São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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Mudança na forma de cálculo dos títulos também influi na queda

Temor de calote da dívida derruba ações de bancos

ISABEL CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A marcação a mercado e o medo do que possa acontecer com a dívida pública estão derrubando o preço das ações de bancos negociadas na Bovespa.
Em junho, até sexta-feira, Banco do Brasil PN acumulava queda de 34,48% no mês, Bradesco PN, de 19,24%, Itaú PN, de 15,85%, e Unibanco UnN1, de 22,12%.
O primeiro ponto que pesa contra os bancos é o receio de que aconteça alguma reestruturação da dívida pública. As instituições financeiras estão entre os principais financiadores do governo. Um eventual calote, redução dos juros ou alongamento dos papéis certamente afetaria os seus resultados. Na quinta, a agência de classificação Moody's rebaixou de perspectiva estável para negativa o "rating" [avaliação de risco" de 22 bancos brasileiros, incluindo o Bradesco, Itaú, Unibanco e Banco do Brasil. A justificativa é que mudou a confiança dos investidores devido às incertezas relacionadas à eleição.
Segundo Luiz Antônio Vaz das Neves, diretor da Planner, um outro fator que tem contribuído para a desvalorização dos últimos dias é que os bancos, a partir de 30 de junho, terão de marcar a mercado os títulos (contabilização pelo preço do dia, e não pelo valor de face) que têm em carteira própria da mesma forma que os fundos de investimento.
"Difundiu-se uma idéia no mercado de que os bancos vão apresentar grandes perdas com a marcação a mercado das suas LFTs [Letras Financeiras do Tesouro"", explica Neves. "No dia 30 de junho, o primeiro ajuste será sobre o patrimônio. Só a partir do dia seguinte é que eventuais perdas serão contabilizadas como prejuízo operacional." O fato de, num primeiro momento, o ajuste acontecer sobre o patrimônio vai evitar que o lucro das instituições seja muito afetado.

Crédito
Daniel Doll Lemos, analista de investimentos da corretora Socopa, cita outro problema: a retração no crédito. No primeiro trimestre, a inadimplência cresceu muito no país. No segundo, com o aumento das taxas futuras de juros, as instituições estão diminuindo ainda mais a concessão de empréstimos. Sempre que os juros sobem, os financiamentos são reduzidos, pois cresce o risco de inadimplência.
Os analistas estão divididos em relação ao futuro dos bancos e à cotação de suas ações. Há quem ache que, não importa quem venha a ser o próximo presidente da República, os juros vão diminuir e, consequentemente, a lucratividade do setor. Não há mais espaço para a rentabilidade sobre o patrimônio líquido continuar entre 13% e 19% ao ano, como verificado nos anos FHC, afirmam.
Antes do Plano Real, relembra Neves, a rentabilidade sobre o patrimônio oscilava entre 6% (em épocas de crise) e 12% (em períodos de crescimento). Outros dizem acreditar que, para os bancos, nunca há tempo ruim. "As instituições são muito ágeis. Além disso, não há como governar sem o apoio do setor", afirma Clodoir Gabriel Vieira, economista da corretora Souza Barros.
"Os bancos perderam a característica de papel conservador, mas continuam sendo boas opções de investimento para o longo prazo", observa Lemos, da Socopa. Ele também diz que, embora as instituições estejam perdendo com a marcação a mercado, elas deverão ter uma boa lucratividade com os títulos cambiais que têm em carteira devido à alta do dólar.


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