São Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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Desemprego recua, mas a qualidade do trabalho piora

IBGE apura que taxa volta ao patamar anterior ao agravamento da crise global

Instituto aponta avanço da informalidade, desemprego industrial e geração de menos vagas ao longo de 2009; taxa geral é de 7,7%


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A taxa de desemprego das seis principais regiões metropolitanas do país cedeu de 8,1% em agosto para 7,7% em setembro e voltou ao patamar pré-crise. Repetiu a marca de setembro de 2008 e foi a menor desde dezembro daquele ano (6,8%), quando estourou a crise financeira global.
O resultado não significa, porém, que o mercado de trabalho tenha se recuperado totalmente do impacto da crise: neste ano, a geração de vagas ainda está mais fraca do que em 2008 e a informalidade se mostra crescente, segundo o IBGE.
Além disso, o emprego na indústria ainda reflete os efeitos da freada da economia especialmente na Grande São Paulo -onde o total de pessoas empregadas no setor caiu 3,8% (73 mil pessoas).
Para o IBGE e especialistas, a redução recente da taxa de desemprego isoladamente não retrata a situação do mercado de trabalho, ainda enfraquecido. No acumulado de janeiro a setembro, a taxa ficou em 8,4%, acima dos 8,1% de igual período do ano passado.
Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, disse que a taxa de desemprego caiu em boa parte por causa da menor procura por trabalho. O mercado evoluiu nos últimos meses, mas ainda está "pior" do que um ano atrás, afirmou.
"A queda da taxa de desemprego no segundo semestre é sazonal. Não vejo isso como uma recuperação. Neste ano, têm sido criados menos empregos do que em 2008", disse.
Para ele, os dados de setembro emitem três sinais preocupantes: o avanço de informalidade, a desaceleração da geração de postos de trabalho e o desemprego na indústria.
Em setembro, a ocupação subiu apenas 0,4% -76 mil vagas. Já o contingente de trabalhadores formais caiu para 54,9% do total de ocupados, menor marca do ano.
Segundo Fábio Romão, economista da LCA, o mercado de trabalho ficou "parado" em setembro. O aumento modesto do número de ocupados, disse, não tem sido suficiente neste ano nem sequer para a suprir o crescimento vegetativo da população. Ou seja, não há vagas suficientes para quem procura o primeiro emprego.
Ele disse, porém, que há uma retomada em curso e uma melhora em relação ao pico da crise. "Os dados não são tão bons como a redução da taxa de desemprego sugere, mas há uma recuperação. E os resultados devem melhorar com o aquecimento da economia previsto para o final do ano."
Para Carlos Henrique Corseuil, do Ipea, o conjunto de dados da pesquisa mostra que o mercado de trabalho não voltou ao giro pré-crise, mas mostra um desempenho bem mais favorável do que muitos países afetados pela crise.
Fernanda Feil, economista da Rosenberg Associados, disse que até setembro de 2008 o mundo "crescia de modo desenfreado e havia uma onda de otimismo no país". Tudo mudou e o emprego no Brasil foi afetado, embora em escala menor. O importante, disse, é que há sinais de reação nos próximos meses, apesar da menor geração de postos de trabalho.

Pelo mundo
Mais afetadas pela crise, as economias europeia, japonesa e norte-americana viram a taxa de desemprego subir com força após setembro de 2008 e se manter num patamar elevado nos últimos meses.
Nos EUA, ela ainda sobe e atingiu 9,7% em agosto -estava em 6,6% em setembro de 2008. Na Alemanha, o mercado de trabalho se ressentiu menos do baque e a deterioração foi mais branda -a taxa passou de 7,1% em setembro de 2008 para 7,7% no mês passado.


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