os seus pares em maio do ano passado tenha sido deixada de lado. A Moody's e as demais agências continuam assinalando que a situação fiscal do país -a arrecadação e os gastos do governo federal- preocupa.
"As contas públicas têm dois lados: o tamanho da dívida em relação ao PIB [Produto Interno Bruto] e a sua estrutura, ou seja, qual é a parcela de débitos em moeda estrangeira, em quanto tempo os compromissos expiram. No passado, como a parte em dólar e a de vencimento no curto prazo eram maiores, o país era mais vulnerável. Os dois aspectos são importantes, porém é o segundo que representa o maior risco em tempos de uma crise global como a que vivemos", afirmou Leos.
Sobreviver à tempestade é uma coisa. Progredir é outra, frisam os especialistas.
Em meados de 2008, em entrevista à Folha, o professor Aldo Musacchio, da Harvard Business School, disse não estar convencido de que a situação do país era tão positiva quanto as recentes elevações para grau de investimento faziam crer.
Agora, ele admite ter se surpreendido com a pujança do mercado interno brasileiro, que ajudou a sustentar a atividade econômica quando a demanda externa estava fraca, mas ressalva que as reformas tributária, trabalhista e fiscal são essenciais para o país avançar: "Em matéria de administração dos seus gastos, a nota do governo Luiz Inácio Lula da Silva não é boa. Esse ponto diz respeito ao planejamento da nação para o futuro e segue sendo um problema que deve atrapalhar o seu progresso".

Risco fiscal
A Moody's colocou ainda a nota do país em perspectiva positiva: pode ser mais uma vez aumentada. "Não ocorrerá nenhuma modificação pelo menos até 2011. Até lá, queremos acompanhar com muita atenção o que o governo vai fazer quanto à situação fiscal. A elevação da nota não deve ser, portanto, uma desculpa para que relaxe", disse Leos.
Devido à medida da Moody's, anunciada no final da tarde, a Bolsa de São Paulo, que vinha em alta, chegou a superar os 62 mil pontos. O expediente no mercado de câmbio já estava encerrado -o dólar havia fechado abaixo de R$ 1,80 pela primeira vez em 12 meses. Os analistas, apesar de julgarem importante a notícia, avaliam que o mercado financeiro não deve comemorar demais porque já a esperava.
No entanto, os especialistas preveem que a moeda brasileira sofrerá valorizações adicionais por conta da nova classificação, pois os investidores internacionais devem trazer mais recursos para o país.
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, afirmou que o grau de investimento confirma o que o governo vem dizendo em relação à resistência do Brasil.
Ele também comentou o pedido da agência de mais cuidados no lado fiscal. "O que a Moody's diz com isso é que espera que a trajetória de superavit do país seja retomada, o que, aliás, já foi anunciado pelo governo", afirmou.


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