São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Caça ao tesouro


Fundos de pensão e FGTS teriam R$ 92 bilhões para obras. Mas esse dinheiro iria mesmo para infra-estrutura?

ESTUDOS NA MESA do governo estimam em R$ 92 bilhões os recursos disponíveis em duas grandes fontes de dinheiro para investimento novo. Trata-se de R$ 72 bilhões de fundos de pensão e R$ 20 bilhões do FGTS que poderiam, em tese, ser aplicados em infra-estrutura e habitação. É muito dinheiro, uns 4% do PIB. O investimento total no país é hoje 20% do PIB. Discute-se ainda um estratagema para driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal e permitir que Estados e municípios tomem mais financiamentos (pode até aparecer um drible "legal", mas essa é outra história).
A Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib) quer fazer com que os fundos de pensão invistam parte de seu dinheiro em FIPs, fundos de investimento de longo prazo, destinados a infra-estrutura. Em tese e por lei, os fundos podem aplicar até 20% dos R$ 360 bilhões de seu ativo de investimentos em fundos como os FIPs de infra-estrutura (estradas, portos, energia, saneamento etc.).
Como é difícil imaginar que os fundos de pensão vão mudar toda a sua carteira de renda variável (que influi fundos e ações), a idéia é atrair investimentos em renda fixa para os FIPs. Cerca de 63% das aplicações dos fundos de pensão estão em renda fixa (dívida privada e pública).
A Abdib pede isenção quase total de impostos federais sobre o rendimento dos FIPs a fim de tornar atraente o investimento em fundos de infra-estrutura. Segundo a Abdib, que reúne principalmente empreiteiras, empresas de logística e energia, seria possível atrair até R$ 75 bilhões em quatro anos para os FIPs.
Mas os FIPs são ainda um negócio novo (três anos) e pequeno (R$ 5 bilhões). E não vão pesar as célebres "incertezas jurídicas" (sobre a garantia do retorno do investimento em serviços de utilidade pública, como os de infra-estrutura)? O investidor confia na capacidade dos gestores de criar tantos negócios rentáveis, em pouco tempo? Quanto investimento será atraente com uma taxa básica de juros que, na estimativa para o final de 2007, ainda seria de 12% (ou uns 10%, descontado, grosso modo, o imposto)? Há FIPs prometendo de 10% até 20% de retorno, fora inflação, mas quantos negócios assim vão aparecer?
Os três maiores fundos de pensão (estatais, Previ, Petros, Funcef) reservam por ora não mais que R$ 1,8 bilhão para os FIPs. Os três detêm 43% do total das aplicações de investimento dos cerca de 350 fundos de pensão do país, que aplicam quase metade do seu dinheiro em papagaios do governo (dívida pública).
Muitas dessas dúvidas cercam o futuro dos R$ 20 bilhões que "sobram" no FGTS. Quantas famílias teriam renda para tomar financiamento imobiliário? Ou o dinheiro iria para um fundo de construção civil? Antes de aparecer com uma medida provisória, o governo poderia lançar os planos na mesa do debate.

vinit@uol.com.br

Texto Anterior: INSS tem déficit de R$ 3,04 bi em outubro
Próximo Texto: Câmara aprova Lei da Micro e Pequena Empresa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.