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INDÚSTRIA AUTOMOTIVA
Número de empregados das montadoras aumenta 23% no país vizinho entre 1988 e 1998; exportações provocaram contratações
Brasil "exportou" empregos para a Argentina
MAURICIO ESPOSITO
da Reportagem Local
O real sobrevalorizado e os
incentivos dados pelo governo argentino ao
setor automotivo provocaram
a "exportação"
de empregos das montadoras instaladas no Brasil para o país vizinho.
Entre 1988 e o ano passado, as
montadoras de automóveis instaladas na Argentina aumentaram o
nível de emprego direto em aproximadamente 23%.
As empresas empregavam cerca
de 21 mil trabalhadores em 1988.
No final do ano passado, o quadro de funcionários das montadoras na Argentina chegava a mais de
26 mil pessoas.
No Brasil, ocorreu o movimento
contrário, isto é, o emprego nas
montadoras recuou cerca de 14,5%
no mesmo período.
Das 114 mil pessoas que trabalhavam nas indústrias em 1988, sobraram cerca de 97 mil.
Tanto na Argentina quanto no
Brasil a produção de veículos cresceu entre 1988 e o ano passado,
apesar de alguns anos de retração
nos respectivos mercados.
Os dois países também incentivaram a entrada de novas montadoras, por meio de incentivos fiscais. A Argentina criou o seu regime automotivo em 92. O Brasil fez
o seu em 95.
Para o especialista no setor Rogério Aun, vice-presidente da consultoria A.T. Kearney, o aumento
das exportações argentinas de veículos para o Brasil explica o crescimento observado do nível de emprego no país vizinho.
As exportações foram amplamente favorecidas pela taxa de
câmbio, segundo ele.
Dados da Adefa, a associação das
montadoras instaladas na Argentina, revelam que as exportações argentinas de veículos representaram em 98 aproximadamente 50%
da produção local.
Em 1988, por exemplo, menos de
2% da produção argentina tinha
como destino o mercado externo.
Entre 93% e 95% do total exportado pela Argentina vem para o
Brasil, segundo a entidade.
Muitas montadoras transferiam
do Brasil para a Argentina a fabricação de modelos com demanda
no mercado brasileiro.
A Ford é um exemplo. Produzia o
Escort no Brasil e passou a montá-lo na Argentina.
A redução do nível de emprego
no Brasil, entretanto, não pode ser
explicado somente pelo câmbio,
acrescenta Aun.
Parte dela está ligada à modernização das fábricas antigas, para
competir em condições iguais com
as novas montadoras que se instalaram no Brasil, afirma.
O presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, culpa o governo brasileiro pela "exportação" de empregos para
a Argentina.
De acordo com o seu raciocínio,
ao estabelecer um regime automotivo para o país, em 95, o governo
deveria ter incluído cláusulas que
obrigassem as empresas a garantir
o nível de emprego em troca dos
benefícios fiscais.
"O governo argentino foi mais
eficiente nesse ponto", diz Marinho, para quem o problema não
está restrito às montadoras, mas
também ao setor de autopeças.
A recente desvalorização da
moeda brasileira, entretanto, pode
inverter o cenário, ao desfavorecer
as importações.
"Agora a situação pode se inverter, mas as montadoras estão em
compasso de espera esperando
uma situação de equilíbrio na taxa
de câmbio", afirma Aun.
O consultor acha possível que a
mudança no valor do real e a recessão no Brasil possam diminuir o
nível de emprego nas montadoras
argentinas. No Brasil, o aumento
do nível de emprego dependerá do
aquecimento da economia.
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