São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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BCE descarta corte de juros e leva Bolsas européias a um novo dia de fortes quedas

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Com novos sinais de desaquecimento econômico e a recusa do BCE (Banco Central Europeu) em baixar os juros, as bolsas européias voltaram a despencar ontem, devolvendo aos mercados o nervosismo que na segunda-feira havia causado as maiores perdas desde o 11 de Setembro.
O mau humor do sistema financeiro ficou claro após a decisão do presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, de não seguir os passos do Fed (BC americano) de reduzir as taxas de juros para estimular o consumo e afastar o fantasma da recessão.
A perspectiva de que uma desaceleração econômica atinja o rendimento das empresas provocou perdas em todos os setores nas Bolsas européias. Mas as ações de bancos, companhias de petróleo e firmas de tecnologia lideraram as quedas da quarta-feira.
Londres fechou com queda de 2,28%, depois de estar caindo 3,9% no momento mais nervoso do pregão. O clima negativo se espalhou por toda a Europa: a Bolsa de Paris teve baixa de 4,25%; Frankfurt fechou em queda de 4,88%; Milão caiu 3,79%; Madri fechou em baixa de 4,56%; Amsterdã teve perda de 3,73%; Zurique caiu 1,76%.
Apesar do fantasma da recessão e das enormes pressões para que reduza os juros, o BCE se manteve firme na política de que a prioridade deve ser o combate ao risco da inflação e as taxas básicas permaneceram em 4%. Falando ao Parlamento Europeu, o presidente da instituição disse que as turbulências atuais reforçavam essa política, e não o contrário.
"Em tempos exigentes de correção significativa do mercado e turbulências, é responsabilidade do banco central acabar com as expectativas de inflação para evitar mais volatilidade em mercados já voláteis", disse Trichet.
O presidente do BCE não demonstrou preocupação com um impacto significativo no crescimento dos países da zona do euro. "Neste estágio, creio que temos que olhar o que está acontecendo na economia real, temos um cenário base e neste estágio não vou modificá-lo", afirmou.
Para Trichet, é preciso tirar lições sobre supervisão do mercado financeiro das atuais turbulências. "Apesar de a atual correção do mercado ser particularmente complexa e multidimensional, parece-me que já sabemos o número de áreas onde é certo que haverá melhoras", disse.
Há cerca de duas semanas, ao divulgar suas projeções econômicas para 2008, a ONU traçou um "cenário pessimista", no qual uma recessão nos Estados Unidos levaria o mundo a crescer apenas 1,6% neste ano, uma queda drástica em relação aos 3,7% de 2007. Para o economista Heiner Flassbeck, um dos autores do estudo, a decisão de ontem do BCE aproximou um pouco mais o mundo desse cenário desanimador.

Perigo
"O que o BCE está fazendo é muito perigoso", disse Flassbeck. "Sozinho o Fed [banco central dos EUA] não vai conseguir evitar uma recessão. Se os juros nos EUA continuarem caindo, o dólar também se desvalorizará, atingindo em cheio a Europa e suas exportações. É preciso uma ação conjunta, antes que seja tarde demais."
Para Flassbeck, o BCE está errando o alvo. "A principal tarefa do dia não é o combate à inflação, que não é uma ameaça. O principal agora é acalmar o mundo com um estímulo à economia", disse.


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