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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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TRABALHO

Estudo do BNDES revela que setor automotivo, que acaba de receber incentivo, tem baixo potencial para abrir novas vagas

Investimento em serviço cria mais emprego

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os seis setores que têm mais potencial para criar empregos no país são os de serviços (saúde, educação e lazer), o agropecuário, o de madeira e mobiliário, o de calçados, o de vestuário e a indústria do café. Já as indústrias de automóveis, caminhões e ônibus, de equipamentos eletrônicos, de produtos químicos, de artigos plásticos e de borracha têm menor potencial para empregar.
Essa é a conclusão de um estudo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) feito com 41 setores da economia brasileira, com dados do IBGE de 2001, atualizados em fevereiro deste ano. O banco considerou a hipótese de cada setor receber uma injeção de R$ 10 milhões na produção.
O trabalho, coordenado por Sheila Najberg, chefe do departamento econômico do BNDES, mostra que os setores mais intensivos em mão-de-obra e aqueles nos quais predominam as pequenas empresas -como os serviços prestados à família (saúde, educação e lazer)- são mais capazes de elevar o número de vagas.
Para fazer o ranking dos setores mais e menos empregadores, o estudo considerou o emprego direto, o indireto e o criado a partir do efeito renda (aumento do consumo em outros setores como resultado da elevação da renda).
Se estimulado com R$ 10 milhões, o setor de serviços prestados à família criaria mais empregos diretos (625) do que indiretos (118). O número de vagas abertas com o efeito renda seria de 338. Na indústria de petróleo e gás, o impacto já seria menor nos empregos diretos (13) do que nos indiretos (95). Os postos de trabalho criados com o efeito renda somariam 356.
No estudo anterior, de 2001, o setor de vestuário aparecia em primeiro lugar como o maior criador de vagas, com 1.575 empregos. Neste ano, aparece em quinto lugar, com 885 empregos.
"Os setores mais fortes em pequenos estabelecimentos, que exigem mão-de-obra menos qualificada e pagam salários menores, tendem a ter mais participação no aumento do emprego, caso do setor de serviços prestados à família", diz Najberg.
Em comparação com o estudo de 2001, não há mudanças significativas na posição dos setores no ranking. O que se nota é uma diminuição no potencial de vagas criadas com o estímulo à produção. O setor agropecuário, que, pela simulação deste ano, tem potencial para criar um total de 986 empregos, tinha, há dois anos, capacidade de abrir 1.193 vagas.
"A abertura da economia brasileira e a globalização exigem que as empresas trabalhem cada vez mais de forma eficiente, o que, muitas vezes, significa a substituição de mão-de-obra por máquinas. A tendência, portanto, é o emprego diminuir mesmo", afirma Najberg.

Baixo potencial
O setor da construção civil, citado normalmente como um dos principais criadores de emprego na economia, não aparece nem entre os dez primeiros -ocupa o 16º lugar (ver quadro).
Esse setor, segundo o BNDES, é mais gerador de emprego direto (185) do que de emprego indireto (95). Por ser uma atividade que emprega mão-de-obra não-qualificada e com baixos salários, segundo Najberg, tem menos impacto na economia.
A indústria automobilística, que acabou de receber um estímulo do governo para elevar a produção (a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados), figura como um dos setores que têm menos potencial de empregar, segundo o BNDES.
Um acréscimo de R$ 10 milhões na produção criaria um total de 361 empregos -15 diretos, 126 indiretos e 220 pelo efeito renda. A explicação é que esse é um dos setores que, ao se modernizar, substitui cada vez mais a mão-de-obra por equipamentos. É um setor, porém, que paga salários mais elevados e que, por isso, é capaz de ter impacto na demanda de outros setores da economia.
Apesar de esse estudo ser uma referência para os rumos de uma política industrial para o governo, a chefe do departamento econômico do BNDES afirma que o emprego não deve ser o único critério utilizado para definir uma política setorial para o país.
"O governo não pode ter uma visão simplista e apoiar só os criadores de emprego. É preciso estudar a estabilidade do emprego, a sua remuneração e a sua qualidade. A indústria automobilística, por exemplo, não cria grande número de vagas, mas estimula outros setores", afirma Najberg.
Se quer elevar as suas exportações para melhorar o saldo da balança comercial, o país deve estimular os setores capazes de aumentar as vendas externas. "O emprego é uma variável importante para a política do governo, mas não pode ser a única."
Os maiores geradores de emprego, diz Fábio Silveira, economista da MB Associados, são os setores que têm baixa produtividade e baixos salários e que agregam pouco valor à economia.
"Esses setores não podem, portanto, servir de critério único para definir uma política setorial", afirma. "É preciso considerar também a competitividade, o padrão tecnológico e o potencial exportador dos setores."
A cadeia produtiva deve ser considerada, diz, na hora de o país preparar a política setorial.

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