São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banco Central pode emprestar dólares do Fed

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central negocia tomar empréstimos em dólar diretamente do Fed (o BC dos Estados Unidos) para usar em suas intervenções no mercado brasileiro e evitar, com isso, uma redução nas reservas internacionais do país, segundo a Folha apurou.
Um dos artigos da MP editada ontem pelo governo permite que o BC faça operações de troca de moedas ("swaps") com autoridades monetárias de outros países. Na prática, isso significa que o Brasil entregará reais ao Fed e, em troca, terá dólares na mão para vender aos bancos e exportadores nacionais. A garantia nessas operações devem ser os títulos do governo americano que o BC tem em mãos.
Desde o agravamento da crise em setembro, o governo brasileiro vendeu US$ 8,5 bilhões no mercado. Com o empréstimo direto do Fed, parte dos dólares vendidos nessas intervenções não será deduzido das reservas, que somam um total de US$ 201,483 bilhões.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, não detalhou como será feito o empréstimo, nem o valor das operações. Segundo ele, trata-se de mais uma "medida preventiva".
"Não existe essa necessidade no momento. É meramente um processo de antecipação de possíveis necessidades futuras, baseado no que estamos olhando na experiência internacional", afirmou Meirelles.
A Folha apurou, no entanto, que o governo brasileiro já teve conversas preliminares com o Fed. Não foram negociados os termos exatos do convênio entre os dois países, mas a sinalização do Fed foi positiva.
Outros países emergentes estão buscando acesso a essa linha de financiamento, mas não há disposição do governo dos Estados Unidos para operar esses empréstimos sem mediação do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Esse tipo de operação já vem sendo feito pelo Fed com o Banco da Inglaterra, Banco Central Europeu, Banco do Japão, entre outros. É uma linha tradicional do BC americano, que ganhou relevância com a crise internacional. Foi esse o mecanismo usado na ação coordenada entre os BCs dos países desenvolvidos para tentar contornar os problemas de liquidez no mercado mundial.
O valor dessas operações aumentou à medida que a crise piorou. No final de setembro, os bancos centrais conveniados ao Fed podiam fazer "swaps" de moeda local por dólar até o limite de US$ 620 bilhões. No início de outubro, os limites foram eliminados, o que quer dizer que esses países podem tomar emprestado a quantidade de dólar que considerarem necessárias para abastecer seus mercados.
A justificativa do Fed para essas operações é que o aumento da demanda por dólares fora dos Estados Unidos fez com que as taxas de juros se elevassem. "O aumento no valor autorizado para os "swaps" em moeda estrangeira permitirá aos bancos centrais aumentar a oferta de dólar que eles podem oferecer em seus mercados. Isso pode ajudar a melhorar a liquidez em dólar no planeta", justificou o Fed em comunicado em sua página na internet.


Colaborou SHEILA D'AMORIM, da Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Entidades do setor reagem mal à nova MP
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.