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Na crise, empresas nacionais superam múltis em Cannes
Entre as brasileiras, redes voltadas à classe C predominam no evento de publicidade
Tendências mostradas no festival são difíceis de serem adotadas no Brasil, dizem executivos, porque novas tecnologias não se firmaram
CRISTIANE BARBIERI
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Diferentemente de 2008,
quando grandes anunciantes
globais presentes no Brasil
mergulhavam nas novidades da
comunicação no Festival Internacional de Publicidade de
Cannes, neste ano legítimas
empresas nacionais frequentaram o evento.
Apesar de terem verbas
maiores, as grandes multinacionais vivem a crise de maneira muito mais intensa em suas
matrizes, dizem os publicitários. Mesmo sem terem sido
atingidas da mesma maneira
no Brasil, muitas subsidiárias
tiveram de cortar gastos -e
Cannes foi um deles.
Nesta edição é possível cruzar pelos corredores do festival
com empresários e executivos
de companhias brasileiras de
vários setores. A maioria, no
entanto, com características
comuns: vendem produtos de
consumo e têm forte presença
na classe C, exatamente a que
mais cresce no país.
Flávio Rocha, da Riachuelo, e
Alexandre Costa, da Cacau
Show, estão pela primeira vez
no festival e cumpriram um calendário completo de seminários. Já Marcel Sacco, diretor
de marketing da Schincariol,
foi a Cannes pela segunda vez e,
apesar de decepcionado com
algumas palestras, passaria a
tarde de ontem assistindo aos
filmes de sua categoria.
"Quem trabalha com produtos de consumo de massa e tem
um concorrente com grande
concentração de mercado [a
AmBev], como é o nosso caso,
precisa estar atento aos recursos criativos", diz Sacco. "Aqui
se percebe que o fundamental
não é o dinheiro, mas surpreender e atrair pela criatividade."
O discurso variava um pouco
de setor para setor, mas as
perspectivas eram mais ou menos as mesmas. "Para mim, que
estou crescendo rápido, é muito importante a construção da
marca", diz Costa.
Segundo ele, até pouco tempo atrás os investimentos feitos
na Cacau Show iam para fábricas e máquinas. "Na hora de colocar dinheiro em algo menos
tangível, como propaganda, é
essencial ter uma visão clara do
que será feito", afirma. "Se errar a mão, é muito dinheiro jogado no lixo, e nós não temos
matriz americana ou francesa
que mande 30 milhões na hora do aperto."
Na hora em que conversou
com a Folha, Costa tinha acabado de assistir a um seminário
da Coca-Cola -e chorado com
o filme que assistira. Segundo
ele, são exatamente ideias como as apresentadas pela fabricante de refrigerante, que provocam emoções, que sua empresa busca.
"Vamos tentar trilhar o mesmo caminho de Zara e Havaianas, sem o esnobismo da classe
AAA, mas sem virar extremamente popular", diz ele. "É
uma linha tênue, mas acredito
que o festival pode nos ajudar a
buscar a direção."
Mídia
Apesar de aproveitarem a
oportunidade de aprendizado,
os anunciantes afirmam que
muitas das tendências mostradas em Cannes ainda são difíceis de serem adotadas no Brasil nas áreas em que atuam.
As mídias tradicionais, como
jornais, TVs e revistas, são muito fortes entre os consumidores. Já os recursos de interatividade, as comunidades virtuais e
o uso de novas tecnologias ainda não têm no país a mesma
força que demonstram no resto
do mundo.
"À medida que a acessibilidade for se acelerando no Brasil,
teremos como potencializar
nossa criatividade, e será um
jeito muito bom de atingir as
massas", diz Sacco. "Por enquanto, é algo distante de nossa
realidade", afirma.
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