São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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BENJAMIN STEINBRUCH

Os juros, o medo e a Copa


Além de atrair turistas (e dólares), eventos como o Pan e a Copa do Mundo estimulam obras públicas

POR INSTINTO, gostaria de escrever hoje sobre a lamentável decisão do Banco Central, tomada na semana passada, de interromper a redução da taxa básica de juros. Não há nenhuma razão objetiva para que a Selic permaneça mais 45 dias em 11,25%, ainda a segunda taxa real de juros mais alta do mundo. A redução de 0,25 ponto, que já seria modesta, manteria pelo menos a expectativa de que caminhamos para uma taxa referencial civilizada.
A decisão revela atitude medrosa diante do crescimento da economia, que mal chega aos 5%. Seria útil que os diretores do BC tirassem uns dias para percorrer alguns municípios do interior, tradicionais exportadores de manufaturados, para ver o estrago que essa política vem fazendo em médias indústrias pelo seu efeito na taxa de câmbio, que na semana passada chegou a ficar abaixo de R$ 1,80 por dólar.
Mas, deixa pra lá. Falemos de assuntos mais amenos, de um lado do país que não tem medo de avançar. Na semana passada, São Paulo inaugurou a estação Autódromo da linha C do Metrô, de superfície, que vai de Osasco a Jurubatuba. A construção da estação, que fica a 600 metros do Autódromo de Interlagos, foi acelerada para que pudesse estar pronta antes da realização do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, no domingo, quando Kimi Raikkonen se tornou campeão mundial de F-1. É uma obra pequena, mas que servirá a mais de 200 mil paulistanos por dia e ajudará a aliviar um pouco o caótico trânsito da cidade.
Grandes eventos são agentes impulsionadores de modernização e desenvolvimento. Na quarta-feira, quando a seleção brasileira de futebol voltou a jogar no Rio de Janeiro, depois de uma ausência de sete anos, vimos uma festa emocionante no Maracanã reformado. Inaugurado em 16 de junho de 1950, o estádio foi construído para a Copa do Mundo daquele ano e, ao longo de seis décadas, tem sido palco de grandes eventos no país. Desde a desastrosa final daquela Copa, quando atônitos 200 mil torcedores viram a derrota contra o Uruguai, até momentos luminosos da vida brasileira, como a missa campal do papa João Paulo 2º e o show de Frank Sinatra, em 1980, o show do ex-Beatle Paul McCartney, o milésimo gol de Pelé em 1969, o show dos Rolling Stones em 1995, o próprio Pan-Americano deste ano e inúmeros outros eventos.
O Rio não teria sido tão Rio e o Brasil, tão Brasil, sem o Maracanã. O objetivo deste artigo é combater uma conversa mole que certamente ressurgirá a partir da próxima terça-feira, quando o Brasil será confirmado como sede da Copa do Mundo de 2014 pela Fifa. Uma conversa baseada na falsa premissa de que o país não tem condição de realizar grandes eventos, como Olimpíadas e Copas, e que esse dinheiro seria mais bem investido em outros setores.
O efeito positivo desses eventos é incalculável. Além de atrair turistas (e dólares), eles são propulsores de obras públicas. Trazem novos metrôs, ferrovias (quem venha o trem-bala Rio-São Paulo para 2014!), rodovias, aeroportos, vias de telecomunicações, conjuntos residenciais, hotéis e infra-estrutura em geral. Basta ver Barcelona antes e depois da Olimpíada de 1992. Basta ver o Rio antes e depois do Pan-Americano de 2007. O efeito Copa nas principais capitais brasileiras será modernizador e desenvolvimentista.
Essa atitude retrógrada de quem não quer encarar o desafio de grandes eventos é tão prejudicial ao país quanto a do Banco Central, que tem medo do juro civilizado. Ambas prestam um desserviço. Representam o Brasil dos medrosos.


BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br


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