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Indústria puxa queda do emprego formal
Novembro registra a maior queda no nível de emprego no mês desde 1998, com fechamento de 40,8 mil postos de trabalho
Ministro chama recuo do emprego de "pífio", mas analista vê "impacto grande" e mudança de tendência com crise na economia
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise econômica internacional atingiu o mercado formal de trabalho, cobrando demissões na indústria. O nível de
emprego formal no mês passado registrou a primeira queda
em novembro -perda de
40.821 vagas- desde o início do
governo Lula e a maior retração
dos últimos dez anos no mês.
Antes disso, o maior corte foi
em 1998, auge da crise asiática,
quando houve saldo negativo
de 118.412 postos.
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, classificou de "pífia" e
"insignificante" a retração de
0,13% no número de empregos
formais do país no mês passado, dada a intensidade com que
a crise atinge outras economias
do mundo. Na semana passada,
o IBGE apontou aumento do
índice de desemprego de 7,5%
em outubro para 7,6%.
"Novembro é um reflexo, é
claro, da crise. Mas é um reflexo
negativo, em comparação com
o mundo, quase pífio, porque o
mundo está desempregando
muito, e o Brasil continua mantendo a empregabilidade forte", afirmou o ministro.
Analistas discordam da avaliação de Lupi. "É um impacto
grande, sim, porque a economia vinha acelerando fortemente. Os primeiros impactos
da crise na economia real já
mostram grande desaceleração
de alguns setores, como construção civil e automobilístico",
avaliou Anselmo Santos, professor do Centro de Estudos
Sindicais e Economia do Trabalho da Unicamp.
Lupi estimou que o saldo de
criação de empregos formais
fechará o ano entre 1,85 milhão
e 1,95 milhão. De janeiro a novembro, foram gerados 2,11 milhões de empregos com carteira assinada no país. Para 2009,
o ministro projeta recuperação
a partir de março e geração de
cerca de 1,5 milhão de vagas.
Em 2007, havia 37,6 milhões de
empregos formais no país.
Além da crise, Lupi citou a
sazonalidade na agricultura,
em especial cana-de-açúcar,
café e uva, e os altos estoques
para explicar a queda.
Os resultados do Caged indicam que o estrangulamento do
crédito e a incerteza sobre as
vendas cobraram preço mais
alto da indústria, que perdeu
80.789 vagas. Por questões sazonais, a agricultura registrou
redução de 50.522 empregos.
Já na construção civil a retração foi de 22.731 vagas.
"Há uma defasagem entre o
que acontece na atividade econômica e o mercado de trabalho, nos períodos entre a bonança e a crise. Mas os resultados ruins da indústria e da
construção ficaram além do
imaginado. É surpreendente o
fechamento de postos", analisou o economista Fábio Romão, da LCA Consultores.
Os números foram compensados pelo aumento do emprego nos setores de serviços e comércio, que criaram 39.296 e
77.886 postos, respectivamente. Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) registram apenas empregos formais.
"Vimos a queda do emprego
nos dados do IBGE, mas não
uma tendência. A economia
ainda está com o emprego formal firme. A queda de novembro é um pequeno abalo, que
não dá para estender a outros
meses", afirmou Rogério Cesar
de Souza, economista do Iedi
(Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial).
O Caged indicou que a queda
no emprego ocorreu nas regiões Sudeste (-0,22% em relação a outubro), Centro-oeste
(-0,68%) e Norte (-0,58%). No
Sul (0,20%) e no Nordeste
(0,19%) houve expansão.
Em resposta ao cenário atual,
os analistas ouvidos pela Folha
concordam que o governo deveria elevar o ritmo das obras
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e reduzir
os juros -medida já sinalizada
pelo Banco Central e esperada
pelo mercado para janeiro.
Os economistas também
apontam dificuldades para o
primeiro trimestre deste ano e
prevêem recuperação da atividade econômica só no segundo
semestre de 2009.
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