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LUÍS NASSIF
O risco do bingo federal
Na semana passada, em
pleno tiroteio após a medida provisória que proibiu o
funcionamento do bingo no
país, o deputado federal petista
Gilmar Machado questionou a
alegação de que a medida visava combater as máfias italiana
e espanhola que atuam na
área, sustentando que iria favorecer a GTech, que -segundo ele- pertence a grupos que
atuam em Las Vegas.
Esse é apenas um ensaio da
encrenca montada com essa
idéia de federalizar o jogo
-ou "estatizar", como se queira. Ainda não caiu a ficha do
governo Lula sobre essa temeridade de oficializar o bingo
depois de um escândalo que só
não desestabilizou o regime
porque a ninguém interessa a
crise.
A guerra de máfias é apenas
um dos aspectos da história.
Na hora de oficializar a atual
estrutura do bingo nas normas
da Caixa Econômica Federal, o
potencial de escândalo será
enorme. Ou se acha possível
enquadrar o setor nas margens
civilizadas de rentabilidade de
uma casa lotérica normal?
O aspecto essencial é outro. A
oficialização do bingo está sendo encarada como mais uma
dessa infindável lista de medidas parafiscais destinada a sugar mais ainda recursos do
país. Só que, agora, da forma
mais miserável e anti-social
possível, explorando a compulsão de viciados.
Dêem uma folga ao país! O
novo coordenador político do
governo, Aldo Rebelo, citou o
caso de uma mercearia que,
depois que passou a abrigar
uma máquina de videopôquer,
viu parte do dinheiro da clientela migrar de alimentos para
o vício.
No plano da saúde pública, o
bingo, a roleta, as máquinas de
videopôquer são mil vezes mais
nocivos que as diversas formas
de loteria ou mesmo o jogo de
bicho. As demais formas não
viciam, não exploram a compulsão. O sujeito vai até a loja,
compra o bilhete e volta para
casa. Já o carteado, o cassino, o
bingo trabalham em cima do
vício, da compulsão, das horas
em torno da mesa ou das máquinas, da perda dos limites de
tempo de dinheiro.
Se Lula quiser voltar a entender um pouco do seu povo, sugiro que saia do Palácio e das
inaugurações e visite algumas
das muitas associações de
apoio aos viciados em bingo
que tentam, por meio do esforço individual de cidadãos abnegados, combater uma praga
que há quase dez anos arruína
famílias, pessoas no país.
Não se embarque nos diversos argumentos brandidos em
defesa da manutenção do jogo.
O primeiro é o de que, se não
houver bingo oficial, os clientes
irão atrás de bingo clandestino. Ora, a armadilha letal do
bingo é ser confundido com diversão corriqueira, plantado
em meio a regiões densamente
habitantes. Ilegal, inibirá parte
relevante da clientela, seja pelo
risco da clandestinidade, seja
porque terá que se mudar para
regiões distantes.
A outra questão é a do emprego dos atuais funcionários
das casas de bingo. No início do
ano, a nova Cofins incidiu como uma bomba sobre o setor
de serviços -o maior empregador- e não houve essa grita.
Que tal o governo criar uma
política de redução de impostos
a empresas de serviço que empreguem desempregados do
bingo?
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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