São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Copom diz que deve esperar inflação convergir para a meta antes de iniciar processo de redução da Selic

BC admite manter juro alto por tempo "longo"

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central informou ontem que vai manter os juros básicos da economia em 19,75% ao ano por um "período suficientemente longo" para garantir que a inflação fique dentro das metas do governo. Além disso, não descarta a possibilidade de um novo aumento na taxa Selic caso perceba "exacerbação de riscos" em relação à estabilidade dos preços.
Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) interrompeu uma série de nove meses seguidos de elevação dos juros, e as especulações passaram a girar em torno de quando a taxa poderia começar a ser reduzida -o que não deve ocorrer tão cedo, segundo os sinais emitidos pelo BC. A expectativa do mercado é que os cortes na Selic comecem em setembro, um ano depois de iniciado o processo de alta.
A ata da reunião da semana passada, divulgada ontem, não surpreendeu o mercado e, apesar dos "alertas" sobre os riscos e a necessidade de manter o aperto, os analistas continuam esperando o início do período de queda das taxas de juros para o período entre agosto e setembro deste ano.
"A ata mostra que, mesmo para o BC, um cenário benigno de inflação está se concretizando. Pode haver espaço, já em agosto, para quedas", diz Alexandre Maia, da Gap Asset Management.

Riscos
Quanto ao alerta sobre a "exacerbação dos riscos", o BC teria dito o óbvio, diz Luis Fernando Lopes, do Banco Pátria, que avalia que a ata veio "bem menos azeda" do que a da última reunião".
Neste ano, o BC tem como meta manter a inflação em 5,1%. Para 2006, o objetivo foi fixado em 4,5%, admitindo-se um desvio de até dois pontos percentuais.
Segundo a ata, o fim do ciclo de aperto monetário só foi possível porque, do mês passado para cá, vários fatores favoreceram a estabilidade dos preços. "Essa melhora deveu-se em especial à mudança nas expectativas de inflação, à surpresa positiva na inflação de maio e à atualização da medida do hiato do produto pela incorporação dos dados das contas nacionais do primeiro trimestre".
Traduzindo para o português: "atualização do hiato do produto" é um modo de dizer que, nas contas do BC, a economia brasileira está crescendo numa velocidade cada vez mais distante do que, teoricamente, permitiria seu potencial máximo. Isso é bom para conter a inflação, pois, quanto maior o crescimento, maior é o espaço que as empresas têm para reajustar preços e, assim, aproveitar o aumento do consumo.
A reunião da semana passada foi a primeira depois de divulgados os dados do PIB (Produto Interno Bruto) neste começo de ano -o país cresceu 0,3% no primeiro trimestre, pior resultado desde o segundo trimestre de 2003. O crescimento, que em 2004 foi de 4,9%, pode cair a 2,8% neste ano, segundo previsão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ligado ao Planejamento).
Além da desaceleração da economia, o BC citou como positivo o resultado da inflação do mês passado: o IPCA registrou alta de 0,49%, contra 0,87% em abril.
A melhora nas expectativas do mercado em relação ao comportamento da inflação é outro fator citado como positivo pelo BC. Entre as reuniões de maio e junho do Copom, a estimativa média dos analistas de mercado -coletadas pelo BC- caiu de 6,4% para 6,2%. Embora pequeno, o recuo significou uma reversão na tendência de alta de três meses.
A principal ameaça para a concretização de um cenário mais favorável ao controle da inflação, na avaliação do BC, é o preço do petróleo, que ontem chegou a bater em US$ 60 em Nova York: "Esse aspecto (...) passou a representar um risco maior para a trajetória futura da inflação do que havia sido avaliado na reunião de maio".
O BC diz que esse movimento não deve resultar em reajustes dos combustíveis no Brasil, mas que os preços dos derivados de petróleo podem ser afetados.


Leia a íntegra da ata do Copom www.folha.com.br/051741

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