|
Texto Anterior | Índice
MERCADOS E SERVIÇOS
Desconfiança dos investidores sobre empresas do setor minam ganhos da Bovespa, que já perde 5%
Teles em pane emudecem Bolsa em março
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após o otimismo e a alta de 10%
registrada em fevereiro, a Bolsa de
Valores de São Paulo tem, até agora, em março, um mês de perdas.
Até a sexta-feira o Ibovespa acumulava baixa de 5% neste mês.
A desvalorização é puxada pelas
ações das empresas do setor de telecomunicações. Três delas, Telesp Celular, Globo Cabo e Telemar, o papel de maior peso dentre
os 57 que compõem o principal
índice da Bolsa paulista, divulgaram notícias que abalaram a confiança dos investidores.
O mau humor para o setor começou ainda em fevereiro, quando a WorldCom, controladora da
Embratel, começou a enfrentar
problemas nos EUA. Os boatos
eram que o grupo, um dos maiores do mundo em telecomunicações, poderia pedir concordata.
Wall Street olhava com suspeita
não só para a WorldCom mas para várias companhias americanas,
em especial as auditadas pela Arthur Andersen. A desconfiança
veio após o pedido de concordata
da Enron, empresa atendida pela
consultoria e que é suspeita de ter
maquiado seus balanços.
O setor de telecomunicações
passa por uma reavaliação no
mundo todo. As perspectivas para essa atividade estão sendo redimensionadas pelos investidores.
"Nos EUA e na Europa, 75% do
valor médio de uma empresa de
telecomunicações equivale às dívidas que ela possui. Só 25% são
valor de mercado", diz Alexandre
Silvério, sócio e gestor de Bolsa da
GAP Asset Management.
Ainda há entre os investidores a
sensação de que as empresas do
setor foram superavaliadas no
passado. "O sentimento de agora
ainda é um resquício da empolgação com as perspectivas para as
ações de tecnologia, no boom da
então chamada nova economia",
resume Luiz Neves, diretor de investimentos do Dresdner Asset
Management.
As ações das empresas foram
supervalorizadas mediante apenas as perspectivas de que poderiam gerar bons lucros -antes de
apresentar bons resultados concretos, que, no final, não vieram.
No Brasil, as dificuldades do setor são ainda maiores, pois está
em fase de consolidação. Para se
adequar às metas estabelecidas
pela privatização da Telebrás, as
empresas foram obrigadas a fazer
investimentos pesados.
Esperança frustrada
Para este ano, com o fim do prazo para adequação às metas, era
esperado que as empresas vissem
seus resultados melhorarem. Até
a Telemar projetar um aumento
de 30% em sua dívida líquida neste ano. "O setor ainda é muito alavancado", diz Silvério.
Logo em seguida, a Telesp Celular anunciou prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2001 e um aumento de
capital de até R$ 2,5 bilhões, cuja
estruturação desagradou ao mercado. Há o temor de que ele possa
ser prejudicial aos acionistas minoritários. Para sacramentar o
desconforto, a Globo Cabo anunciou prejuízo em 2001 e uma operação de capitalização de R$ 1 bilhão, com a participação do
BNDES, o que não foi bem visto
pela opinião pública.
Em um ano de eleições, em que
investidores procuram papéis que
ofereçam certa segurança para se
proteger de possíveis instabilidades políticas, isso bastou para que
o mercado virasse as costas para o
setor. Os setores de siderurgia,
bancário e de energia já obtiveram uma valorização no ano.
Apenas as empresas de telecomunicações ainda não reagiram. Telemar PN acumula desvalorização de 13,9% no ano. Telesp Celular PN tem perdas de 30%. Os dados da Economática correspondem ao comportamento das
ações até o dia 21.
Na Globo Cabo PN, a desvalorização acumulada em 2002 já atinge 37%. Ainda há incertezas em
relação a seu futuro. Além do prejuízo, o número de assinantes cai
em um ritmo bem mais acelerado
do que aumenta o número de
clientes.
A preocupação é com a viabilidade do negócio TV a cabo, principal atividade da empresa.
Texto Anterior: Trechos Índice
|