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Subsídios levaram à alta nos alimentos, diz FAO
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Vinte anos de políticas agrícolas equivocadas, incluindo a
concessão de generosos subsídios dos países ricos a seus fazendeiros, estão por trás da
atual crise mundial de alimentos, a mais grave em mais de
quatro décadas. A avaliação é
de Jacques Diouf, diretor-geral
da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação).
Preocupada com os altos preços dos grãos, que já ameaça a
estabilidade de alguns países
em desenvolvimento, a entidade convocou para o começo de
junho uma conferência mundial sobre segurança alimentar,
que terá a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
segundo os organizadores. Nos
documentos preparatórios do
encontro, a FAO prevê que os
preços dos alimentos continuarão altos nos próximos anos, e
não poupa os biocombustíveis
pelo fenômeno.
Segundo Diouf, a crise atual
não pegou de surpresa a FAO,
que vem alertando há anos para
problemas como a falta de investimento em infra-estrutura
nos países pobres e o excesso de
subsídios nos países ricos, que
torna economicamente inviável a produção agrícola em
muitas partes do planeta. A crítica aos subsídios, principalmente da Europa e dos EUA, é a
queixa mais freqüente do governo brasileiro nas negociações comerciais.
"Esta não é uma tragédia grega, em que o destino é decidido
pelos deuses e os homens nada
podem fazer. Não, nós temos
capacidade de influenciar o futuro", disse Diouf. Para ele, todos os esforços devem ser concentrados para que a colheita
em 2008 seja "um sucesso".
Aumento na produção
A previsão da FAO é a de que
a produção agrícola tenha um
aumento de 2,6% neste ano.
Apesar de ser bem menor que o
ritmo de crescimento de 2007,
de 4,7%, Abdolreza Abbassian,
alto economista na FAO, explicou que o volume na verdade
será maior, já que os grandes
países produtores devem ter
bom desempenho. Com isso, já
se vislumbra a queda no preço
de alguns grãos, como o trigo.
Abbassian disse que não há
como negar o peso dos biocombustíveis no aumento dos preços, mas isentou o álcool do
Brasil. "A alta dos preços tem a
ver com biocombustíveis, mas
não o feito a partir da cana",
disse o economista, que é secretário do grupo intergovernamental de grãos da FAO. "Tem
a ver com a substituição de soja
e trigo por milho nas plantações dos EUA".
Isso levou ao aumento nos
preços da soja e do trigo, além
de tirar milho do prato para colocar nos motores, causando
escassez.
O economista indiano adverte que tudo depende do clima,
mas há sinais de que os preços
vão cair. "Se olharmos para o
mercado de futuros, veremos
sinais de forte queda nos preços do trigo", diz . "Acredito que
teremos um certo alívio nos
preços nos próximos meses, começando com trigo e depois levando a outros produtos".
Ninguém deve esperar uma
queda significativa nos preços
dos alimentos em uma única
temporada, diz ele, porque os
estoques estão baixos.
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