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ARTIGO
As falsas esperanças da taxa Tobin
Precisamos jogar areia nas engrenagens bem azeitadas James Tobin,
economista
MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"
Para além do mundo acadêmico, James Tobin, o economista laureado com o Nobel que
morreu neste mês, é conhecido
principalmente pela "taxa Tobin"
-plano para dificultar a especulação cambial proposto há 30
anos. Por muito tempo ignorada,
a proposta voltou à vida nos anos
90 e entrou na agenda da Conferência sobre o Financiamento do
Desenvolvimento que aconteceu
em Monterrey, México, na semana passada.
Os defensores da idéia classificam a taxa como "um imposto
Robin Hood", que tira dos ricos
improdutivos e dá aos pobres sofredores. O plano tem dois elementos: um modesto imposto sobre as transações internacionais
de câmbio e o uso dos proventos
por alguma organização internacional para financiar causas dignas, como o combate à pobreza.
Um recente estudo da Comissão Européia apontou que uma
taxa entre 0,01% e 0,1% sobre o
valor das transações cambiais arrecadaria de US$ 20 bilhões a US$
200 bilhões ao ano. O financiamento oficial ao desenvolvimento
ficou bem longe disso. Totalizou
apenas US$ 66 bilhões em 2000.
No entanto, os méritos da taxa e o
uso de seus proventos são duas
questões distintas. De fato, quanto mais sucesso ela tiver em eliminar a especulação, menos dinheiro gerará para as causas que seus
defensores tanto amam.
Três questões se apresentam. O
plano é viável? É desejável em termos econômicos? E é desejável
em termos tributários?
Comecemos, portanto, com a
viabilidade. Historicamente, mesmo as pessoas que favorecem a
idéia acreditam que ela seria impossível na prática sem o apoio de
todas as jurisdições envolvidas.
Rodney Schmidt, um analista financeiro canadense, argumentou
que é possível tributar transações
cambiais por meio do sistema de
pagamentos existente.
A tecnologia e as instituições
hoje disponíveis permitem, argumenta Schmidt, "identificar e tributar os pagamentos brutos em
moeda estrangeira, qualquer que
seja o instrumento financeiro empregado na transação, onde quer
que as partes estejam localizadas e
sempre que pagamentos correlatos forem realizados".
Os sistemas de pagamento sempre envolvem um pequeno número de bancos dos grandes centros financeiros, estreitamente relacionados aos bancos centrais de
seus países. Essas instituições não
podem se transferir para fora de
seus países, não importa onde as
transações de que participam estejam localizadas. Em essência, os
bancos centrais se tornariam arrecadadores de impostos.
Neste caso, seria possível recolher a taxa mesmo que uma das
jurisdições não estivesse de acordo. Por definição, qualquer transação do gênero envolve duas
moedas. Seria viável taxar as transações de euro/dólar apenas na
ponta européia. A viabilidade,
portanto, não parece ser uma
questão tão importante.
E o desejo do ponto de vista econômico? Para os críticos, a questão é simples. "A natureza da especulação é desestabilizadora",
diz o grupo de pressão britânico
War on Want (Guerra Contra a
Carestia). Isso é pura besteira. A
especulação é um ingrediente essencial à eficiência dos mercados.
O argumento em favor da taxa
precisa ser mais sutil. A taxa envolve o bruto das transações. Pesa
mais sobre as transações de curto
prazo do que sobre as de prazo
mais longo. Esse resultado, alegam os defensores, eliminaria o
elemento de curto prazo menos
válido no giro dos mercados, estimado em US$ 1,2 trilhão ao dia.
Aceitemos, por enquanto, que
os mercados são vulneráveis a bolhas e manias. Nesse caso, a taxa
proposta não melhoraria as coisas, apenas reduziria a liquidez.
As transações de curto prazo exploram oportunidades pequenas
de lucrar com diferenciais entre
mercados e instrumentos. Essas
oportunidades não promovem os
grandes desalinhamentos que
mais preocupam os críticos. O defeito, em lugar disso, é a ausência
de especulação de longo prazo
contra as tendências do mercado.
A taxação, como é proposta,
não salvaria as taxas fixas de câmbio de um eventual colapso. Um
tributo minúsculo sobre as transações é irrelevante quando existe
uma chance significativa de desvalorização de 10% no dia seguinte. O máximo que o imposto poderia fazer seria aumentar modestamente o espaço de manobra
da política monetária nacional.
Os proponentes dão grande importância aos problemas enfrentados pelas vítimas das crises financeiras nos países em desenvolvimento. Mas a taxa Tobin não
teria impedido essas crises. Contra esses colapsos seriam mais relevantes medidas que limitassem
a acumulação de passivos de curto prazo em moeda estrangeira,
em países com âncora cambial.
Ciente das ineficiências da taxa
Tobin em momentos de crise
cambial, o economista alemão
Paul-Bernd Spahn sugeriu a imposição de tributos proibitivos
quando as moedas atingirem os
limites de certas zonas de flutuação predefinidas. Trata-se de proposta bem diferente. Só faz sentido para quem acredita em estabilidade cambial a qualquer custo.
A terceira questão: a taxa é uma
maneira válida de financiar o desenvolvimento? Cabe aqui outra
pergunta: por que esse "imposto
invisível" específico iria persuadir
os países ricos a transferir mais
capital para o desenvolvimento
do que agora? Se eles concordassem com uma taxa sobre as transações cambiais, é provável que
usassem a receita para seus propósitos prioritários. Acima de tudo, a tributação requer um processo político legítimo e compartilhado. Isso não existe em nível
mundial e não vai ser criado por
meio da invenção de um determinado imposto.
Quais são as conclusões? A taxa
pode ser viável e arrecadaria algum dinheiro. Mas é impossível
determinar se estabilizaria taxas
de câmbio entre países avançados. De qualquer maneira, não
impediria crises cambiais e financeiras; não garantiria assistência
firme ao desenvolvimento; e não
criaria um regime fiscal mundial.
Portanto, trata-se de uma campanha equivocada. Reduzir a frequência das grandes crises financeiras e aumentar o financiamento ao desenvolvimento são objetivos dignos, mas esses pássaros
deveriam ser mortos com duas
pedras diferentes e bem dirigidas.
Tradução de Paulo Migliacci
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