São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2008

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Subsídios levaram à alta nos alimentos, diz FAO

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Vinte anos de políticas agrícolas equivocadas, incluindo a concessão de generosos subsídios dos países ricos a seus fazendeiros, estão por trás da atual crise mundial de alimentos, a mais grave em mais de quatro décadas. A avaliação é de Jacques Diouf, diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação).
Preocupada com os altos preços dos grãos, que já ameaça a estabilidade de alguns países em desenvolvimento, a entidade convocou para o começo de junho uma conferência mundial sobre segurança alimentar, que terá a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo os organizadores. Nos documentos preparatórios do encontro, a FAO prevê que os preços dos alimentos continuarão altos nos próximos anos, e não poupa os biocombustíveis pelo fenômeno.
Segundo Diouf, a crise atual não pegou de surpresa a FAO, que vem alertando há anos para problemas como a falta de investimento em infra-estrutura nos países pobres e o excesso de subsídios nos países ricos, que torna economicamente inviável a produção agrícola em muitas partes do planeta. A crítica aos subsídios, principalmente da Europa e dos EUA, é a queixa mais freqüente do governo brasileiro nas negociações comerciais.
"Esta não é uma tragédia grega, em que o destino é decidido pelos deuses e os homens nada podem fazer. Não, nós temos capacidade de influenciar o futuro", disse Diouf. Para ele, todos os esforços devem ser concentrados para que a colheita em 2008 seja "um sucesso".

Aumento na produção
A previsão da FAO é a de que a produção agrícola tenha um aumento de 2,6% neste ano. Apesar de ser bem menor que o ritmo de crescimento de 2007, de 4,7%, Abdolreza Abbassian, alto economista na FAO, explicou que o volume na verdade será maior, já que os grandes países produtores devem ter bom desempenho. Com isso, já se vislumbra a queda no preço de alguns grãos, como o trigo.
Abbassian disse que não há como negar o peso dos biocombustíveis no aumento dos preços, mas isentou o álcool do Brasil. "A alta dos preços tem a ver com biocombustíveis, mas não o feito a partir da cana", disse o economista, que é secretário do grupo intergovernamental de grãos da FAO. "Tem a ver com a substituição de soja e trigo por milho nas plantações dos EUA".
Isso levou ao aumento nos preços da soja e do trigo, além de tirar milho do prato para colocar nos motores, causando escassez.
O economista indiano adverte que tudo depende do clima, mas há sinais de que os preços vão cair. "Se olharmos para o mercado de futuros, veremos sinais de forte queda nos preços do trigo", diz . "Acredito que teremos um certo alívio nos preços nos próximos meses, começando com trigo e depois levando a outros produtos".
Ninguém deve esperar uma queda significativa nos preços dos alimentos em uma única temporada, diz ele, porque os estoques estão baixos.


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