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Excedente de urânio pode ser exportado
Governo estuda vender ao mercado externo o que o país não consumir
Sérgio Rezende, ministro da Ciência e Tecnologia, diz que outra opção é usar produção extra para a formação
de estoques estratégicos
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O contrato assinado ontem
na primeira parceria com a iniciativa privada para a exploração de urânio no país prevê a
produção de excedentes "exportáveis" de combustível nuclear a partir de 2012.
A usina de Itataia, no município de Santa Quitéria (CE), explorada numa associação das
Indústrias Nucleares do Brasil
(estatal federal) com o grupo
privado Galvani, vai quadruplicar a atual produção de urânio
já na primeira fase do empreendimento.
Considerando a conclusão de
Angra 3 em 2014, o país passará
a consumir na próxima década,
considerando as três usinas,
cerca de 600 toneladas por ano
de concentrado de urânio. As
futuras quatro usinas previstas
no programa nuclear para os
próximos 20 anos consumirão
150 toneladas cada uma, segundo previsão das INB.
Com a exploração da jazida
cearense, já a partir de 2012, a
produção de urânio deverá chegar a 1.600 toneladas por ano.
E, cinco anos depois, a expectativa é que a produção alcance
2.000 toneladas por ano. Atualmente, a produção anual brasileira é de 400 toneladas.
Apesar da previsão de excedentes daqui a três anos, o debate no governo sobre a exportação de urânio enriquecido
ainda está em aberto. "Ainda
não há decisão sobre se poderemos exportar ou não, mas haverá produção de excedentes",
disse Alfredo Tranjan Filho,
presidente da estatal responsável pela cadeia produtiva do
urânio.
"É uma decisão que precisa
ser tomada nos próximos três
anos", disse o ministro Sérgio
Rezende (Ciência e Tecnologia) sobre a possibilidade de exportação dos excedentes. Ele
defende que a produção extra
seja usada também para a formação de estoques estratégicos
no Brasil.
Segundo o ministro, o comitê
de desenvolvimento do programa nuclear ainda não discutiu
o que fazer com o urânio produzido em Santa Quitéria porque, quando se reuniu pela última vez, ainda era recente o
anúncio do resultado da licitação ganha pelo grupo Galvani.
O resultado foi contestado pelas empresas Vale e Bunge, que
também disputaram o negócio.
O presidente da Aben (Associação Brasileira de Energia
Nuclear), Guilherme Camargo,
defende a exportação. "Não faz
o menor sentido produzir pelo
menos mil toneladas de excedentes de concentrado de urânio por ano para estocarmos. A
saída óbvia é exportar. A conta
é muito simples."
Falta consenso também sobre a necessidade de mudanças
legais para o país exportar combustível nuclear. Para Rezende,
é necessária uma emenda à
Constituição. O presidente da
Aben diz que basta um decreto.
Na jazida de Itataia, o urânio
está associado ao fosfato, matéria-prima na produção de fertilizantes agrícolas.
O negócio permitirá reduzir
as importações do produto, que
representam metade do consumo nacional. O contrato tem
prazo de 25 anos.
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