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São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2003

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REUNIÃO DO BID

Desempenho econômico é elogiado em Milão; reformas tributária e previdenciária são novo desafio ao país

Brasil ainda não se estabilizou, diz banqueiro

EDUARDO SIMANTOB
ENVIADO ESPECIAL A MILÃO

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ouviu elogios à atual política econômica do Brasil, ontem, em simpósio do qual participou durante a reunião anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), em Milão, na Itália.
No simpósio, cujo tema era Gerenciamento de Crise na América Latina: O Pior Já Passou?, Meirelles afirmou que não haverá surpresas na política monetária brasileira.
A boa situação do Brasil em comparação com os países vizinhos foi elogiada pelo presidente do banco Credit Suisse First Boston, David Mulford. Em entrevista à Folha, Mulford disse que o pânico dos investidores em relação ao Brasil já passou. "Mas é claro que [o pânico" ainda pode voltar, uma hora ou outra. Não podemos dizer que a situação está estabilizada."
Para Mulford, "o Brasil está indo muito bem no momento, assim como alguns bolsões latino-americanos. O sucesso do novo governo do Brasil é fundamental para a recuperação de toda a região."
A exposição de Meirelles também causou boa impressão ao presidente do BankBoston para o Brasil e o México, Geraldo Carbone. O banqueiro disse à Folha que "o pânico já passou, o momento agora é de cautela".
Ele e executivos de outros bancos presentes ao simpósio (Bradesco, Unibanco, Santander, Itaú e BBA) disseram que esperam ansiosamente o texto do governo para as reformas previdenciária e tributária. "Isso será o sinal concreto do que virá pela frente", disse Carbone.
Para o analista econômico David Beers, diretor da agência de avaliação de risco Standard & Poor's, o governo brasileiro tem seis meses para provar que pode implementar as reformas econômicas prometidas e que animaram os investidores estrangeiros.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem afirmado que os projetos para as reformas tributária e da Previdência serão levados ao Congresso ainda neste semestre. "Em seis meses poderemos julgar se a estratégia do governo dará certo", afirmou Beers.
O ministro do Planejamento, Guido Mantega, esteve reunido com analistas de risco do banco Salomon Smith Barney e outros investidores estrangeiros para tranquilizá-los sobre os rumos da política econômica do governo.

Pessimismo com o Mercosul
Questionado sobre como vê o Mercosul, um dos temas centrais debatidos no encontro do BID, Mulford foi pessimista. Disse que não analisa a região como um bloco, principalmente por causa da Argentina. "A Argentina até agora não mostrou nenhum sinal de recuperação política confiável. Minha impressão sobre ela é muito negativa."
As críticas de Mulford estenderam-se também à politica econômica americana. Republicano de carteirinha, ex-subsecretário do Tesouro nas administrações Reagan e George Bush pai, Mulford lamentou que "a atual administração até hoje não apresentou uma estratégia econômica global, como costumava haver antes".
Segundo ele, é o que se devia esperar da mais importante economia do planeta. Para Mulford, isso pode ter sérias consequências para os tradicionais parceiros comerciais dos EUA, como Europa, Japão e China, e principalmente para os mercados emergentes.
A guerra no Iraque não esteve na pauta das discussões, oficiais e paralelas, da reunião do BID. Mas seus efeitos foram percebidos. A guerra foi a justificativa para a ausência tanto de William Rhodes, vice-presidente sênior do Citigroup, como de John Taylor, sub-secretário para Assuntos Internacionais do Tesouro americano, no simpósio promovido pelo Instituto Internacional de Finanças.


Com agências internacionais


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