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Empresas nos EUA reduzem benefícios a empregados
Concessão de folgas e férias não-remuneradas crescem
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Com a justificativa de que assim evitam mais e maiores cortes, empresas americanas têm
negociado com seus trabalhadores a diminuição de benefícios não-salariais, de jornada
de trabalho e o aumento de folgas e férias não-remuneradas
para enfrentar a crise. Outras
deixaram de depositar sua parte em programas de previdência para economizar.
De acordo com o Escritório
de Estatísticas do Trabalho dos
EUA, o número de trabalhadores contratados em tempo integral que excepcionalmente
cumprem hoje jornada menor
subiu 72% em novembro, com
2,57 milhões de pessoas, ante
1,49 milhão no ano passado.
Já segundo levantamento da
consultoria de benefícios de
trabalho Watson Wyatt divulgado nessa semana, dois terços
das 117 empresas ouvidas fizeram algum corte em benefícios.
As ações anticrise vão de restrições em gastos de viagens
(48%) a cancelamento das festas de fim de ano (35%), passando por diminuição no subsídio de seguro de saúde (20%) e
folgas obrigatórias (13%).
De todas as empresas ouvidas pela consultoria, 23% disseram planejar demissões nos
próximos 12 meses e 39% disseram ter demitido nos últimos
12 meses. Entre as que decidiram diminuir ou suspender a
colaboração na previdência
privada estão nomes como
Eastman Kodak, Fedex, General Motors e Motorola.
Pelo programa, que existe há
30 anos e é conhecido como
401(K) -tirado da seção no código fiscal que o regula-, o trabalhador deposita 50% de uma
quantia num fundo e tem a
contrapartida bancada pelo
empregador. Os acordos são
feitos empresa a empresa e podem ser suspensos ou interrompidos unilateralmente.
O cenário de desemprego nos
EUA é desalentador e deve piorar. O índice nacional está em
6,7%, o maior em 15 anos, e salta para perto de 10% em Michigan, sede das montadoras. Projeção de 50 economistas ouvidos pela agência de notícias
econômicas Bloomberg na semana passada coloca o índice
nacional em 8,1% no ano que
vem. Em novembro, os EUA fecharam 533 mil vagas, o maior
corte desde 1974.
De acordo com o mesmo Escritório de Estatísticas do Trabalho, o número de demissões
coletivas vem igualmente batendo recordes. Segundo o dado mais recente, divulgado na
sexta-feira, houve pelo menos
2.238 demissões do tipo em novembro -para ser considerada
coletiva, é preciso haver mais
de 50 empregados dispensados
de uma só vez-, somando 20,7
mil desde o início da recessão,
em dezembro passado.
Uma das soluções mais recorrentes é o que os economistas chamam de semana de quatro dias, em que o trabalhador
diminui temporariamente sua
jornada de trabalho, com redução equivalente no salário. Outra é a concessão de folgas sem
vencimentos. Isso aconteceu
em empresas como a Dell, fabricante de PCs, pela primeira
vez desde sua criação, em 1984.
"Com a situação econômica
se agravando e aumentando,
companhias em quase todos os
setores não conseguem manter
o ritmo", disse Laura Sejen, diretora de estatísticas globais da
Watson Wyatt. "A necessidade
de conter custos resultou em
medidas que ultimamente afetam os trabalhadores."
A pressão já é sentida pelo
próximo governo. Anteontem,
o comando de transição de Barack Obama anunciou a criação
da "Força-Tarefa da Casa Branca para Famílias de Trabalhadores", a ser comandada pelo
futuro vice-presidente, Joe Biden. Um dos objetivos declarados será "restaurar benefícios
trabalhistas".
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