São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

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Crédito a empresas volta a nível pré-crise

Juros e volumes concedidos de capital de giro estão perto dos vistos antes do agravamento da crise, mas "spread" sobe

Empresários afirmam que não viram melhora nas condições de financiamento das companhias; bancos temem inadimplência alta


TONI SCIARRETTA
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de praticamente secar, o crédito para empresas começa a funcionar com taxas e volumes próximos aos vistos em agosto e setembro, antes do agravamento da crise. Mas os "spreads" [diferença entre a taxa de captação dos bancos e a cobrada do cliente], seguem elevados, diz o Banco Central.
Principal fonte de financiamento operacional das empresas, as novas concessões para capital de giro aumentaram 62,5% em março em relação a fevereiro e atingiram R$ 21,836 bilhões -próximo dos R$ 22,02 bilhões de setembro. Na comparação com março de 2008, houve aumento de 47,1%.
Os juros médios do capital de giro recuaram de 36% ao ano para 33,9%, de fevereiro para março. A taxa já retornou ao patamar de agosto e setembro, respectivamente, de 33% e 33,6%. O "spread" caiu de 24,9 pontos para 23,8 pontos, acima dos 18,6 pontos de agosto e dos 19,1 pontos de setembro.
Para Fabio Barbosa, presidente do Santander e da Febraban, a retomada do crédito em março se deve a questões sazonais (março é sempre melhor que fevereiro) e de melhora na economia. "Estamos vendo a continuidade de um processo; não houve uma ruptura no Brasil, mas uma desaceleração no ritmo de crescimento. A economia, de fato, dá uma retomada em março. E isso leva as empresas a buscarem capital de giro para atender os clientes", disse.
Para Barbosa, a maior preocupação é com a inadimplência, que, no caso do capital de giro, subiu de 1,89% para 2,22%, a maior desde maio de 2007. Por isso, os "spreads" estão altos, diz Barbosa.
"Esse estrangulamento de liquidez que tivemos em outubro, com o fechamento das linhas de comércio exterior, dos mercados de capitais, e a retirada dos bancos pequenos e médios, pouco a pouco, vêm sendo corrigido. Só falta o mercado de capitais voltar a funcionar", disse Norberto Barbedo, vice-presidente do Bradesco.
Para Silvio de Carvalho, diretor-executivo do Itaú Unibanco, os números do BC mostram uma evolução pequena no crédito para empresas. Carvalho lembra que as grandes empresas, que voltaram a se financiar no país, chegam com risco e taxas menores. "Como as grandes empresas estão mais presentes, elas têm um nível de juros menor do que as médias. É um pouco esse o efeito que também vemos nos "spreads"."
Os empresários, entretanto, dizem que ainda não sentiram a melhora no mercado de crédito detectada pelo BC. "Não está normal a situação no país", resume Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Almeida afirma que cada segmento enfrenta uma dificuldade diferente. Para as grandes companhias, nunca faltou financiamento. "No caso das pessoas jurídicas, o ritmo de queda das taxas é menor. O "spread" subiu demais devido a uma cautela excessiva com a possibilidade de alta da inadimplência, o que não ocorreu."
Já para as micro, pequenas e médias empresas, a dificuldade é ter acesso ao crédito. "Nem temos recebido reclamações sobre o custo, porque sequer tem crédito", diz Marcel Solimeo, economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo. "Os bancos aumentaram a seletividade dos clientes, deixando de fora os menores."
O varejo é o setor quem mais tem sofrido com a escassez de crédito, segundo especialistas. O setor tem renegociado com fornecedores e diminuído os prazos e limites de financiamento ao consumidor.


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