São Paulo, Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 1999
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INDÚSTRIA AUTOMOTIVA
Número de empregados das montadoras aumenta 23% no país vizinho entre 1988 e 1998; exportações provocaram contratações
Brasil "exportou" empregos para a Argentina

MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local

O real sobrevalorizado e os incentivos dados pelo governo argentino ao setor automotivo provocaram a "exportação" de empregos das montadoras instaladas no Brasil para o país vizinho.
Entre 1988 e o ano passado, as montadoras de automóveis instaladas na Argentina aumentaram o nível de emprego direto em aproximadamente 23%.
As empresas empregavam cerca de 21 mil trabalhadores em 1988.
No final do ano passado, o quadro de funcionários das montadoras na Argentina chegava a mais de 26 mil pessoas.
No Brasil, ocorreu o movimento contrário, isto é, o emprego nas montadoras recuou cerca de 14,5% no mesmo período.
Das 114 mil pessoas que trabalhavam nas indústrias em 1988, sobraram cerca de 97 mil.
Tanto na Argentina quanto no Brasil a produção de veículos cresceu entre 1988 e o ano passado, apesar de alguns anos de retração nos respectivos mercados.
Os dois países também incentivaram a entrada de novas montadoras, por meio de incentivos fiscais. A Argentina criou o seu regime automotivo em 92. O Brasil fez o seu em 95.
Para o especialista no setor Rogério Aun, vice-presidente da consultoria A.T. Kearney, o aumento das exportações argentinas de veículos para o Brasil explica o crescimento observado do nível de emprego no país vizinho.
As exportações foram amplamente favorecidas pela taxa de câmbio, segundo ele.
Dados da Adefa, a associação das montadoras instaladas na Argentina, revelam que as exportações argentinas de veículos representaram em 98 aproximadamente 50% da produção local.
Em 1988, por exemplo, menos de 2% da produção argentina tinha como destino o mercado externo.
Entre 93% e 95% do total exportado pela Argentina vem para o Brasil, segundo a entidade.
Muitas montadoras transferiam do Brasil para a Argentina a fabricação de modelos com demanda no mercado brasileiro.
A Ford é um exemplo. Produzia o Escort no Brasil e passou a montá-lo na Argentina.
A redução do nível de emprego no Brasil, entretanto, não pode ser explicado somente pelo câmbio, acrescenta Aun.
Parte dela está ligada à modernização das fábricas antigas, para competir em condições iguais com as novas montadoras que se instalaram no Brasil, afirma.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, culpa o governo brasileiro pela "exportação" de empregos para a Argentina.
De acordo com o seu raciocínio, ao estabelecer um regime automotivo para o país, em 95, o governo deveria ter incluído cláusulas que obrigassem as empresas a garantir o nível de emprego em troca dos benefícios fiscais.
"O governo argentino foi mais eficiente nesse ponto", diz Marinho, para quem o problema não está restrito às montadoras, mas também ao setor de autopeças.
A recente desvalorização da moeda brasileira, entretanto, pode inverter o cenário, ao desfavorecer as importações.
"Agora a situação pode se inverter, mas as montadoras estão em compasso de espera esperando uma situação de equilíbrio na taxa de câmbio", afirma Aun.
O consultor acha possível que a mudança no valor do real e a recessão no Brasil possam diminuir o nível de emprego nas montadoras argentinas. No Brasil, o aumento do nível de emprego dependerá do aquecimento da economia.


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