São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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Juro não afetará investimentos, diz BNDES

Para Luciano Coutinho, presidente do banco, retorno de apostar no Brasil continuará "muito atraente" para as empresas

No caso da TJLP, taxa de longo prazo adotada pelo BNDES nas linhas de crédito, juro está negativo, se for descontada a inflação

Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem
Luciano Coutinho, do BNDES, durante evento ontem em SP

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Luciano Coutinho, presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), minimizou ontem o impacto do aumento da Selic nos planos de investimentos das empresas no Brasil.
Segundo ele, embora afete o crédito, a elevação da taxa básica de juros da economia pelo Banco Central não deve desanimar as empresas nas suas decisões de investir no país.
"Acho que o investimento será pouco sensível [ao aumento da Selic] porque o retorno é muito atraente. O cálculo de longo prazo do planejamento das companhias pode admitir um processo de subida e posterior baixa de juros", disse ele durante participação em evento, em São Paulo, ontem pela manhã, antes do anúncio da alta de juros do Copom.
"As empresas estão reinvestindo os seus próprios recursos.
Há os financiamentos do BNDES -não só para as grandes mas para as pequenas e médias também. Além disso, as companhias podem buscar o mercado de capitais, que, no Brasil, não foi contaminado pela crise internacional." Na opinião do economista, uma desaceleração da taxa de crescimento do crédito para "algo próximo a 20% ao ano" é até "desejada". Nos últimos meses, o ritmo chegou a 33% ao ano, de acordo com ele. Coutinho também acredita que seria "mais saudável" para a economia brasileira se a taxa de elevação do consumo das famílias se mantiver entre 6,5% e 7% -no último trimestre de 2007, ficou em 8,6%, mas recuou para 6,6% no período de janeiro a março deste ano.
Coutinho afirmou ainda que a crise mundial que teve início com os problemas no segmento de hipotecas de alto risco nos EUA será "mais ou menos" profunda e terá duração superior à esperada. A desaceleração do crescimento global pode trazer, entretanto, algumas conseqüências positivas para o Brasil se fizer diminuir a pressão das commodities, que explica boa parte da inflação registrada nos últimos meses.

TJLP
A TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que é utilizada como referência nos empréstimos concedidos pelo BNDES, foi mantida, no começo do mês, em 6,25% ao ano pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Considerando a projeção do mercado para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 2008, de 6,53% segundo a pesquisa Focus, realizada pelo Banco Central, a remuneração cobrada pelo BNDES já é negativa.
"Por isso, diversas empresas estão até aplicando o dinheiro obtido no mercado financeiro no período entre a liberação dos recursos e a sua efetiva utilização", afirma Ricardo Humberto, professor de finanças da FIA (Fundação Instituto de Administração).
Humberto discorda da avaliação de Coutinho quanto às conseqüências do aumento da Selic para o investimento. "A janela para as empresas fazerem IPOs [abertura de capital na Bolsa de Valores] está fechada, e o custo para captar recursos subiu", ressalta.


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