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VIAGEM A NY
Presidente afirma nos EUA que brasileiros devem deixar de ser "moles"
Lula diz que Brasil deve ser
mais duro em negociação
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem em Nova York
para uma platéia de investidores e
empresários norte-americanos
que o Brasil deve deixar de reclamar da agressividade dos EUA
nas negociações comerciais.
"Em vez de reclamar de que os
negociadores americanos são duros, nós é que temos que deixar de
ser moles e passarmos a jogar no
mesmo nível", disse Lula.
Ao declarar que o país deu "um
salto de qualidade" na política externa sob seu governo, Lula afirmou que o Brasil "resolveu deixar
de ser mais um país no mundo e
se tornar um ator no mundo globalizado".
O presidente disse que, no passado, "agíamos como uma nação
insignificante". Lula afirmou que
essa nova atitude já rendeu resultados no avanço da integração na
América do Sul, ao afirmar que
toda a região, até o fim do ano, será "participante" do Mercosul.
O presidente afirmou que o país
negociou a Alca de modo "realista, flexível e equilibrado" e reafirmou a defesa da redução dos subsídios agrícolas nos países ricos.
Lula e seus principais ministros
fizeram ontem uma série de promessas a 450 investidores internacionais reunidos em Nova York.
Entre elas, a criação de uma "sala
de situação" especial para agilizar
a constituição de novos negócios
estrangeiros no país e a transformação de portos e aeroportos em
zonas livres de impostos para a
realização de investimentos.
Lula prometeu ainda incluir, até
o final de 2006, todos os cerca de
44 milhões de miseráveis do país
em programas de distribuição de
renda, atrair US$ 20 bilhões ao
ano em investimentos diretos nos
próximos anos e aportes na área
de infra-estrutura de US$ 100 bilhões nos próximos quatro anos.
A iniciativa do seminário foi
aplaudida pelos investidores, mas
muitos reforçaram dúvidas e restrições pendentes para deslanchar
negócios no país.
Durante palestra no hotel Waldorf Astoria pela manhã, Lula e os
ministros Antonio Palocci Filho
(Fazenda), Guido Mantega (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) apresentaram números favoráveis da economia brasileira e pediram confiança no país.
"Não estamos em meio a uma
pequena aventura ou reinventando a roda, mas apenas administrando melhor os recursos brasileiros, que são muito poucos",
disse Lula, em português, com
tradução simultânea.
"Estamos fazendo o sacrifício
de pagar o preço de dar ao Brasil a
oportunidade de um crescimento
sustentável e contínuo, com uma
política social mais ousada."
O economista do banco HSBC
Paulo Vieira da Cunha disse que
"o discurso do presidente foi um
pouco mal dirigido" porque "o
mercado esperava um discurso
olhando para a frente". Ele avaliou que as palavras de Lula se
centraram demais nas conquistas
econômicas do governo.
Mesmo estando hospedado no
hotel em que ocorreu o seminário, Lula atrasou sua aparição e o
início do evento em 32 minutos.
Isso impediu que, ao final do
painel da manhã, os investidores
pudessem fazer perguntas a ele e a
seus ministros, como previsto.
Sem perguntas
Obrigado a deixar a sala para o
início de outro evento, Lula prometeu, então, que as perguntas
poderiam ocorrer durante o almoço. Isso também acabou não
acontecendo e causou frustração
entre vários empresários.
A "sala de situação" para investidores anunciada por Lula será
criada dentro do Palácio do Planalto e compreenderá "todas as
repartições" envolvidas na criação de negócios.
"Quem quer investir hoje no
Brasil acaba saindo do país com
um pacote de problemas e acaba
não investindo nada", disse.
"Queremos permitir que esses
meninos aqui [apontando seus
ministros] e os meninos aí [os investidores] façam seu trabalho."
Em seus comentários, Palocci
apresentou uma série de dados
macroeconômicos positivos e
afirmou que a prioridade de sua
pasta agora é aprovar "uma ampla agenda microeconômica".
"A grande pergunta dos investidores é se vamos progredir nas reformas econômicas, apesar dos
custos políticos elevados. Vamos
perseverar", afirmou.
Em seu discurso após o almoço
com empresários e investidores,
Lula reafirmou que o governo
continuará no caminho da estabilidade fiscal e monetária e que as
decisões políticas para implementar essa opção foram difíceis.
"Se dependesse do medo político, não teria feito a reforma da
Previdência", declarou. "Porque
me confrontei direto com a minha origem política, que é o movimento sindical", disse.
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