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Governo barra exportação de arroz
Medida se restringe a produto do estoque público; ministério estuda intervir na exportação de milho
Entidade que representa produtores acompanha assunto com "apreensão"
e compara intervenção
a tensão na Argentina
LUCIANA OTONI
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Como efeito direto da crise
mundial de alimentos e por temer o desabastecimento interno, o governo proibiu por tempo indeterminado a exportação
de arroz do estoque público,
administrado pela Conab
(Companhia Nacional de Abastecimento). O governo também
cogita intervir no milho.
O estoque de arroz da Conab
é avaliado em 1,6 milhão de toneladas. O Ministério da Agricultura se reúne hoje para discutir os novos leilões do cereal
da Conab e eventuais medidas
para impedir a venda ao exterior mesmo dos produtores.
Os leilões da Conab servem
justamente para evitar uma
disparada de preços e eventuais
efeitos no índice de inflação.
Tradicionais âncoras da estabilidade, os preços dos alimentos
vêm subindo recentemente.
Se as medidas forem insuficientes, o Ministério da Agricultura admite adotar barreiras. "Temos que dar segurança
de que não faltará arroz, de que
os preços não irão disparar e de
que não haja especulação, além
da que ocorre no mercado
mundial. Se for necessário,
adotaremos barreiras", disse o
ministro Reinhold Stephanes.
Hoje, o governo só dificulta a
exportação de um produto
agrícola, o couro wet blue, via
imposto de exportação.
A CNA (Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil) acompanha o assunto com
"apreensão". "Estamos bastante apreensivos sobre qualquer
intervenção estatal para a exportação de produtos agrícolas.
Na Argentina, isso quase chegou a uma guerra civil", disse
Ricardo Cotta, superintendente técnico da instituição.
A exportação de arroz foi suspensa na semana passada,
quando o governo recebia a 30ª
Conferência da FAO (Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação).
O que pesou na decisão do
governo brasileiro foi a suspensão das vendas de tradicionais
países exportadores da Ásia,
como Camboja, Indonésia, Malásia, Cazaquistão, Vietnã, Egito e Índia. Desde o mês passado, esses países vêm restringindo as exportações. A proibição
adotada pelo Brasil veio a público ontem, durante um comentário do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
"Todo mundo quer comprar
arroz, e o país não tem estoque
que nos permita abrir mão de
parte da produção. O Brasil foi
obrigado a parar porque não
pode deixar o mercado interno
correndo risco", disse.
Após a venda de cerca de 500
mil toneladas, países africanos
e da América do Sul consultaram o Brasil sobre a possibilidade de exportação de outras
600 mil toneladas, mas o embarque foi negado.
O Brasil não é um exportador
tradicional de arroz. Segundo
Stephanes, não há risco imediato de falta de arroz no mercado doméstico. "Temos que
tomar cuidado porque podemos ter problemas daqui a cinco ou seis meses."
Milho
O risco de desabastecimento,
embora em menor nível,
abrange o milho. Stephanes
disse que o excedente no país é
de 12 milhões de toneladas.
"Embora a folga seja relativamente grande, se não conseguirmos prever possibilidade
de importação, diria que todos
os mecanismos possíveis devem ser adotados para assegurar o abastecimento, ainda
mais porque se trata de um insumo para a produção de carnes e leite", disse o ministro.
Segundo Stephanes, o monitoramento mais acurado do milho leva em conta a maior demanda mundial e a possibilidade de menor oferta em dezembro e janeiro, na entressafra.
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