São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

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China pode liberar compra de carne bovina brasileira

País negocia para que Lula anuncie abertura em maio

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Destravar as barreiras que impedem a entrada da carne brasileira na China e recalcular o comércio bilateral são dois dos objetivos de uma missão de técnicos dos Ministérios da Agricultura e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior que está em Pequim nesta semana.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará na China no próximo dia 19 de maio, e o governo brasileiro tenta algumas vitórias para poder anunciar durante a visita.
"Os chineses disseram que estão dispostos a liberar mais frigoríficos e a finalmente permitir a entrada de carne bovina brasileira no país", disse à Folha Célio Porto, secretário de Relações Internacionais do Agronegócio.
Segundo Porto, o governo chinês diz que permitirá a entrada de frango brasileiro se o Brasil, em contrapartida, permitir a entrada de tripas de ovinos e caprinos chineses no Brasil, usados na área médica.
"Fizemos avanços, mas [o processo] ainda é lento. Nossas exportações são concentradas em poucos produtos, como soja e ferro, e a maneira mais rápida de diversificar a pauta seria com a entrada das carnes brasileiras", diz Porto.
Apesar da retórica de parceria estratégica, a relação vai a passos lentos. A Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Cooperação e Concertação (Cosban), criada em 2004, teve sua primeira reunião econômica e comercial nesta semana, em Pequim.
A China pode se tornar em 2010 ou 2011 o principal parceiro comercial do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos, mas 91% das exportações brasileiras ao gigante asiático são de produtos primários ou semielaborados, como soja, ferro, couro e tabaco.

Cálculo e barganha
Uma das discussões na pauta é a convergência das estatísticas do comércio exterior. Tanto em 2007 quanto em 2008, os dois lados alegaram sofrer déficit com o parceiro.
"A China inclui custos de frete e seguro na conta final, algo que o Brasil não faz, por isso a diferença", diz Paulo Roberto Pavão, coordenador-geral de Estatística da Secretaria de Comércio Exterior.
Em 2007, por exemplo, a China disse que sofreu um déficit com o Brasil de US$ 7,58 bilhões, enquanto o Brasil diz que teve déficit com a China de US$ 1,849 bilhão.
Com os novos cálculos, deve ficar confirmada a desvantagem do lado brasileiro. "O cálculo nos favorece, e a China terá que reconhecer que temos déficit com eles, o que ajuda na hora de negociar", explica Welber Barral, secretário de Comércio Exterior.
Empresários que acompanham a missão esperam mais pressão política para vencer as barreiras. "A China é grande demais, tem bastante burocracia, então nossas questões ficam pequenas, não estão na prioridade deles", diz o presidente da associação dos produtores e exportadores de carne suína, Pedro de Camargo Neto.
O mercado é promissor. Há três anos a China passou a importar carne de porco. Só em 2008, comprou 400 mil toneladas, principalmente dos EUA e da União Europeia. Uma missão chinesa visitou produtores brasileiros em outubro, mas ainda não apresentou o relatório da visita. Falta a aprovação sanitária do governo.


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