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FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL
Presidente do Banco Central afirma que "ruídos" sobre manutenção de juros são legítimos e que pode discutir decisão no Congresso
Calma do mercado justifica BC, diz Meirelles
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central, ouviu o que
chama de "ruídos legítimos de todas as áreas" a respeito da decisão
do BC de manter os juros em
16,5% ao ano, os mais altos do
mundo, mas separou um "ruído"
gratificante: "Os mercados estiveram relativamente calmos, o que
mostra que, de fato, justifica-se o
BC ser cauteloso".
Apesar de não ter acontecido
um grande movimento de piora
dos indicadores de mercado, não
foi totalmente tranqüila a reação
dos agentes financeiros. A decisão
do Banco Central sofreu diversas
críticas de operadores, analistas,
economistas e do setor produtivo.
Os outros "ruídos", de ordem
política, econômica e social, como
os descreve Meirelles, "fazem parte da democracia" e o presidente
do BC está pronto para discuti-los
se e quando for convocado pelo
Congresso para explicar a decisão
de não mexer nos juros.
Em Davos, onde chegou ontem
para participar do encontro anual
2004 do Fórum Econômico Mundial, Meirelles esquivou-se de explicações alegando que as normas
do banco impedem comentários
até que saia a ata da reunião do
Copom (Comitê de Política Monetária), na próxima quinta-feira.
"Comentar agora só criaria
mais ruído", diz Meirelles.
De todo modo, o ruído chegou
até a cidadezinha suíça que abriga
os encontros do fórum: todos os
debatedores de almoço sobre o
Brasil, ontem, falaram de juros e
cobraram sua redução, com
maior ou menor contundência.
Meirelles deu, então, a aula sobre juros que vem repetindo desde que assumiu o BC há pouco
mais de um ano. É assim:
1) No Brasil, as taxas de juros
têm sido altas por um longo período. Eram, descontada a inflação, de mais de 20% no período
1994-98, caíram para pouco mais
de 10%, entre 99 e o início de 2003.
2) A taxa de hoje "que influencia
o mercado" seria, nas contas dele,
um pouco acima de 9%. Ele leva
em conta o "swap" de 360 dias, ou
seja, a taxa de médio prazo com
que opera a economia e desconta
a expectativa de inflação, tal como
medida pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). "É historicamente baixa", festeja.
3) Ele admite que "todos" gostariam que fosse ainda mais baixa.
"O problema é como fazer", completa. "O Brasil já tentou de tudo:
congelamento de preços, de juros,
de câmbio, de correção monetária, tentou controle de capitais,
moratória interna e externa. Foi
um desastre após o outro".
Nesse ponto Meirelles repete
frase de efeito do ministro Antonio Palocci (Fazenda), segundo a
qual o governo gostaria de cometer erros novos, não erros velhos.
Mas o presidente do BC não
acha que esteja cometendo erros,
velhos ou novos, apesar das críticas. "Estamos indo na direção
certa. É normal que, quando começa a dar certo, todo mundo fique ansioso e queira apressar o final do processo", diz.
Meirelles ouviu cobranças mesmo de quem elogiou a política
macroeconômica ou é simpatizante do governo.
Exemplo 1: Ricardo Young Silva, presidente do Instituto Ethos,
perguntou por que o Brasil tem
que ter a mais alta taxa de juros do
mundo e disse que "a classe média está sendo reduzida".
Exemplo 2: Carlos Represas,
mexicano que é vice-presidente-executivo da Nestlé suíça, decretou que "é absolutamente impossível estimular o investimento
privado quando se tem juros de
dois dígitos".
Até Felipe Larraín, professor da
Universidade Católica do Chile e
dono de um discurso neoliberal,
perguntou se o crescimento de
3,5% previsto para este ano seria
capaz de reduzir o desemprego,
um dos sete "desafios" que ele via
na economia brasileira.
Meirelles repetiu o discurso oficial comprado, pelo menos, por
William Rhodes, do Citigroup,
que é mais ou menos assim: "2003
foi o ano do ajuste; 2004 será o
ano do crescimento".
Meirelles tentou afastar até as
dúvidas que percorrem Davos sobre os efeitos de um eventual estouro da bolha de investimentos
financeiros em mercados emergentes, pelo excesso de liquidez
internacional. O temor é que haja
escassez de dólares para os pagamentos devidos. Diz Meirelles:
"Todos os vencimentos até junho
já estão resolvidos".
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