São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA MONETÁRIA

Segundo instituições dos EUA, Banco Central errou ao não reduzir taxa na última reunião do Copom

Bancos criticam a manutenção dos juros

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Setores de Wall Street sustentam que o Banco Central brasileiro tinha espaço e credibilidade para reduzir a taxa básica de juros na última quarta-feira.
Segundo alguns bancos de investimentos de Nova York, o BC errou ao manter a taxa inalterada em 18,5% ao ano com o argumento de que incertezas na economia impedem novo corte dos juros.
Outros dizem que, embora não tenha sido um erro, a opção de reduzir os juros também teria sido correta e aceitável.
O Bear Sterns foi a instituição mais crítica da manutenção da taxa no patamar atual. Segundo relatório escrito por David Malpass, economista-chefe do banco para a área internacional, o BC está fragilizando a economia brasileira ao ser "guiado por uma receita padrão de austeridade do FMI (Fundo Monetário Internacional)".
"O Banco Central está querendo mostrar sua disposição de combater a inflação por meio da manutenção da taxa nominal de juros em níveis surpreendentemente altos. Em vez disso, a política monetária está enfraquecendo a economia, o que, por sua vez, enfraquece o real, eleva a expectativa de inflação e eleva o peso da dívida (porque parte grande da dívida está atrelada ao dólar ou a uma taxa flutuante)."
Segundo o relatório, esperava-se que o BC brasileiro fosse quebrar "esse círculo vicioso de altas taxas de juros, desvalorização da moeda e crescimento fraco." O Bear Sterns sustenta que, "sob a atual política monetária, estamos preocupados que a economia brasileira vá permanecer muito fraca para sustentar o peso crescente da dívida de curto prazo".
Para Malpass e sua equipe, o BC poderia ter reduzido os juros devido ao atual nível de confiança dos investidores na capacidade do presidente da instituição, Armínio Fraga.
Outros analistas em Wall Street concordam que a credibilidade do BC era suficientemente forte para justificar e legitimar uma queda nos juros.
"A redução da taxa Selic teria sido um sinal de confiança e teria fornecido um estímulo psicológico para os mercados", disse à Folha Walter Molano, analista para a América Latina da corretora BCP Securities.
No entanto, diferentemente de Malpass, Molano e outros analistas não acham que Fraga esteja prejudicando a economia brasileira. Para eles, a situação do presidente do BC brasileiro seria mais a de uma autoridade encurralada entre dois riscos e duas visões distintas num ano eleitoral.
"Declarações recentes feitas por assessores econômicos de Lula (Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT à Presidência) indicaram a preferência do PT pela fixação de metas de crescimento paralelamente às metas de inflação", disse Molano. "Se Fraga tivesse reduzido os juros, teria concordado implicitamente com essa visão."
Apesar disso, Molano, como Fraga, reconhece que o momento ainda não é propício para a redução dos juros, apesar da tendência de queda da inflação.
Essa é a mesma opinião de Paulo Vieira da Cunha, analista do Lehman Brothers. Segundo Cunha, embora o BC tenha credibilidade para reduzir a taxa de juros no momento atual, essa decisão não faria sentido porque mudanças na política monetária só começam a ser sentidas pela economia num prazo que vai de seis a 12 meses. "Teria sido só um ato para mudar as expectativas e, talvez, estimular o consumo. Mas não faria sentido na fase atual da economia brasileira."

Incerteza
O economista e deputado federal Delfim Netto (PPB-SP) afirmou que a manutenção da taxa em 18,5% decorreu da "incerteza" acerca dos fundamentos da economia. "O maior absurdo é imaginar que, se fosse possível, o Armínio [Fraga, presidente do BC" não baixaria os juros."
Odair Abate
O Copom não conseguiu agradar a todos, mas
O COPOM decidiu manter a taxa básica de juros inalterada em 18,5% a.a., sem viés, conforme esperava a maioria do mercado, ainda que nem todos concordassem com essa alternativa.
O Comitê deu um peso maior ao fato da inflação acumulada em 12 meses estar próxima a 8%, diante de uma meta máxima de 5,5% no ano.
A decisão não foi unânime, o que introduz um viés 'informal" de baixa.


Colaborou a Agência Folha

Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Erro em especulação com dólar e juros faz risco-país passar de mil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.