São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 2008

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Indústria puxa queda do emprego formal

Novembro registra a maior queda no nível de emprego no mês desde 1998, com fechamento de 40,8 mil postos de trabalho

Ministro chama recuo do emprego de "pífio", mas analista vê "impacto grande" e mudança de tendência com crise na economia


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise econômica internacional atingiu o mercado formal de trabalho, cobrando demissões na indústria. O nível de emprego formal no mês passado registrou a primeira queda em novembro -perda de 40.821 vagas- desde o início do governo Lula e a maior retração dos últimos dez anos no mês.
Antes disso, o maior corte foi em 1998, auge da crise asiática, quando houve saldo negativo de 118.412 postos.
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, classificou de "pífia" e "insignificante" a retração de 0,13% no número de empregos formais do país no mês passado, dada a intensidade com que a crise atinge outras economias do mundo. Na semana passada, o IBGE apontou aumento do índice de desemprego de 7,5% em outubro para 7,6%.
"Novembro é um reflexo, é claro, da crise. Mas é um reflexo negativo, em comparação com o mundo, quase pífio, porque o mundo está desempregando muito, e o Brasil continua mantendo a empregabilidade forte", afirmou o ministro.
Analistas discordam da avaliação de Lupi. "É um impacto grande, sim, porque a economia vinha acelerando fortemente. Os primeiros impactos da crise na economia real já mostram grande desaceleração de alguns setores, como construção civil e automobilístico", avaliou Anselmo Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho da Unicamp.
Lupi estimou que o saldo de criação de empregos formais fechará o ano entre 1,85 milhão e 1,95 milhão. De janeiro a novembro, foram gerados 2,11 milhões de empregos com carteira assinada no país. Para 2009, o ministro projeta recuperação a partir de março e geração de cerca de 1,5 milhão de vagas. Em 2007, havia 37,6 milhões de empregos formais no país.
Além da crise, Lupi citou a sazonalidade na agricultura, em especial cana-de-açúcar, café e uva, e os altos estoques para explicar a queda.
Os resultados do Caged indicam que o estrangulamento do crédito e a incerteza sobre as vendas cobraram preço mais alto da indústria, que perdeu 80.789 vagas. Por questões sazonais, a agricultura registrou redução de 50.522 empregos. Já na construção civil a retração foi de 22.731 vagas.
"Há uma defasagem entre o que acontece na atividade econômica e o mercado de trabalho, nos períodos entre a bonança e a crise. Mas os resultados ruins da indústria e da construção ficaram além do imaginado. É surpreendente o fechamento de postos", analisou o economista Fábio Romão, da LCA Consultores.
Os números foram compensados pelo aumento do emprego nos setores de serviços e comércio, que criaram 39.296 e 77.886 postos, respectivamente. Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) registram apenas empregos formais.
"Vimos a queda do emprego nos dados do IBGE, mas não uma tendência. A economia ainda está com o emprego formal firme. A queda de novembro é um pequeno abalo, que não dá para estender a outros meses", afirmou Rogério Cesar de Souza, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
O Caged indicou que a queda no emprego ocorreu nas regiões Sudeste (-0,22% em relação a outubro), Centro-oeste (-0,68%) e Norte (-0,58%). No Sul (0,20%) e no Nordeste (0,19%) houve expansão.
Em resposta ao cenário atual, os analistas ouvidos pela Folha concordam que o governo deveria elevar o ritmo das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e reduzir os juros -medida já sinalizada pelo Banco Central e esperada pelo mercado para janeiro.
Os economistas também apontam dificuldades para o primeiro trimestre deste ano e prevêem recuperação da atividade econômica só no segundo semestre de 2009.


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