São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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LUÍS NASSIF

O avanço da integração continental

No próximo domingo terá início em Brasília a reunião a Terceira Reunião do Comitê de Direção Executiva, no âmbito da IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana). Trata-se do processo mais profundo, e menos conhecido, de integração latino-americana.
A parte efetiva, e menos eficaz, foi a da integração dos mercados por meio da criação do Mercosul, processo conduzido pelo Ministério das Relações Exteriores e Ministérios da Fazenda dos diversos países.
Nos últimos anos, ganhou fôlego o processo de integração da infra-estrutura latino-americana, uma versão ampliada dos eixos de integração nacional previstos no Plano Plurianual, o chamado "Avança Brasil".
Pela primeira vez se avançará numa visão de planejamento estratégico integrado para o continente, em uma reunião que juntará ministros de todos os países e a vanguarda do setor produtivo. As discussões se farão a partir de um trabalho preliminar, um documento histórico, posto que o primeiro a esboçar as linhas de uma estratégia continental.
O documento começa com um diagnóstico da região, rica em recursos naturais, com alta diversidade biológica, em ambiente de tolerância racial e religiosa e com homogeneidade linguística. A partir dos anos 90, todos os países passaram por processos profundos de reformas, tendo como foco central a estabilidade macroeconômica e novas idéias sobre o papel do mercado. O PIB do continente supera US$ 1 trilhão, com alto potencial de complementaridade entre as economias nacionais.
Mas a região continua exposta a choques externos, dependência de exportações baseadas em matérias-primas, baixo nível de poupança interna, difícil acesso aos mercados internacionais de capital, desemprego e altos níveis de pobreza e desigualdade. Além disso, tem baixo nível de competitividade.
A iniciativa IIRSA propõe a coordenação de esforços entre os países sul-americanos por três razões:
a) A coordenação dos programas de investimentos em infra-estrutura permite incrementar o impacto das ações e otimizar o uso dos recursos financeiros.
b) Melhor capacidade de negociação internacional para a região.
c) Bens públicos internacionais. Existem projetos produtivos e de infra-estrutura que, dada a distribuição de seus benefícios entre os países, só podem ser concebidos como parte de um enfoque multinacional de desenvolvimento.

Caminhos
A partir daí são propostos caminhos a serem seguidos. O primeiro, o estabelecimento de metas de avanço que possam ser medidas em termos de tempo e de indicadores socioeconômicos. Por exemplo, estabelecer para um prazo de 20 anos a meta de nível mínimo de desenvolvimento comparável ao nível atual de países como Espanha, Portugal e Grécia.
Para chegar lá, há uma série de princípios a serem trabalhados, dentre os quais:
a) regionalismo aberto; b) criação de eixos de integração e desenvolvimento; c) sustentabilidade econômica, social, ambiental e político-institucional; d) aumento do valor agregado da produção; e) desenvolvimento da tecnologia da informação; f) convergência normativa; g) coordenação público-privada.
No seminário serão definidos os princípios orientadores dessa visão estratégica. Depois, cada comitê desenvolverá seus estudos em cima dos princípios discutidos.

E-mail - lnassif@uol.com.br



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