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Ajuda é menos transparente que Proer e mais estatizante
Governo se autoconcede poderes para reerguer ou assumir um banco quebrado
Além disso, não revelará quanto, por que, como ou até com quem gastou, se por emergência financeira ou se por conveniência política
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ainda que montantes e beneficiários sejam -espera-se-
menores, o governo brasileiro
criou uma modalidade de socorro a bancos menos transparente que o antigo Proer e potencialmente mais estatizante
que os programas recém-lançados nos EUA e na Europa.
Com o uso de dinheiro do
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, o governo se
autoconcedeu poderes para
reerguer ou assumir um banco
quebrado sem revelar quanto
gastou, por que gastou, como
gastou ou até com quem gastou,
por emergência financeira, por
estratégia empresarial, por
conveniência política ou por
convicção ideológica.
O mesmo pode ser feito com
qualquer outro tipo de instituição financeira ou, no caso da
CEF, qualquer tipo de empresa.
E -por que não?- também
com bancos e com empresas
em perfeitas condições.
Como não se trata de recursos da arrecadação de impostos, o negócio não aparecerá no
serviço de acompanhamento
das despesas federais. Como
tampouco é uma emissão de
moeda ou de títulos do governo, não constará das estatísticas mensais da política monetária ou da dívida pública.
Em bom português, será empregado o dinheiro dos correntistas, poupadores e demais depositantes dos principais bancos federais. Como em vários
outros momentos da história
das duas instituições, a conta
chegará aos contribuintes do
país se as operações contribuírem para a acumulação de perdas que reduzirão os dividendos pagos ao Tesouro.
O BB, com ações em Bolsa,
terá de informar ao mercado as
compras de participação ou
controle acionário que julgue
relevantes, da forma que achar
conveniente. A Caixa, nem isso.
No máximo, as transações estarão mencionadas, total ou parcialmente, em balanços semestrais ou relatórios anuais.
Lançado em 95, o Proer mereceu críticas pela opacidade de
informações, mas, ao menos, os
bancos resgatados passavam
por intervenções formais do
BC, o que exigia divulgação instantânea de nome da instituição, além do bloqueio de bens
de todos os dirigentes, listados
no documento. Os valores injetados no programa eram informados regularmente.
O novo programa nacional
leva ao pé da letra a idéia de estatização de bancos -expressão que, no caso das megaoperações do mundo desenvolvido,
não pode ser empregada sem
alguma licença poético-ideológica, dado que os governos, na
grande maioria das vezes, não
estão assumindo o controle dos
bancos socorridos.
No Brasil, permite-se ampliar de fato a lista de estatais
federais do setor financeiro,
que já conta com nada menos
de 25 instituições. Ou 26, já
contando com o novo banco de
investimentos da Caixa.
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