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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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DOSE HOMEOPÁTICA

Juros seguem altos para o setor produtivo, revela estudo

Para empresas, custo dos empréstimos quase não cai

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As empresas ainda vão pagar caro se necessitarem de recursos no mercado. A redução da taxa de juros, anunciada ontem pelo governo, cria só um "alívio quase insignificante" para as contas do setor privado, disse Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
A taxa média para as companhias captarem recursos de bancos, por exemplo, deve ficar agora em 5% ao mês (80% ao ano, contra Selic de 24,5%). Antes da redução de 1,5 ponto percentual anunciada ontem pelo BC, a taxa mensal era de 5,12%, em média, informa levantamento da Anefac.
Na maioria das modalidades (desconto de duplicatas, cheque especial para companhias, entre outros), a queda média dos juros, ao mês, deverá ser de 0,1 ponto percentual. Exemplo: se a empresa necessitar de recursos urgentes para capital de giro, por exemplo, ela deverá pagar 4,47% ao mês agora. No mês passado, a taxa era ligeiramente maior, 4,57%.
Se a empresa tiver de entrar no cheque especial, possivelmente arcará com juros de 5,92% ao mês. Antes do corte da taxa básica, esse percentual era de 6,02% ao mês.

O tamanho da conta
Por meio de uma simulação calculada pela Anefac, a pedido da Folha, é possível ver o tamanho do impacto da redução nas taxas nas contas das empresas.
Um empréstimo de R$ 1 milhão -realizado para aumentar o capital de giro de uma companhia- vai custar, ao final de um ano, cerca de R$ 1,690 milhão.
O mesmo recurso (R$ 1 milhão) obtido antes do corte anunciado ontem custava para a empresa R$ 1,709 milhão. O cálculo é feito para uma captação com vencimento em 12 meses.
O empréstimo ainda pode ser feito no exterior, por meio de captações com bancos em outros países. As companhias brasileiras de grande porte têm pago taxas de 3% a 6% ao ano, dependendo das características da captação (prazo de vencimento, risco de inadimplência, porte da empresa etc).
Com uma taxa de 6% ao ano, por exemplo, a companhia pagará no exterior, pelo mesmo R$ 1 milhão emprestado, bem menos. Será R$ 1,060 milhão ao final de um ano. Bancos japoneses e alemães têm, aos poucos, liberado linhas de crédito para empresas brasileiras.
Mas há uma questão relevante. No último trimestre, apenas empresas de primeira linha, ou seja, fortemente exportadoras e em crescimento, conseguiram recursos no exterior a taxas baixas.
Além disso, há um ponto a ser considerado, informam os economistas. Nem sempre a redução na taxa de juros -calculada em levantamentos por entidades- ocorre na prática.
Essa queda de 0,1 ponto percentual em algumas operações de crédito pode nem mesmo chegar ao setor privado. Mas também nada impede que seja maior do que isso.
Tudo depende da posição a ser tomada pelos bancos. Ontem, as instituições informaram que ainda devem discutir o tema.
Apenas as financeiras, que oferecem crédito para compras a prazo em lojas, disseram que podem repassar a queda.
Na última redução nas taxas de juros anunciada pelo governo -de 0,5 ponto percentual, em junho-, houve uma pequena redução nas taxas cobradas pelos bancos às empresas. Mas em poucas instituições. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, reduziu a taxa para empréstimos para capital de giro na época. O banco Itaú também promoveu cortes e afirmou que a idéia era continuar a repassar eventuais novas reduções ao mercado.


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