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RECEITA ORTODOXA
Copom diz que deve esperar inflação convergir para a meta antes de iniciar processo de redução da Selic
BC admite manter juro alto por tempo "longo"
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central informou ontem que vai manter os juros básicos da economia em 19,75% ao
ano por um "período suficientemente longo" para garantir que a
inflação fique dentro das metas
do governo. Além disso, não descarta a possibilidade de um novo
aumento na taxa Selic caso perceba "exacerbação de riscos" em relação à estabilidade dos preços.
Na semana passada, o Copom
(Comitê de Política Monetária do
BC) interrompeu uma série de
nove meses seguidos de elevação
dos juros, e as especulações passaram a girar em torno de quando a
taxa poderia começar a ser reduzida -o que não deve ocorrer tão
cedo, segundo os sinais emitidos
pelo BC. A expectativa do mercado é que os cortes na Selic comecem em setembro, um ano depois
de iniciado o processo de alta.
A ata da reunião da semana passada, divulgada ontem, não surpreendeu o mercado e, apesar dos
"alertas" sobre os riscos e a necessidade de manter o aperto, os analistas continuam esperando o início do período de queda das taxas
de juros para o período entre
agosto e setembro deste ano.
"A ata mostra que, mesmo para
o BC, um cenário benigno de inflação está se concretizando. Pode
haver espaço, já em agosto, para
quedas", diz Alexandre Maia, da
Gap Asset Management.
Riscos
Quanto ao alerta sobre a "exacerbação dos riscos", o BC teria
dito o óbvio, diz Luis Fernando
Lopes, do Banco Pátria, que avalia
que a ata veio "bem menos azeda"
do que a da última reunião".
Neste ano, o BC tem como meta
manter a inflação em 5,1%. Para
2006, o objetivo foi fixado em
4,5%, admitindo-se um desvio de
até dois pontos percentuais.
Segundo a ata, o fim do ciclo de
aperto monetário só foi possível
porque, do mês passado para cá,
vários fatores favoreceram a estabilidade dos preços. "Essa melhora deveu-se em especial à mudança nas expectativas de inflação, à
surpresa positiva na inflação de
maio e à atualização da medida do
hiato do produto pela incorporação dos dados das contas nacionais do primeiro trimestre".
Traduzindo para o português:
"atualização do hiato do produto"
é um modo de dizer que, nas contas do BC, a economia brasileira
está crescendo numa velocidade
cada vez mais distante do que,
teoricamente, permitiria seu potencial máximo. Isso é bom para
conter a inflação, pois, quanto
maior o crescimento, maior é o
espaço que as empresas têm para
reajustar preços e, assim, aproveitar o aumento do consumo.
A reunião da semana passada
foi a primeira depois de divulgados os dados do PIB (Produto Interno Bruto) neste começo de ano
-o país cresceu 0,3% no primeiro trimestre, pior resultado desde
o segundo trimestre de 2003. O
crescimento, que em 2004 foi de
4,9%, pode cair a 2,8% neste ano,
segundo previsão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ligado ao Planejamento).
Além da desaceleração da economia, o BC citou como positivo
o resultado da inflação do mês
passado: o IPCA registrou alta de
0,49%, contra 0,87% em abril.
A melhora nas expectativas do
mercado em relação ao comportamento da inflação é outro fator
citado como positivo pelo BC. Entre as reuniões de maio e junho do
Copom, a estimativa média dos
analistas de mercado -coletadas
pelo BC- caiu de 6,4% para
6,2%. Embora pequeno, o recuo
significou uma reversão na tendência de alta de três meses.
A principal ameaça para a concretização de um cenário mais favorável ao controle da inflação, na
avaliação do BC, é o preço do petróleo, que ontem chegou a bater
em US$ 60 em Nova York: "Esse
aspecto (...) passou a representar
um risco maior para a trajetória
futura da inflação do que havia sido avaliado na reunião de maio".
O BC diz que esse movimento
não deve resultar em reajustes dos
combustíveis no Brasil, mas que
os preços dos derivados de petróleo podem ser afetados.
Leia a íntegra da ata do Copom www.folha.com.br/051741
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