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PÚBLICO X PRIVADO
Kirchner diz que "direitos fundamentais" vêm antes de relações bilaterais; Paris quer indenização da empresa
Reestatização eleva tensão França-Argentina
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
"Queremos que venha muito
investimento, mas também queremos resguardar os direitos fundamentais das pessoas", afirmou
ontem, em ato público, o presidente argentino, Néstor Kirchner.
Foi o segundo dia de discursos
de Kirchner para defender sua decisão de reestatizar o serviço de
água e esgoto da Grande Buenos
Aires -até a última terça a cargo
de uma concessionária controlada pela empresa francesa Suez-
e uma resposta ao governo de Jacques Chirac, que cobrou do governo argentino "segurança jurídica" para os investimentos da
França no exterior.
"Tenho muito respeito pelo povo da França, pela nação francesa
e pelo presidente Chirac, mas que
fique claro que não estou disposto, para que nos visite um presidente ou que para que a Chancelaria fique tranqüila, fechar os
olhos e permitir que se contaminem as águas que tomam os argentinos", continuou.
As declarações sobem o tom da
contenda diplomática entre Argentina e França em torno da
Suez. A Casa Rosada rompeu o
contrato com a Aguas Argentinas
alegando má qualidade da água
-um suposto elevado nível de
nitrato em algumas regiões- e o
não cumprimento de metas de investimento e universalização de
distribuição e saneamento.
Kirchner fez, no discurso, referência às visitas de Chirac a países
da América do Sul, no próximo
mês. Ele vai passar pelo Brasil, pelo Chile e pelo Uruguai, mas não
pela Argentina. O motivo da exclusão já seria a disputa do governo com a Suez, que se arrastava
havia mais de três anos.
Em declarações anteontem, o
porta-voz da Chancelaria francesa defendeu o direito da empresa
de cobrar dos argentinos o US$
1,7 bilhão investidos no país no
tribunal de arbítrio internacional
mantido pelo Banco Mundial. A
Suez alega que, pelo congelamento de tarifas imposto pelo governo
desde 2002, é o governo argentino
quem não cumpriu o trato.
Não é a primeira empresa da
França a ir embora da Argentina,
por rescisão de contrato de concessão por supostas falhas no serviço. Em janeiro de 2004, o governo anulou o contrato que concedia à francesa Thales Spectrum o
serviço de radar. A empresa não
teria investido o acordado -US$
300 milhões entre 1997 e 2003.
O caso foi para na Justiça. Executivos da Thales respondem pela
acusação de terem pago propina
de US$ 25 milhões a integrantes
do governo Carlos Menem (1989-1999) para ficar com a concessão.
A empresa nega.
Apesar da tensão com a França,
no caso da telefonia, depois de
anos de discussão, o governo conseguiu chegar a um acordo com as
concessionárias. Em fevereiro Telefônica e Telecom concordaram
em congelar suas ações milionárias contra a Casa Rosada no Banco Mundial em troca de autorização de aumentos em tarifas de
serviços pontuais.
A Aguas Argentinas era responsável pelo abastecimento e serviços de esgoto de 12 milhões de
pessoas de Buenos Aires e região
metropolitana (cerca de um terço
da população do país).
Ontem, um prefeito de uma cidade da Grande Buenos Aires
apresentou uma ação na Justiça
contra a empresa por contaminação da água por elevados níveis de
nitrato.
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