São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Lula diz que dar dinheiro a pobre é melhor que desonerar

Presidente, porém, não disse se irá suspender a redução do IPI sobre veículos

Para Lula, o governo deveria parar de desonerar produtos e dar dinheiro diretamente aos pobres com o objetivo de estimular a economia


Rafael Andrade/Folha Imagem
O presidente Lula enxuga o olho durante solenidade no Rio

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem, no Rio, a substituição da política de desoneração de impostos de produtos industriais, praticada pelo próprio governo, pela transferência direta de dinheiro aos pobres, como mecanismo de estímulo à economia. Em discurso no lançamento do projeto de Revitalização da Zona Portuária do Rio, Lula disse que sua gestão já desonerou o equivalente a R$ 100 bilhões em impostos. Para ele, porém, o repasse do montante à população pobre seria uma medida mais eficiente.
Tal mecanismo já é adotado pelo governo por meio do Bolsa Família, que destina de R$ 62 a R$ 182 mensais a famílias de menor renda e com crianças em idade escolar. Para 2009, o orçamento do programa é de R$ 12 bilhões.
O presidente reclamou ainda que a redução de impostos não se reflete no preço final. "Tenho tido reuniões no Ministério da Fazenda e dito que, em vez de ficar desonerando o tanto que está desonerando, é melhor pegar esse dinheiro e dar ao pobre. Se os pobres tiverem dinheiro e forem comprar, vocês [empresários] terão de produzir. A gente desonera e vocês não repassam para o custo dos produtos", disse.
Pelos dados da Fazenda, só com os recentes programas de desoneração de veículos, eletrodomésticos da linha branca e artigos da construção civil, o governo já perdeu R$ 1,6 bilhão em arrecadação. Todos os programas foram lançados para dinamizar a economia.
"Perdi R$ 40 bilhões [com o fim da CPMF] para cuidar de saúde e não vi ninguém reduzir 0,38% da CPMF nos [preços dos] produtos. A gente queria levar médico e dentista para cuidar da criança na escola. Se deixar R$ 40 bilhões na mão do Lula, ele vai ganhar as eleições. Ganhei e vamos ganhar de novo!", disse.

Indefinição
Apesar das críticas, o presidente não revelou se vai suspender as desonerações, inclusive a do IPI sobre veículos, cujo término está previsto para o fim deste mês. Lula disse que a pessoa com poucos recursos não poupa. "Imagine R$ 100 bilhões na mão do pobre. Cada R$ 1 que der na mão do pobre, ele volta automaticamente para o comércio, para o consumo, nem que seja para tomar uma canjebrina [cachaça]. Não vai para o banco nem para derivativos."
Ao mesmo tempo em que ponderava sobre a desoneração, Lula disse que a medida obteve resultados positivos. "Nesta crise agora, quando desoneramos o IPI da linha branca e da indústria automobilística, vemos a recuperação da indústria automobilística e de geladeiras, fogões e máquinas de lavar, e de construção civil. Essas coisas acontecem de forma positiva quando se tem uma crise como esta e se reduz impostos para fazer vender."
Colaborou PEDRO SOARES, da Sucursal do Rio



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