|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BCE descarta corte de juros e leva Bolsas européias a um novo dia de fortes quedas
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Com novos sinais de desaquecimento econômico e a recusa do BCE (Banco Central
Europeu) em baixar os juros, as
bolsas européias voltaram a
despencar ontem, devolvendo
aos mercados o nervosismo
que na segunda-feira havia causado as maiores perdas desde o
11 de Setembro.
O mau humor do sistema financeiro ficou claro após a decisão do presidente do BCE,
Jean-Claude Trichet, de não
seguir os passos do Fed (BC
americano) de reduzir as taxas
de juros para estimular o consumo e afastar o fantasma da
recessão.
A perspectiva de que uma desaceleração econômica atinja o
rendimento das empresas provocou perdas em todos os setores nas Bolsas européias. Mas
as ações de bancos, companhias de petróleo e firmas de
tecnologia lideraram as quedas
da quarta-feira.
Londres fechou com queda
de 2,28%, depois de estar caindo 3,9% no momento mais nervoso do pregão. O clima negativo se espalhou por toda a Europa: a Bolsa de Paris teve baixa
de 4,25%; Frankfurt fechou em
queda de 4,88%; Milão caiu
3,79%; Madri fechou em baixa
de 4,56%; Amsterdã teve perda
de 3,73%; Zurique caiu 1,76%.
Apesar do fantasma da recessão e das enormes pressões para que reduza os juros, o BCE se
manteve firme na política de
que a prioridade deve ser o
combate ao risco da inflação e
as taxas básicas permaneceram
em 4%. Falando ao Parlamento
Europeu, o presidente da instituição disse que as turbulências
atuais reforçavam essa política,
e não o contrário.
"Em tempos exigentes de
correção significativa do mercado e turbulências, é responsabilidade do banco central
acabar com as expectativas de
inflação para evitar mais volatilidade em mercados já voláteis", disse Trichet.
O presidente do BCE não demonstrou preocupação com
um impacto significativo no
crescimento dos países da zona
do euro. "Neste estágio, creio
que temos que olhar o que está
acontecendo na economia real,
temos um cenário base e neste
estágio não vou modificá-lo",
afirmou.
Para Trichet, é preciso tirar
lições sobre supervisão do mercado financeiro das atuais turbulências. "Apesar de a atual
correção do mercado ser particularmente complexa e multidimensional, parece-me que já
sabemos o número de áreas onde é certo que haverá melhoras", disse.
Há cerca de duas semanas, ao
divulgar suas projeções econômicas para 2008, a ONU traçou
um "cenário pessimista", no
qual uma recessão nos Estados
Unidos levaria o mundo a crescer apenas 1,6% neste ano, uma
queda drástica em relação aos
3,7% de 2007. Para o economista Heiner Flassbeck, um dos
autores do estudo, a decisão de
ontem do BCE aproximou um
pouco mais o mundo desse cenário desanimador.
Perigo
"O que o BCE está fazendo é
muito perigoso", disse Flassbeck. "Sozinho o Fed [banco
central dos EUA] não vai conseguir evitar uma recessão. Se
os juros nos EUA continuarem
caindo, o dólar também se desvalorizará, atingindo em cheio
a Europa e suas exportações. É
preciso uma ação conjunta, antes que seja tarde demais."
Para Flassbeck, o BCE está
errando o alvo. "A principal tarefa do dia não é o combate à inflação, que não é uma ameaça.
O principal agora é acalmar o
mundo com um estímulo à economia", disse.
Texto Anterior: Desaceleração é "inevitável", afirma FMI Próximo Texto: Europa: Crise reduz crescimento do Reino Unido para 0,6% no 4º tri Índice
|