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CONTAS PÚBLICAS
Técnicos da área econômica já defendem que Mantega comece a falar em meta de 4,35% do PIB para este ano
Governo ensaia aumento "estratégico" de superávit
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O desconforto com o excesso de
gastos públicos neste ano, destacado nas recentes análises econômicas de bancos e consultorias,
tem crescido também dentro da
própria equipe econômica. O respaldo que o Palácio do Planalto
tem dado para as pressões sobre o
Ministério da Fazenda por novas
despesas e as dúvidas do mercado
em relação ao real comprometimento do ministro Guido Mantega (Fazenda) com a meta de ajuste
fiscal para este ano fizeram com
que técnicos da área econômica
sugerissem um ligeiro aumento
"estratégico" do valor fixado.
A proposta é que Mantega assuma que o superávit primário deste ano -estabelecido em 4,25%
do PIB- poderá chegar a 4,35%
do PIB, com uma margem de variação de 0,10 ponto percentual,
que serviria para acomodar possíveis diferenças entre as projeções
para o crescimento da economia
neste ano e o valor efetivamente
realizado.
Na prática, o esforço fiscal não
estaria sendo alterado porque sabe-se que é difícil acertar o número exato e haverá mesmo ajuste
estatístico a depender do PIB.
Mas a avaliação é que, com isso, o
ministro sairia ganhando sob dois
aspectos.
Primeiro, marcaria sua posição,
afastando de vez as dúvidas em
relação ao seu compromisso com
os 4,25% que foi um número fixado pelo seu antecessor, Antonio
Palocci Filho.
Segundo, defendem membros
da equipe ouvidas pela Folha, isso
ajudaria a minimizar, pelo menos
em parte, "o ímpeto" pela gastança dentro do governo que conta
com aval da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Indício disso foi a
declaração de Mantega em Washington na reunião do FMI no sábado. O ministro disse que a meta
é de, no mínimo, 4,25% do PIB.
Apesar de técnicos tanto da Fazenda quanto do Planejamento e
do Banco Central ouvidos pela
Folha considerarem que não há
risco de a meta de 2006 não ser
cumprida, as constantes pressões
por novas despesas incomodam.
As simulações feitas até agora no
governo não apontam sequer que
o esforço fiscal acumulado em 12
meses poderá ficar abaixo dos
4,25% do PIB em algum momento ao longo deste ano.
Esse cenário já é traçado por alguns economistas. Em função do
forte ajuste fiscal registrado nos
meses de março, abril e maio do
ano passado, o economista Caio
Megale, da MauáInvest, calcula
que o superávit primário em 12
meses poderá ser menor do que a
meta em junho deste ano. Em fevereiro, o valor registrado era de
4,38% do PIB. Esta semana, o BC
divulgará o dado consolidado de
todo setor público referente ao
mês de março.
Até agora, os números do governo não apontam um cenário
parecido, mas ainda assim, a situação "não é nada tranqüila" para técnicos da área econômica. O
excesso de gastos considerados de
"má qualidade", destacam, colocam em risco a manutenção do
esforço fiscal nos próximos anos.
A avaliação é que um superávit
de 4,25% do PIB é suficiente para
fazer com que a dívida líquida do
setor público caia do nível atual
de 51,7% do PIB para o patamar
dos 40% do PIB, em 2011. Ainda
assim, será mais difícil sustentar
esse esforço fiscal mesmo com o
crescimento da economia.
Isso porque considera-se que o
modelo de ajuste fiscal baseado
no aumento da arrecadação, que
prevaleceu desde o governo Fernando Henrique Cardoso, não
poderá ser mantido. O forte crescimento das receitas proporcionou nos últimos anos espaço para
elevação de gastos a despeito de
metas fiscais crescentes. Agora,
argumentam, chegou momento
de "olhar melhor as depesas".
No início desse ano, todas as esferas de governo (União, Estados,
municípios e estatais) diminuíram o esforço fiscal em relação a
2005 e o governo federal é o que
mais tem contribuído para queda
do superávit primário.
A arrecadação líquida da União,
descontadas as transferências para Estados e municípios, cresceu
3,5% em termos reais no primeiro
bimestre deste ano, comparativamente ao ano passado, enquanto
isso, a despesa subiu 8,97%.
"Acredito que não teremos problema em 2006 (para cumprir a
meta). O risco é a arrecadação não
corresponder ao que se imagina
em função de um crescimento
menor da economia", afirma Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do BC.
Ele diz que trabalha com projeções menos otimistas do que as
do governo para o PIB. Segundo
Werlang, o Brasil deverá crescer
entre 3% e 3,5% em 2006. A projeção do governo na LDO (Lei de
Diretrizes Orçamentárias) enviada ao Congresso prevê crescimento de 4,5%.
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