São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2008

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Área econômica quer reajustar gasolina logo

BC chegou a considerar na última reunião do Copom alta na gasolina e no diesel neste ano, o que pesou na decisão do juro

Aumento do diesel deve ser anunciado antes do que o da gasolina por ter impacto menor no IPCA, o índice oficial de inflação

SHEILA D'AMORIM
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão do Banco Central de elevar os juros e a magnitude do aumento anunciado na semana passada (0,5 ponto percentual) abriram caminho para uma rodada de reajuste do preço dos combustíveis no país. O último reajuste oficial da gasolina no país foi em 2005.
A possibilidade de alta na gasolina e, especialmente, no diesel foi considerada na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e, apesar de os modelos estabelecidos pelos diretores do BC ainda manterem oficialmente a projeção de que não haverá reajuste em 2008, um dos cenários debatidos levou em conta a hipótese e pesou na decisão final.
Dentro do governo, segundo a Folha apurou, a avaliação é que seria melhor diluir logo o efeito do reajuste na inflação deste ano. Isso evitaria o acúmulo de pressões inflacionárias para os preços administrados em 2009, que não contariam mais com reduções nas tarifas como aconteceu neste ano no setor de energia.
Como a alta dos juros demora cerca de seis meses para surtir efeito na economia real, o ciclo de elevação iniciado pelo BC ajudaria a amenizar o impacto da alta dos combustíveis no índice de preços deste ano.
Além disso, mesmo sem um reajuste oficial, a inflação e as expectativas de consumidores e empresários já estão sendo contaminadas por uma perspectiva de alta por causa da persistente elevação da cotação do petróleo no mercado internacional. Ontem ele fechou em US$ 118,30, novo recorde.
A gasolina representa quase 5% do IPCA, índice de inflação de referência para o governo. Indiretamente, ela afeta a cadeia produtiva, e a Petrobras vem aumentando preços de outros produtos como óleo combustível, nafta e querosene. Os índices de preço já captam essas elevações, que pressionam os custos das empresas.
O impacto do aumento no diesel é menor: é menos de 1% do IPCA e, com isso, a expectativa é que seja anunciado antes.
As consultorias, que trabalhavam até o início do ano com a perspectiva de não haver reajuste em 2008, já reviram suas projeções. De acordo com a economista Marcela Prada, da consultoria Tendências, neste ano a valorização do real em relação ao dólar não deverá conter os efeitos da alta da cotação internacional do barril de petróleo, como no ano passado.
"É bem provável que haja um reajuste. A defasagem aumentou muito nos últimos dias", afirmou. Segundo Prada, a defasagem para a gasolina estaria em aproximadamente 20%.
De acordo com Fábio Silveira, da RC Consultores, a defasagem está em 16% na gasolina e em 24% no diesel.
A defasagem acontece porque, desde 2002, a Petrobras deveria equiparar seus preços internos de derivados aos preços que seriam praticados em caso de importação dos produtos. Dessa forma, em tese, haveria competição no mercado.
Ele não acredita que a Petrobras vá reajustar nesses níveis. Segundo o economista, poderá haver um pequeno aumento em junho (no máximo 5%) e outro em dezembro, no mesmo percentual, que terá efeitos só na inflação de 2009. Para Silveira, a alta dos juros não influencia nos reajustes por ser uma inflação de custos.


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