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Aperto fiscal do governo despenca em maio
Economia destinada ao abatimento da dívida pública deverá ter o pior resultado para o mês desde o início da gestão Lula, em 2003
Com efeito da crise, superávit
primário deve cair para perto
de zero ou mesmo ficar
negativo, apesar do reforço
de recursos vindo das estatais
GUSTAVO PATU
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Prestes a serem divulgadas
oficialmente, as contas do Tesouro Nacional no mês de maio
mostram uma piora mais aguda
que a já esperada em razão dos
efeitos da crise econômica.
Os dados, ainda não fechados
pela área técnica, apontam um
superávit primário -a parcela
das receitas poupada para o
abatimento da dívida pública-
próximo de zero, com possibilidade até de déficit. Nesse tipo
de balanço, não são incomuns
variações na casa de R$ 1 bilhão
para baixo ou para cima, conforme os critérios adotados.
Segundo a Folha apurou, o
resultado só não será pior graças à ajuda das empresas estatais, que pagaram no mês passado R$ 3,6 bilhões em dividendos ao governo federal, um
volume recorde para o período
e equivalente ao triplo do registrado em maio do ano passado.
Apesar desse reforço, é provável que o resultado de maio
seja o pior para o mês desde,
pelo menos, o início da administração petista, em 2003. O
último déficit para um mês de
maio data de 1998, último ano
antes do início da política de
superávits primários destinada
a controlar a dívida pública.
Mais importante que o número final é a tendência revelada pelas principais receitas e
despesas -enquanto as primeiras não apresentaram a recuperação esperada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva,
as segundas se mantêm em alta, mesmo antes da entrada em
cena dos novos gastos criados
para amenizar a recessão.
Como já anunciado pelo governo na semana passada, a arrecadação de impostos e contribuições sociais caiu 6% em
relação ao mesmo mês do ano
passado, já descontada a variação da inflação. Ou, como descreveu o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), R$ 3 bilhões abaixo da estimativa
mais pessimista feita pelo governo neste ano.
Essa perda foi amenizada,
mas não revertida, pelos dividendos excepcionais, ainda
mais em época de lucros mais
magros, pagos por empresas
como Petrobras, Eletrobrás e
Infraero a seu principal acionista, o Tesouro Nacional.
Já os compromissos com a
folha de pagamentos do funcionalismo público, os programas
sociais, o custeio administrativo e os investimentos se mantiveram nos mesmos patamares
do mês de abril, o que significa
um aumento real próximo dos
12% na comparação com maio
do ano passado. Não por acaso,
o governo voltou a falar em
corte de gastos.
Tanto despesas como receitas, conforme valores preliminares, ficarão em torno dos R$
56 bilhões no mês. Com cifras
dessa magnitude -trata-se de
verba suficiente para manter o
Ministério da Saúde por praticamente um ano todo- e diferentes metodologias à disposição, o resultado primário pode
ser mais ou menos favorável.
Em fevereiro passado, por
exemplo, o Tesouro contabilizou um déficit primário de R$
1,1 bilhão, o primeiro para o
mês no governo Lula. Poucos
dias depois, por outro sistema
de cálculo, o Banco Central
apurou que houve um superávit de R$ 903 milhões.
Como a meta deste ano foi
reduzida para injetar mais dinheiro na economia, os números de maio são menos preocupantes. Pretende-se obter no
ano um superávit de R$ 27,2 bilhões, pouco mais de 4% de um
Orçamento de R$ 620,4 bilhões à disposição da União. Só
no primeiro quadrimestre, o
saldo chegou a R$ 22,4 bilhões.
No entanto, ainda precisam
ser acomodados na contabilidade gastos novos -como os
R$ 6 bilhões em subsídios para
financiar a casa própria para
famílias de baixa renda-, e os
resultados do segundo semestre caem naturalmente em razão do 13º salário para o funcionalismo e os aposentados.
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