São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2008

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Governo barra exportação de arroz

Medida se restringe a produto do estoque público; ministério estuda intervir na exportação de milho

Entidade que representa produtores acompanha assunto com "apreensão" e compara intervenção a tensão na Argentina

LUCIANA OTONI
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Como efeito direto da crise mundial de alimentos e por temer o desabastecimento interno, o governo proibiu por tempo indeterminado a exportação de arroz do estoque público, administrado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). O governo também cogita intervir no milho.
O estoque de arroz da Conab é avaliado em 1,6 milhão de toneladas. O Ministério da Agricultura se reúne hoje para discutir os novos leilões do cereal da Conab e eventuais medidas para impedir a venda ao exterior mesmo dos produtores.
Os leilões da Conab servem justamente para evitar uma disparada de preços e eventuais efeitos no índice de inflação. Tradicionais âncoras da estabilidade, os preços dos alimentos vêm subindo recentemente.
Se as medidas forem insuficientes, o Ministério da Agricultura admite adotar barreiras. "Temos que dar segurança de que não faltará arroz, de que os preços não irão disparar e de que não haja especulação, além da que ocorre no mercado mundial. Se for necessário, adotaremos barreiras", disse o ministro Reinhold Stephanes.
Hoje, o governo só dificulta a exportação de um produto agrícola, o couro wet blue, via imposto de exportação.
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) acompanha o assunto com "apreensão". "Estamos bastante apreensivos sobre qualquer intervenção estatal para a exportação de produtos agrícolas. Na Argentina, isso quase chegou a uma guerra civil", disse Ricardo Cotta, superintendente técnico da instituição.
A exportação de arroz foi suspensa na semana passada, quando o governo recebia a 30ª Conferência da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
O que pesou na decisão do governo brasileiro foi a suspensão das vendas de tradicionais países exportadores da Ásia, como Camboja, Indonésia, Malásia, Cazaquistão, Vietnã, Egito e Índia. Desde o mês passado, esses países vêm restringindo as exportações. A proibição adotada pelo Brasil veio a público ontem, durante um comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Todo mundo quer comprar arroz, e o país não tem estoque que nos permita abrir mão de parte da produção. O Brasil foi obrigado a parar porque não pode deixar o mercado interno correndo risco", disse.
Após a venda de cerca de 500 mil toneladas, países africanos e da América do Sul consultaram o Brasil sobre a possibilidade de exportação de outras 600 mil toneladas, mas o embarque foi negado.
O Brasil não é um exportador tradicional de arroz. Segundo Stephanes, não há risco imediato de falta de arroz no mercado doméstico. "Temos que tomar cuidado porque podemos ter problemas daqui a cinco ou seis meses."

Milho
O risco de desabastecimento, embora em menor nível, abrange o milho. Stephanes disse que o excedente no país é de 12 milhões de toneladas.
"Embora a folga seja relativamente grande, se não conseguirmos prever possibilidade de importação, diria que todos os mecanismos possíveis devem ser adotados para assegurar o abastecimento, ainda mais porque se trata de um insumo para a produção de carnes e leite", disse o ministro.
Segundo Stephanes, o monitoramento mais acurado do milho leva em conta a maior demanda mundial e a possibilidade de menor oferta em dezembro e janeiro, na entressafra.


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