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ENERGIA
Petrobras só fornece um terço do necessário para funcionamento do PPT
Falta de gás natural limita capacidade de usina no NE
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As usinas termelétricas do PPT
(Programa Prioritário de Termeletricidade) no Nordeste têm capacidade hoje de gerar apenas
34% da energia que o governo esperava. O problema é a falta de
gás natural, matéria-prima para
geração de energia nessas usinas.
O gás, de acordo com as regras do
programa, teria fornecimento garantido pela Petrobras. No entanto a empresa petrolífera só tem
fornecido um terço do gás necessário para o acionamento de toda
a capacidade das termelétricas.
O governo só descobriu que a
capacidade instalada das usinas
termelétricas do PPT é "virtual"
com a crise de abastecimento no
Nordeste, provocada pela falta de
chuvas na região. Sem água, os reservatórios das hidrelétricas estão
muito próximos dos limites de segurança e, por isso, foi preciso gerar mais energia termelétrica.
No final de dezembro, como
não podia contar com toda a
energia das usinas do PPT, o ONS
(Operador Nacional do Sistema
Elétrico) acionou as termelétricas
do seguro antiapagão para evitar
risco de racionamento. Por isso, a
tarifa de energia dos consumidores que gastam mais de 350 kWh/
mês aumentou, em média, 1,9%.
As usinas do seguro antiapagão
geram energia com óleo combustível ou óleo diesel, a um preço
muito maior do que as usinas do
PPT. Desde março de 2002, os
consumidores pagam na conta de
luz pelo aluguel dessas usinas e,
desde janeiro de 2004, também
pela geração da energia que elas
produzem.
Nível de risco
Ontem, depois de verificar que
as termelétricas do PPT podem
gerar 409 MW médios, e não os
1.195 MW médios com os quais se
contava, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) determinou que o ONS recalculasse, em
caráter provisório, o nível de risco
dos reservatórios. Pela regulamentação do setor, toda vez que
os reservatórios ficam abaixo do
nível de risco, o ONS pode acionar
medidas de emergência, como o
seguro antiapagão. Além disso,
com os reservatórios abaixo desse
limite, as geradoras e as distribuidoras de energia passam a pagar o
custo da energia gerada pelo seguro, e não os consumidores.
Desde março de 2002, os consumidores pagam o seguro antiapagão (na conta de luz, chama-se
"encargo de capacidade emergencial"). Os valores pagos, no entanto, servem somente para o aluguel
das cerca de 50 usinas, com capacidade de gerar aproximadamente 2.000 MW, mas não cobrem a
geração da energia. Como o nível
de segurança ainda não havia sido
ultrapassado quando as usinas
emergenciais foram acionadas, a
conta foi para o consumidor, com
a criação do "encargo de aquisição de energia emergencial", na
conta desde janeiro de 2004.
Como o governo já reconheceu
que não pode contar com a maior
parte da energia das termelétricas
do PPT no Nordeste, o nível de segurança dos reservatórios das hidrelétricas ficou situado mais acima -ou seja, como não há energia termelétrica, é preciso ter mais
água para garantir o abastecimento com energia hidrelétrica.
O PPT foi criado em 2000, no
governo Fernando Henrique. O
objetivo era incentivar a instalação no país de usinas termelétricas à gás natural, para evitar a dependência das chuvas. Foi uma
das tentativas de evitar uma crise
de abastecimento, como a que
acabou acontecendo em 2001.
O programa chegou a prever 14
mil MW em energia termelétrica,
mas depois ficou reduzido a pouco menos da metade. O principal
incentivo do governo aos investidores privados era a garantia de
fornecimento de gás natural, pela
Petrobras, com um mecanismo
que "segurava" a variação cambial no preço dessa matéria prima, cotada em dólar.
A Aneel e o ONS não têm como
punir a Petrobras, uma vez que
não é uma empresa do setor elétrico. Contatada pela Folha, a
ANP (Agência Nacional do Petróleo) informou que não localizou
ninguém para falar sobre o caso.
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