São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 2005

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CÂMBIO

Cotação da moeda americana já é a menor desde maio de 2002; sem atuação do BC, mercado prevê recuo ainda maior

Exportação em alta faz dólar cair a R$ 2,427

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A presença mais forte de exportadores no mercado e um ambiente externo tranqüilo levaram o dólar aos R$ 2,427. A baixa de 0,57% de ontem fez com que a moeda alcançasse sua menor cotação desde 6 de maio de 2002.
A opinião de analistas financeiros aponta para a mesma conclusão: se o Banco Central seguir ausente do mercado de câmbio, como tem feito desde março, há espaço para a moeda americana derreter ainda mais. O problema é que o BC sinalizou que vai deixar o câmbio flutuar.
No mês, o dólar acumula desvalorização de 4,03% diante do real. No ano, a baixa chega aos 8,55%.
O bom desempenho da balança comercial -mostrando que, se alguns segmentos realmente têm sofrido com o real valorizado, o setor exportador como um todo vai bem- ajuda a fortalecer o real. O superávit da balança comercial na terceira semana do mês surpreendeu os investidores.
Com a continuidade do processo de aperto monetário -na semana passada, o Copom elevou a taxa básica de juros pelo nono mês consecutivo-, cria-se um ambiente propício à entrada de capital estrangeiro especulativo no mercado brasileiro, atraído pelos maiores juros reais (descontada a inflação) do mundo.
O Copom (Comitê de Política Monetária, formado por diretores e o presidente do BC) elevou a taxa básica de juros de 19,50% para 19,75% na última quarta.
Com os juros em níveis recordes por aqui, grandes investidores acabam por tomar empréstimos no mercado internacional, a juros menores, e reaplicá-los no Brasil, ganhando com a diferença.
Segundo algumas mesas de operações de bancos, a proximidade do feriado de Corpus Christi, na quinta, incentivou exportadores a anteciparem a venda de dólares, reforçando a tendência de baixa da moeda.
O mercado agora aguarda a divulgação da ata da reunião do Copom, na próxima sexta-feira, para calibrar as suas opiniões a respeito do fim ou não do ciclo de elevações da taxa básica.
Na quarta-feira, haverá a apresentação do IPCA-15. O IPCA é o índice oficial, por meio do qual o governo acompanha a sua meta de inflação.
O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco avalia que o IPCA-15 "será acompanhado com atenção pelo mercado por já captar o movimento do preços até a primeira metade de maio".
No pregão de ontem da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), as projeções de juros fecharam com pequena alta. Movimentação mais forte nesse segmento do mercado só deve ocorrer quando os investidores tiverem uma opinião mais forte sobre a possibilidade de a taxa básica (Selic) deixar ou não de ser aumentada no próximo mês.
O contrato DI -que espelha a oscilação das taxas praticadas entre os bancos- de maior liquidez, com resgate na virada do ano, a taxa subiu de 19,58% para 19,62%. O DI que vence em outubro fechou com taxa de 19,89% ante 19,85% de sexta-feira.

Ações em baixa
A Bolsa de Valores de São Paulo teve um dia pífio de negócios, movimentando apenas R$ 733,2 milhões. Com a ausência de pregão na quinta-feira, devido ao feriado, esta pode ser uma das mais fracas semanas da Bolsa no ano. A média diária de negócios na Bovespa em 2005 está em R$ 1,58 bilhão.
No fim das operações de ontem, o Ibovespa -índice que reúne as 55 ações mais negociadas da Bolsa paulista- registrava perdas de 1,25%.
Os destaques de desvalorização ficaram com os papéis PNA da Usiminas (-5,20%) e PNA da Braskem (-4,12%).
O cenário de juros em alta é outro fator bastante negativo para a Bolsa. Em tese, investidores costumam, num cenário desses, migrarem de aplicações em ações para outros investimentos de renda fixa (como fundo DI), que acompanham a escalada dos juros e oferecem menos riscos.

Sangria
Uma notícia ruim para o mercado acionário doméstico é a continuidade da saída de investidores estrangeiros, movimento que se repete pelo terceiro mês consecutivo.
Em maio, até o dia 18, as vendas de ações feitas por estrangeiros superaram as compras em R$ 604,5 milhões.
No mês passado, esse saldo ficou negativo em R$ 1,91 bilhão, cifra recorde.


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