São Paulo, domingo, 24 de março de 2002

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VAREJO

Grupos como Wal-Mart, Pão de Açúcar e Carrefour trazem desemprego às lojas da vizinhança, diz Fecomercio-SP

Grandes redes destroem pequeno comércio

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um gigantesco grupo varejista que já inaugurou 22 hipermercados ou supermercados, fatura R$ 1,5 bilhão por ano e emprega 7.500 pessoas é um excelente benefício para o país, certo? Há quem discorde.
Para a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), que representa principalmente pequenos e médios comerciantes, estabelecimentos como os do grupo Wal-Mart, descrito acima, significam, na realidade, desemprego em massa nas lojas da vizinhança.
"Cada emprego gerado por uma grande loja do Wal-Mart, Pão de Açúcar e Carrefour acarreta o corte de uma vaga e meia nos pequenos estabelecimentos", afirma Manuel Ramos, vice-presidente da entidade.
Isso porque os hipermercados praticam preços mais baratos devido ao grande volume de encomendas que fazem e, como têm uma variedade muito grande de produtos, afetam os negócios de pequenas butiques.
Para impor barreiras contra o poder das grandes redes varejistas sobre o comércio em geral, a Fecomércio tem um projeto de lei na Câmara Municipal de São Paulo e outro na Câmara dos Deputados.
"Queremos uma lei federal que exija estudos de impactos socioeconômicos em projetos comerciais com mais de mil metros quadrados", explica Ramos. Os estudos, que ficariam a cargo das prefeituras, levariam em conta, por exemplo, a área de influência dos empreendimentos.
"Seria possível medir, por exemplo, quantas padarias seriam diretamente atingidas por um hipermercado. E proibir que um hipermercado venda pães."
O projeto de lei da Fecomercio na Câmara Municipal de São Paulo prevê a criação de um conselho que analise os estudos de impacto socioeconômico e aprove ou reprove novos empreendimentos.

Migração de consumidores
O impacto das grandes redes sobre os pequenos e médios varejistas tem sido estudado por vários economistas. Kenneth Stone, professor da Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos, acompanha desde 1988 os efeitos do grupo Wal-Mart.
Um de seus estudos mostra que depois de dez anos da chegada das lojas Wal-Mart em 34 cidades de Iowa, o comércio dos municípios aumentou 25%. Mas afetou 15 cidades vizinhas que não tinham os estabelecimentos. Elas amargaram queda de 34%.
"Daí se entende que as pessoas que moram em municípios de Iowa sem lojas da cadeia provavelmente viajaram para as cidades vizinhas para fazer suas compras", avalia Stone.
"Devido aos seus métodos extremamente eficientes de gestão, grupos como o Wal-Mart causam o fechamento de pequenas lojas locais", disse o economista.

Benefícios
Mas há quem considere que a concorrência dos grandes grupos varejistas é basicamente benéfica, pois forçaria a modernização das pequenas lojas.
É o caso de Edgard Menezes, coordenador do Programa de Administração de Varejo da FEA (Faculdade de Economia e Administração) da USP.
"O impacto causado por lojas como as da rede Wal-Mart é violento. Para sobreviver, comerciantes devem modernizar-se e melhorar o atendimento."
Outra saída para enfrentar os gigantes do varejo seria a criação de cooperativas de lojas. "Pequenos e médios comerciantes do mesmo ramo devem se unir para fazer compras em grandes volumes, o que lhes garante descontos com fornecedores."
Menezes concorda que seriam bem-vindas barreiras que protegessem temporariamente alguns ramos, como pequenas lojas de roupas, do ataque dos gigantes do varejo. "Isso, até que os lojistas se adaptem à concorrência."



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