São Paulo, domingo, 24 de março de 2002

Texto Anterior | Índice

MERCADOS E SERVIÇOS

Desconfiança dos investidores sobre empresas do setor minam ganhos da Bovespa, que já perde 5%

Teles em pane emudecem Bolsa em março

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após o otimismo e a alta de 10% registrada em fevereiro, a Bolsa de Valores de São Paulo tem, até agora, em março, um mês de perdas. Até a sexta-feira o Ibovespa acumulava baixa de 5% neste mês.
A desvalorização é puxada pelas ações das empresas do setor de telecomunicações. Três delas, Telesp Celular, Globo Cabo e Telemar, o papel de maior peso dentre os 57 que compõem o principal índice da Bolsa paulista, divulgaram notícias que abalaram a confiança dos investidores.
O mau humor para o setor começou ainda em fevereiro, quando a WorldCom, controladora da Embratel, começou a enfrentar problemas nos EUA. Os boatos eram que o grupo, um dos maiores do mundo em telecomunicações, poderia pedir concordata.
Wall Street olhava com suspeita não só para a WorldCom mas para várias companhias americanas, em especial as auditadas pela Arthur Andersen. A desconfiança veio após o pedido de concordata da Enron, empresa atendida pela consultoria e que é suspeita de ter maquiado seus balanços.
O setor de telecomunicações passa por uma reavaliação no mundo todo. As perspectivas para essa atividade estão sendo redimensionadas pelos investidores.
"Nos EUA e na Europa, 75% do valor médio de uma empresa de telecomunicações equivale às dívidas que ela possui. Só 25% são valor de mercado", diz Alexandre Silvério, sócio e gestor de Bolsa da GAP Asset Management.
Ainda há entre os investidores a sensação de que as empresas do setor foram superavaliadas no passado. "O sentimento de agora ainda é um resquício da empolgação com as perspectivas para as ações de tecnologia, no boom da então chamada nova economia", resume Luiz Neves, diretor de investimentos do Dresdner Asset Management.
As ações das empresas foram supervalorizadas mediante apenas as perspectivas de que poderiam gerar bons lucros -antes de apresentar bons resultados concretos, que, no final, não vieram.
No Brasil, as dificuldades do setor são ainda maiores, pois está em fase de consolidação. Para se adequar às metas estabelecidas pela privatização da Telebrás, as empresas foram obrigadas a fazer investimentos pesados.

Esperança frustrada
Para este ano, com o fim do prazo para adequação às metas, era esperado que as empresas vissem seus resultados melhorarem. Até a Telemar projetar um aumento de 30% em sua dívida líquida neste ano. "O setor ainda é muito alavancado", diz Silvério.
Logo em seguida, a Telesp Celular anunciou prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2001 e um aumento de capital de até R$ 2,5 bilhões, cuja estruturação desagradou ao mercado. Há o temor de que ele possa ser prejudicial aos acionistas minoritários. Para sacramentar o desconforto, a Globo Cabo anunciou prejuízo em 2001 e uma operação de capitalização de R$ 1 bilhão, com a participação do BNDES, o que não foi bem visto pela opinião pública.
Em um ano de eleições, em que investidores procuram papéis que ofereçam certa segurança para se proteger de possíveis instabilidades políticas, isso bastou para que o mercado virasse as costas para o setor. Os setores de siderurgia, bancário e de energia já obtiveram uma valorização no ano. Apenas as empresas de telecomunicações ainda não reagiram. Telemar PN acumula desvalorização de 13,9% no ano. Telesp Celular PN tem perdas de 30%. Os dados da Economática correspondem ao comportamento das ações até o dia 21.
Na Globo Cabo PN, a desvalorização acumulada em 2002 já atinge 37%. Ainda há incertezas em relação a seu futuro. Além do prejuízo, o número de assinantes cai em um ritmo bem mais acelerado do que aumenta o número de clientes.
A preocupação é com a viabilidade do negócio TV a cabo, principal atividade da empresa.



Texto Anterior: Trechos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.