São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 2008

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Toyota prevê 1º prejuízo em 70 anos, de US$ 1,7 bi

Retração dos mercados americano e japonês determina perdas da montadora

Iene forte prejudica as montadoras japonesas, que vão produzir 2,2 milhões de veículos a menos neste ano, agravando a recessão no país


MARTIN FACKLER
DO "NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO

A Toyota Motor, gigante japonesa do setor automobilístico, anunciou ontem que prevê seu primeiro prejuízo operacional em 70 anos de história, o que mostra como a crise econômica vem se espalhando pelo setor automobilístico mundial.
O prejuízo será de 150 bilhões de ienes, ou US$ 1,7 bilhão, no ano fiscal que se encerra em 31 de março de 2009. Seria o primeiro prejuízo operacional da empresa desde 1938, o ano de sua fundação, e uma imensa reversão ante o lucro operacional de 2,3 trilhões de ienes (US$ 28 bilhões) que ela registrou no ano passado.
Os analistas dizem que a revisão das projeções da Toyota, a segunda em dois meses, demonstra que a pior crise financeira desde a Grande Depressão está ameaçando não só as Três Grandes montadoras norte-americanas mas até mesmo suas rivais relativamente saudáveis no Japão, Coréia do Sul e Europa. Outras devem reportar prejuízos em breve.
Pior, os analistas afirmam que antecipam problemas ainda mais graves no ano que vem, em meio a previsões de que a economia mundial se manterá em queda pelo menos até a metade do ano. Isso poderia causar uma reacomodação significativa, levando as empresas menores e mais fracas para as mãos de um número menor de companhias de maior peso.
"Não vai demorar muito para que todas as grandes montadoras de automóveis estejam no vermelho", disse Koji Endo, analista da Credit Suisse Securities em Tóquio. "E as coisas só piorarão no ano que vem, quando as companhias começarem a perder dinheiro pelo segundo ano consecutivo."
A Toyota, que teve oito anos consecutivos de lucros recorde, está sofrendo com a queda severa nas vendas de veículos não só na América do Norte mas em mercados antes promissores como Índia e China. O grupo Toyota inclui a montadora de automóveis Daihatsu e a fabricante de caminhões Hino.
"A mudança na economia mundial é de uma magnitude que se vê apenas uma vez a cada cem anos", disse o presidente da Toyota, Katsuabe Watanabe, em entrevista coletiva. "Estamos enfrentando uma emergência sem precedentes."
Watanabe disse que a empresa deve suspender investimentos em novas fábricas e adotar turno único de trabalho em algumas linhas de montagem.
Com reservas de caixa de US$ 18,5 bilhões e relativamente poucas dívidas, a Toyota ainda tem melhor condições para enfrentar a crise do que as americanas General Motors e Chrysler.
As retrações mais sentidas pela Toyota e outras montadoras japonesas se deram no mercado dos Estados Unidos, tradicionalmente o mais lucrativo. Em novembro, as vendas da Toyota caíram em 33,9% e as da Honda Motor, em 31,6%.
As vendas de automóveis também diminuem no Japão. No ano que vem, devem cair abaixo dos 5 milhões de unidades pela primeira vez em 31 anos.
As montadoras japonesas responderam com um corte de produção de 2,2 milhões de veículos. Também reduziram as projeções de lucros, demitiram trabalhadores temporários e adiaram investimentos.
A desaceleração no setor ajudou a agravar uma recessão cada vez mais severa na economia japonesa. O país depende das exportações, que caíram 26,7% em novembro, a maior queda desde 1980.
O tumulto financeiro também prejudicou as montadoras ao elevar o valor do iene japonês em cerca de 25%.
A Toyota reduziu suas projeções de vendas mundiais no ano fiscal a 7,54 milhões de carros, bem abaixo dos 8,9 milhões vendidos no ano passado.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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