São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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BC age "tempestivamente" e eleva aperto

Após aumento das previsões do mercado para inflação, BC intensifica alta dos juros e sobe Selic em 0,75 ponto, para 13%

Decisão do Copom foi unânime; Meirelles já havia sinalizado que banco faria o que julgasse ser "necessário" para combater inflação

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central acelerou o ritmo do aperto monetário iniciado em abril e elevou ontem os juros básicos da economia em 0,75 ponto percentual. Com o aumento, a taxa Selic passou de 12,25% ao ano para 13%, mesmo nível observado em março do ano passado.
A decisão foi tomada por unanimidade pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que, por meio de nota, informou que o objetivo da medida é "promover tempestivamente a convergência da inflação para a trajetória de metas". Nas duas reuniões anteriores, a alta foi de 0,5 ponto percentual.
No mercado financeiro, a maior parte dos analistas apostava em mais uma elevação de 0,5 ponto, embora alguns não descartassem a possibilidade de uma alta de 0,75 ponto devido às pressões que ainda se observam sobre a inflação, notadamente nos preços do atacado, que ainda podem ser transmitidos ao varejo.
A decisão do BC indica que a série de altas pode se encerrar mais cedo do que se imaginava -o Copom pode optar por fazer um aumento maior mais rapidamente do que fazer ajustes graduais por um período mais longo. Até ontem, a expectativa era que a taxa Selic continuasse subindo até janeiro do ano que vem, mas agora essas projeções devem ser revistas.
Outra indicação é a de que, apesar de sinais isolados de que a alta dos preços pode estar perdendo força, o BC ainda está bastante preocupado com o ritmo vigoroso do crescimento econômico.
No setor privado, o pessimismo já vem aumentando há algum tempo: pesquisa feita pelo próprio BC todas as sextas com bancos e consultorias mostra que, há 17 semanas, a projeção do mercado financeiro para a inflação (IPCA) tem subido seguidamente, chegando a 6,53% no levantamento mais recente -acima, portanto, dos 6,50% estabelecidos pelo teto da meta de inflação do governo, de 4,5% com dois pontos de tolerância. No acumulado dos últimos 12 meses, está em 6,06%.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, vinha sinalizando em discursos recentes sua maior preocupação principalmente com as expectativas para o IPCA em 2009, cuja meta é igual à deste ano. Na semana passada, Meirelles disse que o BC "fará o que for necessário, enquanto for necessário" para levar a inflação para a meta.
Desde março, quando a série de elevação dos juros teve início, o BC se diz preocupado com o nível de atividade, principalmente em relação ao consumo interno, que tem sido estimulado pela expansão do crédito e da renda da população. O risco seria o de o consumo crescer mais do que a capacidade das empresas de produzir, o que aumenta a possibilidade de reajustes de preços.
Esse problema teria se agravado, na visão do BC, com o aumento registrado por alguns produtos no mercado internacional, como alimentos e petróleo. A saída seria, então, colocar um freio na economia para reduzir o espaço que esses reajustes teriam para se disseminar para outros preços.
De lá para cá, porém, não há sinais de que a economia esteja desacelerando. As vendas no varejo, por exemplo, continuaram em alta em maio, crescendo 10,5% em relação ao resultado de maio de 2007. A utilização da capacidade instalada da indústria medida pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) ainda se mantém em níveis historicamente altos.
Já a inflação propriamente dita, por outro lado, começa a apontar para uma certa estabilidade. No mês passado, o IPCA subiu 0,74%, acima do 0,28% de junho de 2007, mas ligeiramente menor que o 0,79% de maio. O problema é que ainda não se sabe se o resultado de junho foi um caso isolado ou o início de uma trajetória real de queda da inflação. Como a economia pode levar mais de um ano para sentir, por completo, a alta dos juros, o BC aumenta a Selic hoje pensando no impacto dessa decisão no futuro.


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