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Fiesp vê risco de "bolha de consumo" no país
Para Roberto Giannetti da Fonseca, diretor da entidade, Brasil pode passar por onda de inadimplência, como ocorre com os EUA
Para ele, crise na economia norte-americana deve estar superada em dois anos, mas retração nos EUA não deve poupar países como o Brasil
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de
Relações Internacionais e de
Comércio Exterior (Derex) da
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),
diz que a recessão nos EUA será
intensa e dura, mas deverá estar superada em dois anos.
E o Brasil, na sua avaliação,
não vai escapar dos efeitos da
retração da maior economia do
mundo, que vive as conseqüências "de uma explosão de consumo jamais vista na história."
Para ele, não seria surpresa
se em um ou dois anos os consumidores brasileiros, assim
como os norte-americanos,
também ficassem sem condições de pagar suas dívidas.
"Esses períodos de farra de
consumo terminam mal. No
Brasil existe uma bolha de consumo, que leva à certa apreensão", diz. O governo brasileiro
já estuda medidas para conter o
crédito. Leia a seguir os principais trechos da entrevista com
Giannetti da Fonseca.
FOLHA - Os EUA já estão em recessão?
GIANNETTI DA FONSECA - Recessão
significa crescimento negativo.
Essa situação não está formalmente explícita, mas acho que,
em breve, vamos ter a primeira
estimativa do PIB norte-americano deste ano, e não me surpreenderia se esse número ficasse ligeiramente negativo.
FOLHA - Por que os EUA chegaram
a essa situação?
GIANNETTI DA FONSECA - Nos últimos dez a 15 anos houve uma
explosão de consumo no país
jamais vista na história. Isso se
deu por meio da expansão do
crédito, que chegou a um valor
até dez vezes maior do que o valor do patrimônio das instituições financeiras. Os Estados
Unidos vão passar por uma recessão profunda, que deve durar dois anos.
FOLHA - O Brasil vai sentir o efeito
dessa crise?
GIANNETTI DA FONSECA - Sim. Nos
últimos cinco anos, os Estados
Unidos representavam 25%
das exportações brasileiras.
Hoje, correspondem a 15%. Só
que, se os outros países que
vendem para os EUA vão exportar menos, também vão
comprar menos do Brasil.
FOLHA - A farra de consumo que se
viu nos EUA e acabou numa crise pode ser também vivida pelo Brasil, já
que a oferta de crédito só cresce no
país?
GIANNETTI DA FONSECA - Não me
surpreenderia se em um ou
dois anos consumidores brasileiros ficassem sem condições
de pagar dívidas contraídas nos
últimos anos. Esses períodos de
farra de consumo terminam
mal. A nossa situação não é tão
crítica como a americana, mas
não descarto o fato de o crédito
consignado [prestação descontada na folha de pagamento],
acabar levando à falência do
consumidor, que não deixa de
pagar a geladeira que comprou
com o crédito consignado, mas
deixa de pagar o médico, as
contas pessoais. No Brasil existe uma bolha de consumo que
leva à certa apreensão.
FOLHA - As empresas já pensam
em reduzir investimentos por conta
da crise nos EUA e porque a expansão do crédito no Brasil pode estar
perto do limite?
GIANNETTI DA FONSECA - O investidor reage em relação à expectativa do que será o futuro. O futuro próximo [crise nos EUA]
causa preocupações e pode levar o empresário a ter menos
entusiasmo para tratar de
grandes investimentos. Agora,
o mercado interno ainda está
aquecido. Mas temos de ficar
atentos para que o mercado interno seja suficientemente sólido para manter o nível de investimentos que o país precisa
para elevar o emprego e a renda
do trabalhador. A situação, porém, não é tranqüila.
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