São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 2008

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Empresas nos EUA reduzem benefícios a empregados

Concessão de folgas e férias não-remuneradas crescem

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Com a justificativa de que assim evitam mais e maiores cortes, empresas americanas têm negociado com seus trabalhadores a diminuição de benefícios não-salariais, de jornada de trabalho e o aumento de folgas e férias não-remuneradas para enfrentar a crise. Outras deixaram de depositar sua parte em programas de previdência para economizar.
De acordo com o Escritório de Estatísticas do Trabalho dos EUA, o número de trabalhadores contratados em tempo integral que excepcionalmente cumprem hoje jornada menor subiu 72% em novembro, com 2,57 milhões de pessoas, ante 1,49 milhão no ano passado.
Já segundo levantamento da consultoria de benefícios de trabalho Watson Wyatt divulgado nessa semana, dois terços das 117 empresas ouvidas fizeram algum corte em benefícios. As ações anticrise vão de restrições em gastos de viagens (48%) a cancelamento das festas de fim de ano (35%), passando por diminuição no subsídio de seguro de saúde (20%) e folgas obrigatórias (13%).
De todas as empresas ouvidas pela consultoria, 23% disseram planejar demissões nos próximos 12 meses e 39% disseram ter demitido nos últimos 12 meses. Entre as que decidiram diminuir ou suspender a colaboração na previdência privada estão nomes como Eastman Kodak, Fedex, General Motors e Motorola.
Pelo programa, que existe há 30 anos e é conhecido como 401(K) -tirado da seção no código fiscal que o regula-, o trabalhador deposita 50% de uma quantia num fundo e tem a contrapartida bancada pelo empregador. Os acordos são feitos empresa a empresa e podem ser suspensos ou interrompidos unilateralmente.
O cenário de desemprego nos EUA é desalentador e deve piorar. O índice nacional está em 6,7%, o maior em 15 anos, e salta para perto de 10% em Michigan, sede das montadoras. Projeção de 50 economistas ouvidos pela agência de notícias econômicas Bloomberg na semana passada coloca o índice nacional em 8,1% no ano que vem. Em novembro, os EUA fecharam 533 mil vagas, o maior corte desde 1974.
De acordo com o mesmo Escritório de Estatísticas do Trabalho, o número de demissões coletivas vem igualmente batendo recordes. Segundo o dado mais recente, divulgado na sexta-feira, houve pelo menos 2.238 demissões do tipo em novembro -para ser considerada coletiva, é preciso haver mais de 50 empregados dispensados de uma só vez-, somando 20,7 mil desde o início da recessão, em dezembro passado.
Uma das soluções mais recorrentes é o que os economistas chamam de semana de quatro dias, em que o trabalhador diminui temporariamente sua jornada de trabalho, com redução equivalente no salário. Outra é a concessão de folgas sem vencimentos. Isso aconteceu em empresas como a Dell, fabricante de PCs, pela primeira vez desde sua criação, em 1984.
"Com a situação econômica se agravando e aumentando, companhias em quase todos os setores não conseguem manter o ritmo", disse Laura Sejen, diretora de estatísticas globais da Watson Wyatt. "A necessidade de conter custos resultou em medidas que ultimamente afetam os trabalhadores."
A pressão já é sentida pelo próximo governo. Anteontem, o comando de transição de Barack Obama anunciou a criação da "Força-Tarefa da Casa Branca para Famílias de Trabalhadores", a ser comandada pelo futuro vice-presidente, Joe Biden. Um dos objetivos declarados será "restaurar benefícios trabalhistas".


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